Título: Tentativa de compra de voto atingiu 8% dos eleitores em 2006
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Política, p. A7

Desde 2000, nunca se tentou tanto comprar voto no Brasil como em 2006. Pesquisa realizada pelo Ibope, por encomenda da organização não-governamental Transparência Brasil e pela União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon), demonstrou que o índice de eleitores abordados por políticos corruptos dispostos a comprar seus sufrágios em 2006 quase triplicou em relação à última eleição presidencial, em 2002. Naquele ano, 3% dos votantes haviam recebido ofertas. No último pleito, a parcela de vítimas dessa prática atingiu a média nacional de 8% - 8,3 milhões de eleitores.

"Se antes a questão da compra do voto era um problema preocupante, hoje ela se tornou algo muito grave. O aumento é muito significativo", diz Cláudio Abramo, diretor-executivo da ONG. A pesquisa não conclui que houve, de fato, a compra de voto. O questionamento apenas investiga se os eleitores receberam ou não ofertas de dinheiro ou qualquer outro benefício em troca de apoio eleitoral.

O índice de 8% acompanha tendência examinada nas quatro pesquisas feitas pela Transparência Brasil: 2000, 2002, 2004 e 2006. No primeiro ano, nas eleições municipais, o levantamento investigou apenas ofertas em dinheiro em troca de votos: 6% dos eleitores disseram ter recebido propostas. Na segunda eleição municipal investigada, em 2004, a pesquisa identificou 9% de eleitores que reconheceram ter recebido propostas.

O que chamou muito a atenção dos especialistas foi o resultado do Paraná. O estado puxou a média da região Sul para cima: 22% dos eleitores paranaenses reconheceram ter recebido propostas de compra de votos. "É um número espantosamente alto. O problema no Paraná é muito grave e precisa ser visto com muita preocupação", diz Abramo.

A pesquisa demonstra não haver diferença entre classes sociais, escolaridade e local de residência dos eleitores assediados. Os índices de pessoas de todos os níveis sociais, dos grotões ou das capitais que disseram ter sido assediadas ficaram empatados, dentro da margem de erro da pesquisa.

A diferença maior identifica-se na faixa etária dos eleitores: 13% da população entre 16 e 24 anos receberam propostas de compra de voto. O índice vai caindo até chegar aos 4% daqueles que têm mais de 50 anos. "Em todas as nossas pesquisas, a idade sempre foi fundamental. Quanto mais jovem o eleitor, mais vulnerável ele fica", diz Abramo.

Dentro do índice geral de 8% de eleitores assediados, metade diz ter recebido proposta de compra de voto em dinheiro vivo. "É um índice que mostra que o caixa 2 ainda é muito ativo na política nacional", diz Fernando Antunes, presidente da Unacon.

Weber Abramo criticou duramente o Tribunal Superior Eleitoral. "O TSE é responsável direto. A corte nada faz para identificar as áreas mais sensíveis à compra de votos e não toma medidas preventivas", diz o diretor-executivo da Transparência. "Publicidade na televisão não ajuda a coibir a compra do voto. Não é assim que se faz política pública", critica.

A pesquisa também procurou levantar a percepção dos eleitores sobre o grau de corrupção dos atuais e ex-governadores: 30% dos eleitores crêem que o antigo governador roubou, enquanto apenas 14% acreditam na corrupção dos novos.

A Transparência Brasil tentou identificar a relação do brasileiro com a política do "rouba mas faz". Entre aqueles que acreditam que o atual governador será um bom administrador, apenas 15% acreditam que ele roubará. E 71% têm convicção de que não haverá desvios de recursos públicos. "Essa medição coloca por terra a crença de que o brasileiro gosta de políticos corruptos", diz Abramo.

Ponto curioso da pesquisa mostra que 16% dos eleitores não sabem o nome do atual governador. Ainda assim, 64% acreditam que ele fará uma boa administração e, 20%, que roubará.

Em relação ao ex-governador, 25% não se lembram do nome de quem dirigiu seus estados nos últimos anos. Ainda assim, 49% acreditam que ele fez um bom governo e 25% têm convicção de que roubaram.

O levantamento também procura identificar o grau de contato dos eleitores com a corrupção propriamente dita. Segundo a pesquisa, 4% dos eleitores brasileiros disseram já ter pago propina a agentes públicos para conseguirem ser atendidos em suas necessidades. A área mais afetada é a Nordeste, com 7%. A região Sul apresentou índice de 2%.

A pesquisa ouviu 2002 pessoas de 142 municípios entre 17 e 21 de novembro de 2006.