Título: BC reforça limites para dólar e inflação
Autor: De Castro, José; José Oliveira, João
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Finanças, p. C2

Se ainda havia dúvidas sobre a vontade do Banco Central de manter a cotação do dólar acima de R$ 2,02 ou sobre o foco da instituição com relação ao sistema de metas de inflação, elas diminuíram ontem. Mesmo em uma sessão dominada pela procura pela moeda americana por causa da maior aversão a risco no mundo, a autoridade monetária não vacilou e atuou pela primeira vez desde 5 de outubro para manter intocado o piso da flutuação do câmbio aqui. O dólar fechou em alta de 0,15%, a R$ 2,0280. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato para novembro recuou 0,09% para R$ 2,030.

Com presença na manhã, o Banco Central vendeu 33 mil contratos de swap cambial reverso - o equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro. O volume de US$ 1,648 bilhão correspondeu a cerca de metade dos 60 mil contratos ofertados. Foram colocados 17 mil contratos para dezembro de 2012 e 16 mil para janeiro de 2013.

Profissionais não descartam que até o fim deste mês o BC atue novamente para completar a rolagem de US$ 2,99 bilhões de contratos que vencem em 1º de novembro. "E ele pode fazer isso num leilão só, por exemplo, ofertando 50 mil contratos. Uma parte seria para o restante da rolagem e outra seria uma oferta líquida", avalia o operador da Icap Italo Abucater.

Operadores dizem que a oferta líquida ou superior a esse patamar de swaps está condicionada a uma pressão maior ou menor de queda sobre o dólar. Mas o que os dados de Transações Correntes divulgados pelo BC on tem sinalizaram é que as entradas de divisas estrangeiras ganham força. Entre 15 e 19 de outubro, o fluxo cambial foi positivo em US$ 2,904 bilhões, levando o saldo no acumulado do mês a ficar positivo em US$ 1,585 bilhão. Até então, as saídas superavam as entradas no mês em US$ 1,319 bilhão.

No ambiente externo, a preocupação dos investidores cresceu: o banco central espanhol afirmou que a recessão vai continuar, enquanto nos EUA, mais balanços corporativos reforçaram o cenário de atividade fraca no terceiro trimestre.

Esse quadro de aversão a risco lá fora derrubou os juros dos títulos do governo americano, com reflexos nas taxas negociadas na BM&F, onde as taxas de vencimentos mais longos caíram e acabaram anulando eventuais ajustes para cima que poderiam surgir depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, falou em evento em São Paulo.

Ele reforçou que "nos próximos anos, a política monetária continuará sendo conduzida tendo como foco, exclusivamente, o compromisso com a estabilidade de preços, seguindo a abordagem das metas para a inflação".

A queda dos juros atingiu também o mercado de títulos públicos. Em leilão realizado ontem pelo Tesouro Nacional, com oferta de 750 mil Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B, papéis federais atrelados à inflação), as taxas de rendimento recuaram.

No caso das NTN-Bs com vencimento em 2016, a taxa de 2,60% foi inferior ao juro de 2,68% no leilão de 9 de outubro e 3,39% de 12 de setembro. Os papéis para 2022 caíram de 4% em setembro para 2,39% ontem.