Título: Reviravoltas marcam segundo turno
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A10

Quando forem abertas as urnas no domingo, a eleição municipal deste ano deverá trazer a maior diferença entre os resultados do primeiro e do segundo turno, com uma proporção inédita de reviravoltas. Se as pesquisas dos institutos de opinião se confirmarem, a taxa de candidatos que lideraram a primeira etapa mas foram ultrapassados na reta final deve superar a média histórica de 12%, registradas nas últimas eleições.

Os eleitores voltarão a escolher seus preferidos em 50 municípios com mais de 200 mil habitantes, onde nenhum candidato atingiu mais da metade dos votos válidos no primeiro turno. Em seis de 40 destas cidades - nas quais havia pesquisa disponível até o fechamento desta edição - o segundo colocado aparece à frente do vitorioso de 7 de outubro, fora da margem de erro do levantamento.

É o caso de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, onde o ex-governador José Serra (PSDB) foi o mais votado na primeira etapa mas, devido à alta rejeição, foi superado por Fernando Haddad (PT). O petista conseguiu atrair grande parcela dos eleitores que preferiram o terceiro colocado, Celso Russomanno (PRB), e será o vitorioso, de acordo com Ibope e Datafolha.

Em outras três das 17 capitais que voltarão às urnas no domingo, a situação é semelhante. Em Curitiba, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) surpreendeu no primeiro turno, ao tirar do páreo o prefeito Luciano Ducci (PSB), e agora, novamente, surge desbancando o deputado Ratinho Jr. (PSC), que liderou a maior parte do processo eleitoral.

Em Belém, o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) tinha larga vantagem desde as primeiras pesquisas de opinião, no começo do ano, mas na hora H se vê ultrapassado pelo deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB). Rodrigues teve o sétimo maior tempo de propaganda na TV durante o primeiro turno, quando começou a desidratar, e Coutinho cresceu empurrado pela máquina estadual do governador do Pará e colega de partido Simão Jatene.

Por outro lado, em Florianópolis, o deputado estadual Cesar Júnior (PSD) deve frustrar os planos de seu padrinho político, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e perder para o deputado federal licenciado Gean Loureiro (PMDB). O pemedebista também foi uma surpresa ao tirar do segundo turno a deputada estadual Angela Albino (PCdoB). Loureiro recebeu agora apoio da ex-adversária e do PT.

Nestas quatro capitais, exceto em São Paulo, os petistas estão em papel relativamente coadjuvante, embora Fruet, um ex-desafeto do partido, tenha por trás o casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações), e Edmilson Rodrigues tenha recebido, nos estertores da campanha, o polêmico apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que rachou o PSOL em Belém.

No geral, contudo, é o PT a legenda que está mais envolvida em disputas com maior probabilidade de reviravolta. Em Ponta Grossa (PR), o ex-prefeito e deputado estadual Péricles terminou atrás do adversário Marcelo Rangel (PPS) no primeiro turno e agora, de acordo com pesquisa Ibope, estaria dez pontos percentuais à frente. Em Diadema, por sua vez, o PT está levando uma virada traumática. O prefeito Mario Reali fechou a primeira etapa quase cinco pontos percentuais na dianteira e estaria 14 atrás de Lauro Michels (PV). A derrota significaria o fim da mais longa hegemonia municipal do PT. Desde 1982, o partido só não governou a cidade entre 1997 e 2000, quando perdeu justamente para o primeiro prefeito da sigla, Gilson Menezes, que rompeu e se filiou ao PSB.

Além destes seis municípios (que representam 15% das 40 cidades com pesquisas disponíveis), em outros três a tendência é de virada. Embora tecnicamente haja um empate, o candidato que aparece numericamente à frente é o que chegou em segundo lugar no primeiro turno. É o caso de Uberaba (MG), Cascavel (PR) e Porto Velho.

Se somarmos a estes dois grupos, as dez cidades onde há empate técnico, mas quem lidera numericamente é o vencedor do primeiro turno, as possibilidades de reviravolta chegam a 19 em 40, ou seja, 47,5%. São elas: Campinas, Londrina, Sorocaba, Cuiabá, Macapá, Mauá, Maringá, Rio Branco, Fortaleza e Volta Redonda.

Em Fortaleza, o resultado está entre os mais imprevisíveis. De acordo com o Datafolha, divulgado ontem, Elmano de Freitas (PT), que foi líder na primeira rodada, estaria com 51% dos votos válidos contra 49% de Roberto Claudio (PSB). Pelo Ibope, os dois estão rigorosamente empatados em 50%.

O PT é o que está mais presente nas reviravoltas. Pode virar em seis municípios e levar uma virada em quatro. Os tucanos também têm uma situação, em princípio, vantajosa, com três contra um. O PMDB pode virar em dois, e levar a pior em três. E o PSB tende a levar uma virada em duas e virar em três. Nesta trinca de cidades (Fortaleza, Porto Velho e Uberaba), no entanto, as disputas são muito ferrenhas, pois todas estão em situação de empate. Na cidade mineira, o líder nacional da sigla, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, fez campanha para o deputado estadual Antônio Lerin ao lado do senador tucano Aécio Neves. A dobradinha mostrou o afinamento entre Campos e Aécio, que têm planos de chegar à Presidência da República.

Por outro lado, os dois estiveram em palanques concorrentes em São Luís, onde Aécio apoia o prefeito João Castelo (PSDB) e Campos ajuda o candidato Edivaldo Holanda Júnior (PTC). Este duelo na capital maranhense também representa uma mudança no eleitorado, numa virada que se consolidou no primeiro turno e se ampliou agora no segundo. Holanda Júnior, de acordo com o Ibope, estaria dez pontos percentuais à frente de Castelo. Caso semelhante é o de João Pessoa, onde o petista Luciano Cartaxo surpreendeu numa disputa que se desenhava apertada. Venceu a primeira etapa, quando havia quatro candidatos competitivos, e agora deve se eleger com uma das maiores votações percentuais. Tem 73% dos votos válidos, pelo Ibope.

É uma situação totalmente diferente do grupo de 13 municípios onde a disputa está acirradíssima e as pesquisas indicam empate. Dois partidos, o PT e o PSB, predominam nestes confrontos que devem tirar o sono dos competidores até domingo à noite. Os petistas estão em mais da metade deles, sete, e o PSB, em cinco. Além de Fortaleza, outra cidade que é o retrato desse cenário de suspense é Campinas. Ali, o deputado federal Jonas Donizete (PSB) aparece dez pontos percentuais à frente do petista e ex-presidente do Ipea, Marcio Pochmann (PT), nos votos válidos. Mesmo assim, o Ibope aponta o empate. Os petistas ainda podem aprontar uma virada contra o PSB em Cuiabá, onde o vereador Lúdio Cabral está na cola do empresário Mauro Mendes. Em Salvador, o PT fez todo o esforço na reta final, com a presença de Lula e da presidente Dilma Rousseff, para que Nelson Pelegrino vire o jogo contra ACM Neto (DEM). Por outro lado, os petistas podem sofrer um revés aplicado pelos maiores adversários nacionais, os tucanos, em Rio Branco, caso Tião Bocalom vença Marcus Alexandre.

O Paraná é o terreno mais turbulento. Em todas as cinco cidades do Estado que terão segundo turno, há reviravoltas ou disputas com potencial de virada. Quatro delas (Curitiba, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa) são impulsionadas pelo poder de chegada do PT - mais um motivo de preocupação para o governador Beto Richa. O tucano apoiou Luciano Ducci (PSB), o único dos oito prefeitos que buscam a reeleição a ser eliminado já no primeiro turno.