Título: Lindbergh percorreu 66% dos municípios
Autor: De Moura, Paola
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A9

Foram 46 dias aparecendo na televisão pelo menos três vezes por dia em todas as inserções do PT no Estado do Rio, sem contar os dois horários eleitorais gratuitos diários, antes do primeiro turno. O senador Lindbergh Farias (PT) voltou ao ar, nestes últimos 15 dias, pedindo votos para os candidatos petistas nas sete cidade onde haverá segundo turno. O objetivo: tornar seu desejo de se candidatar ao governo do Estado mais real e consolidado para evitar que, em 2014, ocorra o mesmo que em 2010, quando, ainda deputado, foi impedido pelo PT de concorrer contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) em nome da aliança nacional que elegeu Dilma Rousseff presidente da República.

Desta vez, o senador quer chegar às prévias com aceitação em alta. Por isso, além da grande exposição na televisão, visitou 61 dos 92 municípios do Estado do Rio nestes dois meses de campanha, dando seu apoio aos candidatos do PT e de partidos coligados. Ao todo o PT conquistou 10 prefeituras e deve ganhar no domingo a de Niterói também, neste caso com o apoio de Cabral. Mas sua grande vitória foi em Macaé, onde venceu o candidato Dr. Aluísio (PV), apoiado por Lindbergh, contra Christino Áureo (PSD), ex-secretário de Agricultura de Cabral. "Dei um salto grande, avancei muito na exposição. Conquistamos prefeituras importantes. Além disso, tenho hoje o PT comigo, unificado. Tenho o apoio da Benedita [deputada federal Benedita da Silva] e do Luiz Sérgio [ex-ministro e atual deputado federal] para a candidatura, por exemplo".

Pesquisas feitas pelo partido e pelo PR apontam que a estratégia tem dado certo. Lindbergh teria hoje 24% das intenções de votos, contra 27% do ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) e 4% do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

No entanto, um processo na Justiça e uma administração não tão bem sucedida em Nova Iguaçu podem ser o calcanhar de Aquiles nas intenções de Lindbergh. Em 3 de outubro, o petista foi condenado por improbidade administrativa em um processo referente à época em que era prefeito. Resultado: teve suspenso por cinco anos seus direitos políticos pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. A condenação refere-se à contratação sem licitação, pela Prefeitura de Nova Iguaçu, da empresa Luxelen Montagens Elétricas Ltda para fazer a manutenção da iluminação pública da cidade, em 2005. O senador alega não ter tido direito a defesa e decidiu recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em Nova Iguaçu, cidade onde deixou a prefeitura no meio do segundo mandato para concorrer ao Senado, sua substituta, a prefeita Sheila Gama (PDT), enfrenta problemas para conseguir se reeleger. Apesar de estar no segundo turno - Sheila teve 20% dos votos, contra 39,05% de Nelson Bornier (PMDB) no primeiro turno - ela não conta com o apoio do senador que vem se negando a fazer campanha para sua sucessora, apesar das pressões do PT nacional. Nos bastidores, Lindbergh diz que a prefeita não conseguiu dar continuidade a seu governo. Mas há quem diga que o ex-prefeito gastou todo o dinheiro do caixa e também da previdência e deixou Sheila sem margem para investir. O fato é que a derrota da prefeita tira das mãos do senador uma base de 561 mil eleitores.

Ex-presidente da União Nacional do Estudantes (UNE) e líder dos cara-pintadas que ajudaram a derrubar o ex-presidente Fernando Collor, Lindbergh não tem seguido muito a orientação do PT nacional. Em Petrópolis, por exemplo, depois que seu candidato Paulo Mustrangi (PT) perdeu no primeiro turno, o senador se aliou a Rubens Bomtempo (PSB) contra seu partido que seguiu o rumo da aliança nacional e fechou com Bernardo Rossi (PMDB), apoiado pelo governador Sérgio Cabral. A explicação oficial para a divergência é local: "Fico triste ao ver parte do PT local apoiando um candidato comprometido com interesses contrários aos nossos e que ainda teve atuação duvidosa no Legislativo. O candidato do PMDB votou contra o aumento dos professores, por exemplo, o que vai totalmente contra os princípios do Partido dos Trabalhadores."

No entanto, o que o senador procura é o apoio do PSB para sua candidatura em 2014. Tanto que ele é figura das mais presentes na campanha do partido em Duque de Caxias, onde Alexandre Cardoso (PSB) concorre com Washington Reis (PMDB) no domingo. No palanque, ele fala em nome da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O apoio do PT ao candidato em Caxias fez parte do acordo para o PSB fechar com Fernando Haddad (PT) em São Paulo, mas caiu como uma luva nas intenções de Lindbergh.

Nos bastidores, o senador também já negocia com partidos que hoje estão na base de Cabral como o PSD, o PDT, o PCdoB e o PRB do senador Marcelo Crivella. Entre os evangélicos, Lindbergh já conquistou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. No Senado, Lindbergh defendeu Malafaia no caso do pastor contra a Parada Gay. O senador afirmou que "assim como há intolerância contra os homossexuais, também há contra os evangélicos".

Com a campanha consolidada, ele teria mais chance de receber apoio de quem estaria com Pezão. Já se fala até que o PSD pode ser convidado para integrar a chapa com um vice-prefeito. Lindbergh também fez campanha em algumas cidades com o senador Francisco Dornelles (PR), mas acredita que este só vai se decidir na reta final.

Depois do carnaval, em 2013, para não sumir do mapa, Lindbergh inicia uma "caravana da cidadania" pelo Estado. "Vou percorrer todos os bairros e todas as cidades. Vou repetir o que o Lula fez no Brasil. Quero conhecer melhor o Estado seus problemas, falar com os comerciantes, com as pessoas para governar melhor", promete o pré-candidato.