Título: Em 2006, indústrias perdem até 10% do volume exportado
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Brasil, p. A3

A valorização do real provocou estragos nas exportações brasileiras de produtos manufaturados com reduções efetivas nas quantidades embarcadas de alguns setores importantes para a balança comercial do país e para a geração de empregos. Ao mesmo tempo, muitos setores conseguiram compensar essas perdas com aumentos expressivos do preços em dólar para seus produtos.

O volume exportado de automóveis caiu 8,5% em 2006 na comparação com 2005. Os fabricantes de máquinas e tratores enviaram 5% menos produtos ao exterior no ano passado. Em madeira e mobiliário, a queda na quantidade foi de 7,8%. O setor têxtil foi o que mais sofreu com baixa de 9,3% no volume. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

A comparação entre os dados do primeiro e do segundo semestre mostram que a perda de alguns segmentos intensificou-se na segunda metade do ano. O volume exportado de automóveis até junho ainda cresceu 0,6% em relação ao primeiro semestre para depois fechar o ano com queda de 8,5%. No setor têxtil, a mudança foi ainda mais drástica. Depois de elevar a quantidade embarcada em 4,5% no primeiro semestre, o setor vendeu 9,4% menos no acumulado de 2006 em relação a 2005.

Outros setores foram positivos no ano, mas com forte desaceleração entre alta do primeiro semestre e o acumulado do ano. O segmento de peças e outros veículos encerrou 2006 com aumento de 1,3% no volume embarcado, muito abaixo dos 11,4% acumulados até junho. Em equipamentos eletrônicos, o primeiro semestre encerrou com mais 10,6% e o ano, com apenas 4,2% de alta.

A análise do volume exportado expõe mais o impacto do câmbio no dinamismo das exportações. No ano passado, os reajustes de preços foram determinantes para garantir o bom desempenho das vendas de manufaturados. "É surpreendente a capacidade de repasse do câmbio das empresas brasileiras", diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex.

Com reajustes de 10% a 12%, um patamar bastante alto para produtos manufaturados, os setores de máquinas, veículos e móveis compensaram a queda do volume e mantiveram em alta o faturamento obtido com as exportações. O setor têxtil foi o único que não obteve um reajuste expressivo o suficiente e fechou o ano com queda de 3,6% no valor exportado.

Ribeiro acredita que o poder de barganha do Brasil é tão forte na hora de reajustar preços por conta do crescimento da economia mundial, particularmente da América Latina. Destinos importantes para os automóveis e as máquinas brasileiras, como Argentina e Venezuela, estão crescendo a taxas significativas. E o Brasil possui vantagens nesses mercados, como proximidade geográfica e acordos comerciais.

No ano passado, a moeda brasileira se valorizou 11,8% em relação ao dólar. Nos manufaturados, dois setores conseguiram resistir à perda de rentabilidade provocada pelo câmbio e aumentaram a quantidade exportada. O volume de exportações de calçados subiu 4% em 2006, e o de autopeças, 1,3%.

O levantamento da Funcex evidencia, porém, que o pequeno aumento na quantidade total exportada pelo país foi garantido pelos setores relacionados às commodities. O volume exportado de extrativa mineral subiu 5%, o de café, 6%, e o de celulose, 7%, entre outros.

resultado mais impressionante foi obtido pelo petróleo. Com o aumento da produção da Petrobras, a quantidade exportada de petróleo e carvão disparou 34%. O petróleo representou exportações de US$ 7 bilhões para o Brasil em 2006. Sua participação na pauta de exportação do país saiu de menos de 1% para 5% em cinco anos.

"Estamos assistindo a um claro impacto do câmbio nas exportações. A tendência é o crescimento da quantidade exportada de manufaturados ficar próxima de zero em 2007", diz Sérgio Vale, da MB Associados. O ritmo de alta no volume exportado de manufaturados caiu nos últimos anos. Após subir 21% em 2003, 26% em 2004 e 11% em 2005, foi de 2% em 2006.

Nos últimos dois meses do ano passado, a quantidade de produtos industrializados brasileiros vendidos no exterior chegou efetivamente a cair. O recuou foi de 2% em novembro e de 1,4% em dezembro, sempre na comparação com igual mês do ano anterior. Os economistas avaliam que ainda é cedo para cravar uma queda no volume exportado de manufaturados em 2007, mas não descartam essa hipótese.

Júlio Callegari, economista do banco J.P. Morgan, pondera que mais de 10% dos produtos classificados como manufaturados estão diretamente relacionados ao desempenho das commodities. É o caso de etanol, óleo de soja e alguns tipos de aço. "Enquanto alguns setores sofrem, esses itens acabam impulsionando o resultado total dos manufaturados", diz.

Callegari a pondera que o mais preocupante é a comparação do Brasil com o desempenho do mundo. Com uma performance fraca, o país perde espaço no mercado mundial. Em 2007, o volume de bens exportados no mundo, incluindo agricultura e indústria, deve crescer 7,6%, segundo previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).

As importações caminham no sentido inverso das exportações. É o outro lado dos efeitos do câmbio. Com exceção de petróleo e carvão (por conta da Petrobras) e abate de animais (cuja participação é ínfima nas importações), todos os setores apuraram aumento na quantidade importada. Em muitos casos, superior a 20%.

Em automóveis, a alta nos volumes comprados no exterior chegou a mais de 70%. Vários outros setores sentiram o impacto do câmbio: têxtil (38%), vestuário (24%), madeira (21%), material elétrico (23%), calçados (12%), máquinas e tratores (16%).