Título: Pesquisas que davam Fruet fora do 2º turno agora indicam vitória
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A12

Se as pesquisas de intenção de voto estiverem certas, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) deve eleger-se no domingo prefeito de Curitiba. Ele nem era cotado para o segundo turno nos levantamentos feitos às vésperas da eleição, mas conseguiu deixar o atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), fora da disputa e virar o jogo contra o adversário Ratinho Junior (PSC). Caso as urnas confirmem a vitória de Fruet, o PT pela primeira vez vai se aproximar do poder na capital paranaense e ganhará força para buscar o governo do Estado em 2014. A vice do pedetista é Mirian Gonçalves, do PT, e o apoio ao candidato foi uma luta pessoal do casal de ministros Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Paulo Bernardo, das Comunicações, que estão de olho no Palácio Iguaçu.

Ratinho Junior: pai do candidato do PSC fala em 2014

"O governo de Beto Richa (PSDB) recebeu um sinal amarelo", opina o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sobre a oportunidade que Fruet poderá abrir para a oposição no Estado. Embora os tucanos tenham conquistado mais prefeituras no Paraná (foram 42 em 2008 e 78 em 2012), o partido ficou fora de grandes cidades. E o PT também ganhou mais espaço. Hoje está em 31 prefeituras, já elegeu prefeitos em 41 municípios e, além da vice da capital, disputa o segundo turno em três importantes cidades: Maringá, Ponta Grossa e Cascavel. "O objetivo de longo prazo do PT está sendo conquistado agora", comenta o professor Masimo Della Justina, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR).

Richa, que viaja no domingo após votar e ficará 15 dias fora do país, teve a oportunidade de apoiar Fruet para a prefeitura da capital. Os dois eram do mesmo partido, mas o tucano optou por ficar com Ducci, que foi seu vice-prefeito duas vezes. "Ele vai ter de dobrar o esforço na busca pela reeleição", prevê Justina, da PUC. Fruet, que já havia saído do PMDB por não conseguir espaço na legenda do senador e ex-governador Roberto Requião, mudou mais uma vez e foi para o PDT. E para que sua candidatura tivesse alguma chance, aceitou o apoio do PT, mesmo depois de ter sido um crítico feroz do mensalão. Ele passou boa parte da campanha tendo de se explicar sobre o assunto e repetiu diversas vezes que a aliança "é programática". A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula não pediram votos para ele.

Ratinho Junior, uma das grandes surpresas da eleição, diz que ainda tem esperança de ganhar e argumenta que levantamentos internos dão pouca vantagem para o concorrente. O pai dele, o apresentador de televisão Ratinho, já declarou que o filho pode disputar o governo em 2014 caso perca a eleição agora, mas ele despista. "Vou avaliar no futuro, tenho de esperar domingo", disse, ao Valor. Oliveira, da UFPR, opina que Ratinho pode optar para concorrer ao Senado e dá como quase certo que Requião deve testar as urnas novamente, porque se perder terá mais quatro anos como senador.

Resta saber como será o comportamento do eleitor daqui a dois anos. Se, no primeiro turno, o voto foi pela mudança, no segundo o cenário mudou. "O eleitorado mais conservador migrou para o Fruet, porque desconfia de Ratinho e quer mais amadurecimento político", diz Oliveira. "A velha tese se confirma: a política paranaense é centrada em família e na sucessão de nomes", acrescenta ele. Gustavo Fruet é filho de Maurício Fruet, que foi prefeito de Curitiba de 1983 a 1985, mesma época em que José Richa, pai de Beto, era governador do Paraná.