Título: Bloco de esquerda reivindica mais cargos
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Política, p. A10

Os presidentes dos partidos que integram o bloco de esquerda, grupo que reúne 71 deputados na Câmara, decidiram ontem em Brasília elaborar uma carta de princípios para justificar a aliança entre PSB, PDT, PCdoB, PAN e PNM. O bloco pretende ser uma alternativa à esquerda ao PT e tenta consolidar um projeto "político-eleitoral" para 2008 e 2010, na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na avaliação dos partidos, o bloco também está sub-representado no governo Lula e reivindica, além da manutenção dos atuais ministérios, mais uma pasta, a ser ocupada provavelmente pelo PDT. Os ministérios em poder do bloco de esquerda, que apóia o governo mas conjura a hegemonia do PT, são os de Esportes (PCdoB), Integração Nacional (PSB) e Ciência e Tecnologia (PSB). O PMDB da Câmara reivindica a Integração Nacional.

Na hipótese de Lula indicar um ministro do PDT, o nome mais provável é o do atual presidente do partido, Carlos Lupi - que consegue reunir mais apoios na bancada. A hipótese de os trabalhistas integrarem o governo foi cogitada quando os pedetistas aderiram à coalizão de partidos que apóia Lula no Congresso. Eles têm em mente a Previdência Social, mas devem aceitar o que Lula vier a oferecer ao partido.

Dos três partidos que integram o bloco de esquerda, o PDT é o mais refratário a um projeto eleitoral de longo prazo. Embora Leonel Brizola, na eleição de 1998, tenha apoiado Ciro Gomes, que é o potencial candidato do bloco para a sucessão de Lula, acabou retirando o apoio às vésperas da eleição. Os pedetistas aplaudiram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que consideram "nacionalista", e a decisão de Lula de não tratar das reformas trabalhista e previdenciária no segundo mandato.

Com um mínimo de unidade, os três partidos avaliam que podem se tornar uma espécie de fiel da balança nas votações do Congresso e influir nas decisões de governo (o bloco de esquerda tem 71 deputados), sobretudo quando aliado a outras forças do Congresso. Um exemplo citado: se o PT tentar promover uma emenda constitucional para dar um terceiro mandato a Lula, o bloco - que pretende ter candidato - deve se aliar à oposição para barrar o projeto, que precisa de pelo menos 208 votos de deputados para ser aprovado.

Mas se o PCdoB tem críticas e pretende aperfeiçoar o PAC, o PDT apoiou com entusiasmo a proposta do presidente. São essas divergências que os presidentes dos partidos estão tentando aparar e estruturar uma plataforma mínima para a atuação conjunta, a partir de agora.

"Trata-se de uma carta de princípios para explicar à sociedade as razões do bloco", disse o presidente do PSB, Roberto Amaral, sobre o documento em elaboração. "É um ideário", classificou o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. É o projeto político. O projeto eleitoral é ambicioso e passa por uma separação de partidos que historicamente estiveram ligados ao PT, como o PCdoB.

Os comunistas, por exemplo, já avaliam a possibilidade de lançar o nome do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo para concorrer à prefeitura de São Paulo, nas eleições de 2008. A origem do bloco de esquerda foi a disputa pela presidência da Câmara, vencida pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Mesmo considerando que se trata de uma eleição difícil, que deve ser polarizada entre PT e PSDB, a avaliação do PCdoB é que a candidatura ajudaria a eleger vereadores e a consolidar a aliança no Estado, com vistas já a 2010. A mesma estratégia pode ser adotada no Rio com a candidatura da ex-deputada Jandira Feghali, que liderou durante a maior parte do tempo a disputa pelo Senado, nas eleições do ano passado, perdendo na reta final para Francisco Dornelles (PP).

Muito embora o nome do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, seja sempre mencionado nas conversas, o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE), que já disputou duas vezes a presidência, é visto como um nome natural, que poderia até vir a ser apoiado por Lula. Os três partidos líderes evitam debater o assunto agora, para evitar a divisão e o desgaste prematuro do bloco.