Título: BC já pensa inflação no médio prazo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Finanças, p. C1

O Banco Central passou a levar em consideração, pela primeira vez, a inflação de dois anos adiante nas suas decisões de política monetária. O peso maior ainda continua a ser atribuído aos índices de preços de 2007, mas o ano de 2008 já entrou no radar.

A mensagem foi emitida pelo BC na sua ata da semana passada, e não passou despercebida. "A economia está mais estável", diz o estrategista sênior da América Latina do banco West LB, Roberto Padovani. "Faz sentido o BC cuidar com um pouco mais de cuidado da inflação de 2008."

Em termos práticos, não se trata exatamente de uma boa notícia, porque as projeções de inflação para 2008 não são tão boas quanto as de 2007. O relatório de inflação de dezembro, num cenário que toma como premissa os cortes de juros esperados pelo mercado, projeta um IPCA de 4,3% em 2007 (abaixo da meta, de 4,5%) e de 5,4% em 2008 (acima da meta). Desde dezembro, as projeções melhoraram - o BC não diz quanto -, mas a figura geral é a mesma.

O BC se refere à inflação do próximo ano em um trecho da ata em que, para justificar maior parcimônia na política monetária, diz que as decisões tomadas a partir de agora pelo Copom terão "impactos concentrados no segundo semestre de 2007 e, progressivamente, em 2008".

Não causaria surpresa se a menção a 2008 ocorresse dentro de alguns meses, em meados deste ano - essa tem sido o comportamento padrão do BC. Como os efeitos da política monetária sobre a economia se concentram entre seis e nove meses depois das decisões, é natural que em meados de um ano as atenções do BC já se voltem para o ano seguinte. O que existe de inédito é o BC, na ata da sua primeira reunião de 2007, citar 2008.

A mensagem do BC, pela leitura dos analistas, não quer dizer que a ênfase da política monetária mudou. O grosso do efeito da política monetária ocorre entre seis e nove meses depois das decisões. Mas decisões tomadas agora pelo BC passaram a ter peso maior em prazos mais longos que no passado.

Isso ocorre porque os agentes econômicos passaram a trabalhar com horizontes mais longos. No crédito, o prazo médio das operações subiu de 261 para 291 dias entre junho de 2000 e dezembro de 2006. As altas foram mais expressivas em financiamentos a bens duráveis, como veículos (457 para 534 dias) e outros bens (117 para 168 dias).

Os horizontes no mercado financeiro também se alongaram. No início do sistema de metas de inflação, a liquidez dos contratos DI se concentrava em menos de um ano. Atualmente, há contratos com alta liquidez em vencimentos de 2009 e 2010. "Os investidores estrangeiros tendem a gostar mais de prazos longos", diz Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora.

O alongamento dos horizontes da política monetária se explica também pelo fato de as metas terem sido estabelecidas em 4,5% durante quatro anos, de 2005 a 2008. Metas constantes acabam com a discussão sobre se o BC está mirando a inflação do ano-calendário porque, a rigor, a preocupação do BC é manter a inflação sempre em 4,5%.

Padovani lembra que, depois de a inflação ter ficado em 3,14% em 2006, ela subirá neste ano para algo como 4,1%. Uma das preocupações do BC será que essa tendência de alta da inflação não vaze de forma descontrolada para 2008.