Título: Tombini enfatiza compromisso com a meta
Autor: Travaglini, Fernando; Pacheco, Felipe
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, fez um discurso bastante incisivo ontem, em São Paulo, para reforçar o compromisso da autoridade monetária com o regime de metas e com a busca da convergência da inflação para o centro de seu objetivo, de 4,5%.

Não por acaso, a palavra meta foi citada 11 vezes ao longo de uma fala de cerca de meia hora, seja para se referir à inflação convergindo para a meta, seja para ressaltar que o BC se mantém fiel ao regime de metas.

"É possível haver divergências entre analistas sobre números projetados [para a inflação] ou sobre a interpretação de choques de oferta, mas o Banco Central sempre trabalhará dentro do arcabouço canônico do regime."

Tombini voltou a repetir que o processo de convergência dos preços pode não ser linear, mas destacou que o índice caminha para a convergência. "É importante destacar [que a aceleração do crescimento] irá se materializar em ambiente com a inflação sob controle; e se deslocando na direção da trajetória de metas, ainda que de forma não linear", disse o presidente do BC.

Outros dois objetivos da fala de Tombini ontem foi, primeiro, reforçar a visão do BC de que o crescimento mundial se manterá baixo por um "período prolongado de tempo" A segunda intenção foi executar um papel que tem sido cada vez mais comum nos discursos do BC: fomentar os empresários e banqueiros - presentes ao evento de ontem na sede da editora Abril - a prestar "mais atenção às boas perspectivas da economia brasileira e às oportunidades que estão surgindo no nosso país".

"Há sinais consistentes de que a retomada do crescimento econômico está em curso e o país vem adotado importantes medidas para aumentar a produtividade e a competitividade da nossa economia. E isso acontece em um ambiente de inflação sob controle."

O recado foi direto para o setor produtivo, que teima em não investir. Como ressaltou o presidente do BC, o principal canal de transmissão da crise tem sido a confiança do empresariado. Até por isso, o governo tem insistido em tentar reanimar o chamado "espírito animal" dos capitalistas brasileiros. "O crescimento econômico do país está acelerando e deveremos crescer em termos anualizados em torno de 4% no segundo semestre do ano e em 2013", reforçou Tombini.

Além da demanda, que continua robusta, Tombini citou as medidas do governo na direção de ampliar a oferta e a produtividade da economia - incluindo o trabalho do BC de reduzir a Selic em 5,25 pontos além da flexibilização do depósito compulsório - como fatores que sustentam a retomada.

Mas o que tem tirado o sono dos empresários brasileiros é o cenário externo e, nesse campo, a fala de Tombini não foi muito animadora. Segundo ele, a perspectiva no cenário internacional continua sendo de baixo crescimento econômico por um "período prolongado", percepção ressaltada, segundo ele, depois das reuniões do FMI e do Banco Mundial, em Tóquio.

Tombini avalia que a Europa continua sendo a principal fonte de preocupação. Ele observou que houve avanços importantes, mas, "não são soluções prontas e definitivas, capazes de restabelecer de uma hora para outra uma dinâmica de crescimento sustentável."

Sobre os Estados Unidos, disse que os dados recentes mostram alguns sinais de recuperação da economia, mas que não parecem sustentáveis. "É importante ressaltar que essa melhora nos indicadores parte de um patamar extremamente baixo, não havendo ainda sinais consistentes de que se trata de um processo sustentável."

Quanto à China, o presidente do BC avalia que permanece a expectativa de "pouso suave", mas fez uma advertência. "A propósito, há uma percepção, a meu ver extremada, de que a economia brasileira é dependente da economia chinesa." Ele justifica o "extremada" dizendo que o Brasil ainda é uma economia relativamente fechada, com as exportações representando 10,7% do PIB, sendo menos de 2% do PIB para o gigante asiático.

Tombini aproveitou ainda o discurso para repassar posições que o BC defende há algumas semanas, como a de que o atual choque de commodities será "menos intenso" que o anterior "A evolução da inflação sugere que, em grande parte, os impactos desses choques de oferta já foram transmitidos para os preços ao consumidor; de modo que impactos remanescentes tenderiam a ser menores."

E mencionou ainda certo recuo em algumas commodities. "De modo geral, os preços das commodities têm mostrado certa estabilidade nos mercados internacionais, em alguns casos recentemente recuaram. Movimentos similares têm se registrado nos mercados domésticos, tanto em relação aos preços de produtos in natura quanto em relação aos de grãos."

Na medida em que essa acomodação de preços no atacado se consolidar, diz ele, o curso natural e esperado dos eventos aponta, nos próximos meses, moderação dos preços ao consumidor.