Título: Segurança é só o pretexto
Autor: Rizzo, Alana; Pariz, Tiago; Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2010, Política, p. 2

O governador Sérgio Cabral se reuniu com a presidente eleita, Dilma Rousseff, com um olho no Rio de Janeiro e outro em um ministério forte

Os interesses do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ontem em Brasília foram muito além dos reforços na área de segurança e no combate ao tráfico de drogas. Desde que foi apontado como ¿padrinho¿ do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o governador fez chegar à equipe de transição seu interesse em manter um ministério do Rio de Janeiro indicado por ele, nem que seja na área de segurança, onde começa a montar a sua plataforma política. Na hipótese de a presidente eleita, Dilma Rousseff, não aceitar um nome do Rio nem nessa área nem na Saúde, os peemedebistas ligados ao governador se mostram dispostos a brigar por um ministério de igual peso ¿ caso, por exemplo, da pasta das Cidades, para onde o vice-presidente eleito, Michel Temer, gostaria de ver indicado o ex-deputado Moreira Franco, seu fiel escudeiro durante a campanha presidencial.

Ontem, Cabral chegou a Brasília disposto a dizer a Dilma que Moreira não é um nome indicado pelo Rio. A reunião entre os dois não havia terminado até o fechamento desta edição, por volta das 23h. Entre os peemedebistas, há quem diga que Cabral inclusive teria vetado o nome de Moreira para a pasta das Cidades. O governador não quer deixar crescer em seu território alguém que faria política no seu partido, mas longe do governo estadual. Há um temor que Moreira e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se unam para tentar tirar de Cabral o protagonismo político no estado. Essa é hoje uma das brigas internas do PMDB (leia mais abaixo).

Projeção Cabral passou o dia com ares de vitória. Afinal, conseguiu desta vez uma projeção que não obteve em 21 de abril de 2008, durante uma invasão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ao Complexo do Alemão. Naquele dia, a polícia entrou no morro, mas, passados alguns meses sem uma ação efetiva do Estado, os traficantes voltaram e ainda torturaram moradores que delataram seus esconderijos. Agora, a presença da TV e a transmissão ao vivo deram ao governador a imagem da ordem dentro e fora do Brasil. Ontem, por exemplo, ele foi citado pelo jornal espanhol El País como possível candidato à Presidência da República em 2014.

O governador, o PMDB e o PT estão cientes dos reflexos políticos do combate ao tráfico no Rio de Janeiro. E, se Cabral conseguir impedir a volta do tráfico ao local ao longo dos próximos quatro anos, há no PMDB quem o considere um forte candidato. A operação do último fim de semana começou a ser trabalhada há dois anos, com serviços de inteligência e obras do PAC no Alemão.

Investimentos Enquanto Cabral veio a Brasília para o encontro com Dilma Rousseff, o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), afirmou a investidores do mercado financeiro que eles não devem ter dúvidas quanto ao compromisso do governo petista em buscar bons resultados das contas públicas a partir de 2011. ¿Não desconfiem do governo, o governo estará muito atento¿, disse, durante o 9º Congresso Brasileiro da Construção, na sede da Fiesp, em São Paulo.

Na opinião de Temer, a meta da nova gestão é seguir o processo de continuidade das mudanças: ¿Temos muito Brasil pela frente e muito a ser feito¿. E ressaltou que a meta é continuar mudando para que o setor privado seja parceiro do governo em novos investimentos. Ele prometeu, ainda, que o governo continuará fazendo as desonerações necessárias para atrair o capital privado, mas não entrou em detalhes. O vice-presidente eleito elogiou ainda o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que está se despedindo do cargo depois de ficar à frente da instituição nos oito anos do governo do presidente Lula. ¿Seguramente, ele deve merecer o aplauso do novo governo.¿

PMDB E AS JOIAS DA ESPLANADA

Antes de deixar o comando do PMDB no próximo dia 15, o vice-presidente eleito, Michel Temer, terá a difícil missão de reaglutinar o partido. Desde que o noticiário passou a citar a possibilidade de o PT e o PSB avançarem sobre terreno conquistado pelo PMDB no governo ¿ e a consequente perda de espaço de poder dos peemedebistas no governo Dilma ¿ cresceu a guerra fria entre senadores e deputados da legenda por cargos.

O PMDB considera seu hoje Comunicações, Saúde, Minas e Energia, Integração Nacional, Agricultura e Defesa. A Defesa, o partido não considerava mais da sua cota, uma vez que Nelson Jobim foi escolha pessoal de Lula e hoje é escolha pessoal de Dilma. O problema são os outros cinco. No caso da Saúde, o partido tem deixado o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral correr sozinho em busca desse ministério. O problema são os outros quatro.

Na equipe de transição, há quem diga que os peemedebistas não poderão ficar com todas as joias da coroa que detêm hoje e terão que se contentar com ministérios menores, caso, por exemplo, o da Pesca. Há ainda quem considere que é hora de Henrique Eduardo Alves abrir mão da Presidência da Câmara para conquistar espaço no Executivo e tirar a pressão do PT sobre os ministérios peemedebistas.

Enquanto a solução não vem, cresce a briga. Os senadores já sonham com cargos ocupados pela Câmara. O temor de perder a pasta das Comunicações para que Dilma possa abrigar o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, levou a ala do Senado a fazer carga em prol do Ministério da Integração Nacional. Integrantes do PMDB na Casa têm dito em conversas reservadas que se consideram com mais chances de obter o ministério da Integração Nacional para Eduardo Braga, ex-governador do Amazonas, do que os deputados.

A bancada na Câmara indicou para a Integração o deputado Marcelo Castro (PI), mas não tem governadores que reforcem a indicação. Afinal, o governador eleito do Piauí é do PSB e reza pela cartilha de Eduardo Campos, que reivindica esse ministério para o PSB.

Os senadores também não têm governadores para ajudar nesse sentido, uma vez que a governadora reeleita do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), apadrinha a volta do senador reeleito Edison Lobão (PMDB-MA) para a pasta de Minas e Energia ¿ a única que não provoca mal estar entre os peemedebistas. Sem governadores, a bancada do Senado apostará no fato de ser a maior da Casa para tentar emplacar a Integração Nacional e, de quebra, dar um ministério para a Região Norte.

Repescagem A indicação de Moreira Franco para um ministério, além de bombardeada por Sérgio Cabral, não conta com o aval de todos os deputados. Muitos deles consideram que indicar Moreira é ¿queimar¿ um posto representativo ¿ especialmente se for o Ministério das Cidades ¿ para atender um aliado de Michel Temer. E Temer, na avaliação de parte da bancada, já tem no governo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, ex-deputado pelo PMDB paulista, como representante dos deputados. E, para completar, se Dilma decidir entregar a Integração ao PSB, como tem dado a entender em algumas conversas, e as Cidades a Moreira Franco, ela terá que arrumar outros postos para agradar ao PMDB. Pode sobrar mesmo a Pesca. (DR)

DILMA SAI DA ¿TOCA¿

Luciana Bezerra Especial para o Correio

Dilma Rousseff deixa nesta terça-feira o recolhimento ao qual se submeteu para decidir os nomes de seu futuro governo e acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de duas eclusas do Tucuruí, no Pará. A informação é da assessoria do governo de transição.

Os dois devem chegar a Belém no início da tarde e serão recebidos pela governadora do estado, Ana Júlia Carepa (PT). Segundo a agenda presidencial, está prevista uma sessão de vídeo sobre a transposição do Rio Tocantins. Em seguida, Lula, Dilma e convidados embarcam em uma balsa e percorrem o trajeto de transposição das eclusas até o bairro da Matinha, em Tucuruí. Lá, acontece a cerimônia de inauguração.

Cada uma das eclusas tem 210m de largura e 33m de comprimento. São ligadas por um canal intermediário de 5,5 quilômetros. As obras ficaram paradas por quase 30 anos. Concluídas, elas vão permitir a navegação ao longo de 2 mil quilômetros do Rio Tocantins, desde o porto de Belém ao Alto Araguaia, em Mato Grosso.

Navegação Antes, esse percurso não podia ser feito por conta de um desnível de 75 metros, que surgiu após a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada em 1984. A obra das eclusas de Tucuruí custou R$ 1,66 bilhão. No ano passado, o empreendimento chegou a contar com mais de 3,5 mil operários.

JOSÉ ALENCAR SE ALIMENTA POR VIA ORAL » O quadro de saúde de José Alencar evolui bem e o vice-presidente já começa a se alimentar normalmente, por via oral. As informações estão em uma nota emitida pelo Hospital Sírio-Libanês no início da noite de ontem. De acordo com o texto, ¿José Alencar segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardiológica do Hospital¿. O paciente passou por cirurgia no sábado para tratar uma obstrução intestinal, a 16ª desde que ele iniciou a batalha contra o câncer.