Título: PT apoia ex-adversários para derrotar tucanos no Estado
Autor: Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A8

Fora da disputa de segundo turno em quatro cidades de São Paulo, o PT aliou-se a antigos adversários na tentativa de enfraquecer seu principal adversário, o PSDB, e diminuir a capilaridade do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado. Para isso, apostou no fortalecimento da aliança com o PMDB e apoia prefeitos aos quais fez oposição nos últimos quatro anos - estratégia que, pelo menos segundo as pesquisas, pode dar certo daqui a dois dias.

Das doze cidades paulistas onde a disputa foi para o segundo turno, os petistas ainda disputam em sete. Em outra, Jundiaí, apoiam desde o primeiro turno o PCdoB. Nas quatro restantes, Sorocaba, Ribeirão Preto, Franca e Guarujá, aliou-se a legendas da base de apoio da presidente Dilma Rousseff para derrotar os tucanos. Destas quatro, o candidato escolhido só não lidera as pesquisas em Franca, onde apoia o PP contra o PSDB.

O cenário indica crescimento do PT no Estado, que até o momento conquistou 63 prefeituras - número praticamente idêntico de 2008, quando fez 64. O PSDB perdeu espaço, mas continua hegemônico - venceu em 173 das 645 cidades, o que representa 26,8% do Estado. Há quatro anos, porém, esse número era de 205 municípios.

Além de dificultar para o PSDB, o PT visa também, ao apoiar ex-adversários, entrar em cidades em que o eleitorado nunca lhe foi muito simpático ou em que perdeu força. É o caso de Ribeirão Preto, onde já elegeu o prefeito por duas vezes, com Antonio Palocci, mas desde a renúncia do petista, em 2002, para assumir o ministério da Fazenda no governo Lula, a sigla coleciona maus resultados - ficou de fora do segundo turno nas últimas três eleições.

Este ano, depois de lançar o juiz aposentado João Gandini, que terminou a disputa com 15% dos votos válidos, o partido irá apoiar a atual prefeita, Dárcy Vera, que elegeu-se pelo PFL em 2008 e migrou no ano passado para o PSD, legenda recém-fundada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e que, embora se diga independente no Congresso Nacional, tem votado ca favor do governo federal em projetos importantes.

Segundo o presidente municipal do PT em Ribeirão Preto, Pedro Jesus Sampaio, a aliança no segundo turno ocorreu em articulação mais ampla, para reforçar os laços com o PSD. "Sempre fomos oposição [à prefeita]. A situação tinha que ser muito drástica para o PT apoiar um governo do PFL, e quando ela mudou para o PSD, não houve discussão de aproximação nem nada", afirma, mas completa que o apoio ao adversário, o deputado federal Duarte Nogueira, que foi líder do PSDB na Câmara dos Deputados, era mais improvável. "A disputa ficou entre a oposição e um partido mais alinhado ao governo federal", resume.

O principal exemplo da estratégia do PT é Sorocaba, cidade de quase 600 mil moradores a 95 km da capital. Por lá, o partido nunca venceu a eleição para prefeito - o mais longe foi um segundo turno, há 20 anos. Desde então, o PSDB é soberano. Venceu as quatro eleições desde 1996 - a última com 79% dos votos. Este ano, a candidata do PT, Iara Bernardi, foi a menos votada dos quatro candidatos, com 10%.

"Não sei exatamente por qual motivo o eleitor de Sorocaba nunca escolheu o PT para governar. O partido é bem avaliado na cidade, temos um deputado estadual reeleito por cinco mandatos e elegemos a maior bancada da Câmara Municipal, mas na eleição majoritária não vamos bem", afirma o presidente da sigla no município, José Carlos Triniti.

Para contornar isso, a estratégia, por orientação da direção estadual, foi apoiar o ex-prefeito Renato Amaury, que governou a cidade por oito anos pelo PSDB, quando teve o PT na oposição. Sem espaço entre os tucanos para nova candidatura em 2012, Amaury filiou-se ao PMDB e agora fez aliança com os petistas.

O PMDB é o aliado preferencial em outra cidade onde o PT nunca governou, o Guarujá, com a prefeita Maria Antonieta, contra o ex-prefeito Farid Mari (PDT). Nessa cidade, porém, o apoio se deve mais à aliança nacional entre PT e PMDB do que a estratégia, e ao apoio que os pemedebistas deram à candidatura de Fernando Haddad (PT) na capital, do que a estratégia para enfraquecer a base de Alckmin.

Antonieta é mais próxima do governador tucano do que dos petistas e já causou polêmica ao dizer, em evento público, que tinha compromisso com a reeleição de Dilma em 2014, mas que não havia nada acertado sobre apoio à candidatura dos petistas ao governo do Estado.

O presidente municipal do PT, Newton Rafael Gonçalves, atenua a declaração. "Fizemos esse acordo em torno dos programas do PT, não sei do governo do Estado. Mas, com o [vice-presidente] Michel Temer no comando do PMDB de São Paulo, a tendência é replicar a aliança nacional por aqui", afirma.

O aliado PMDB, em processo de reestruturação no Estado depois da morte do ex-governador Orestes Quércia, já lançou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ao governo paulista em 2014. A candidatura, porém, é até bem-vista por alguns petistas, que acreditam ser preciso um terceiro candidato competitivo na disputa para que a eleição não acabe no primeiro turno.