Título: Segundo turno em eleições municipais completa 20 anos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A11
Há pouco mais de vinte anos, o Brasil realizava a sua primeira eleição municipal em dois turnos, sem que o fenômeno despertasse muita atenção. A eleição de 1992 aconteceu menos de uma semana depois do impeachment do então presidente Fernando Collor. Em São Paulo, dois dias antes, acontecera o massacre de 111 presos do Carandiru, fato que estava nas manchetes dos jornais da época, ao lado da composição do ministério do novo governo.
A eleição de 1992 foi a última antes da digitalização de arquivos da Justiça Eleitoral e é a única disputa em relação à qual não há qualquer informação em meio eletrônico sobre os resultados. Na página do Tribunal Superior Eleitoral, há informações sobre os eleitos entre 1945 e 1990.
Na primeira eleição municipal com dois turnos, o PSDB venceu em cinco capitais, o PT e o PDT em quatro cada, o PSB em duas e o PPS em uma. O PMDB conseguiu quatro vitórias e os partidos que compunham a base de apoio de Collor até a antevéspera do impeachment (PDS, PDC, PFL) ganharam em quatro.
O resultado para o PT foi particularmente frustrante. Não apenas perdeu a Prefeitura de São Paulo, que havia conquistado em 1988, como viu a Prefeitura do Rio de Janeiro escapar de suas mãos em uma virada no segundo turno, em que César Maia (PMDB) ultrapassou Benedita da Silva (PT).
O PSDB ganhou a prefeitura de Salvador e capitais de menores portes. O partido obteve desempenho sofrível nos grandes centros. Perdeu a prefeitura de Belo Horizonte com o terceiro lugar obtido pelo então deputado Aécio Neves e conseguiu modestos 5,8% dos votos em São Paulo, com a candidatura do então deputado Fabio Feldman.
O resultado eleitoral também foi desastroso para o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, cujo PDT ficou fora do segundo turno na capital de seu estado e em Porto Alegre.
As urnas deixaram o PMDB no comando de 1.633 municípios, ou um terço dos 4.932 que existiam à época. Estimularam a fracassada candidatura presidencial do ex-governador paulista Orestes Quércia (1938-2010) à presidência dois anos depois.
As eleições também relançaram o ex-governador Paulo Maluf na política com a vitória em São Paulo. Maluf optou por cumprir todo o mandato e eleger um sucessor em 1996, mas não conseguiu viabilizar a sua candidatura presidencial em 1998, como imaginava.