Título: ACM Neto chega à reta final em vantagem
Autor: Totti, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2012, Política, p. A14

A menos que novas pesquisas confiáveis revelem, de hoje para amanhã, uma reviravolta nas intenções de voto, o candidato do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto, tem ligeiro favoritismo na eleição de domingo em Salvador, sobre Nelson Pelegrino, do PT. A vitória apertada de ACM Neto no primeiro turno, com 5.626 votos, teria sido ampliada nas duas últimas semanas, segundo dirigentes de sua campanha. Eles dizem ter sentido nas ruas o entusiasmo dos eleitores e constatado a conquista de novos votos em bairros da periferia em que o PT é tradicionalmente majoritário. Instados a demonstrar esse crescimento, não se reportam aos chamados "trackings", minipesquisas que os partidos realizam diariamente para uso próprio, mas sim à conhecida pesquisa do Ibope - 54% a 46% dos votos válidos a favor de ACM Neto - realizada antes da vinda a Salvador da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É pouco para justificar tanto entusiasmo, mas os dirigentes da campanha do DEM afirmam que também o seu faro político aponta para vitória devido ao que consideram melhor desempenho de ACM Neto nos debates pela TV.

No comando do PT - por ironia instalado na Avenida Antônio Carlos Magalhães - a certeza não é a mesma, mas não há sensação de derrota. Sem citar pesquisas, um dos comandantes da campanha disse que se baseia também na experiência, não própria, mas " de quem sabe tudo de eleições", o próprio Lula. Segundo esse petista, quando viu a vibração com que a carreata de quarta-feira foi recebida na região ferroviária de Salvador, Lula teria ficado emocionado e disse ao governador Jaques Wagner: "Tá ganha. Ninguém nos tira esta eleição".

Em verdade, os políticos baianos preferem seu "feeling" a atribuir importância às pesquisas dos grandes institutos nacionais, desde que o ex-governador Paulo Souto, então PFL, era apontado pelo Ibope como vencedor do segundo turno para governador em 2006, com 51%, contra Jaques Wagner, 41%. Ganhou Wagner por 52,89% a 43,03%.

O PT usou muito na campanha as realizações do governo federal: Bolsa Família, aumento do emprego e do salário do trabalhador, queda de juros, proliferação do crédito - "Quando você, trabalhador, imaginou que teria muita comida em sua cozinha e uma TV LCD em sua sala?", esbravejava, ontem, um locutor de campanha no alto de um minitrio elétrico, durante uma caminhada de Pelegrino pelo bairro de Pau de Lima.

Na mesma hora, em outro bairro, igualmente popular, ACM Neto prometia hospitais para a região, praticamente um em cada bairro que costuma visitar, e falava de dois temas que deixam os petistas nervosos: o metrô de Salvador e a situação do ensino no município e no Estado. Não que os governos estaduais anteriores ao do PT tenham feito muitas coisas em benefício da cidade no setor de transporte público ou da educação. Mas seus adversários de hoje dizem que o PT é culpado por Salvador não ter um metrô. O PT se defende, diz que no governo Lula a verba para concluir as obras foram liberadas e que o prefeito João Henrique de Barradas Carneiro, que já foi de diversos partidos e hoje está no PP, apoiando Neto, não soube aproveitá-la. No debate de quarta-feira na TV Aratu (SBT), Pelegrino disse que o governo do Estado vai concluir as obras ainda no mandato de Wagner e, mais, estender as linhas até Cajazeiras, no extremo oposto da cidade. Como Neto dissera anteriormente que também levaria o metrô a Cajazeiras, Pelegrino replicou: "Vamos levar o metrô até o aeroporto e até a cidade de Lauro de Freitas, além do aeroporto".

Enquanto não se cumprem as promessas, os taxistas, em geral, concordam com Neto. Quando passam por imponentes elevados que se erguem sobre as principais avenidas no centro da cidade e alguns (poucos) bairros próximos, os taxistas apontam para o alto e dizem "Isto está aí há 12 anos. Briga do PT com o prefeito..."

A crítica ao ensino tem raízes na recente greve de 115 dias nas escolas estaduais, que comprometeu o ano letivo dos alunos. "Se não consegue cuidar do ensino estadual, como é que o PT vai cuidar do ensino do município?", costuma perguntar o candidato do DEM. Pelegrino responde que o governo do PT deu 46% de aumento aos professores nos últimos seis anos, enquanto o antigo PFL, hoje DEM, só deu 6% enquanto governava. Pelegrino enfatizou que o PT sempre preferiu o diálogo, ao contrário do carlismo, "que distribuía pancada nos grevistas".

Depois de amanhã se saberá se o discurso mais salvadorense do DEM convencerá mais eleitores do que os temas nacionais brandidos pelo PT. O mensalão chegou a ser tema de campanha, mas esteve longe de ser o mais explorado. E, felizmente, ou graças a Deus, não se chegou a falar de religião numa cidade que é exemplo de harmonia nesse particular.

Hoje haverá um último debate, desta vez na TV Bahia (Globo), a de maior audiência. É a quinta vez que Pelegrino e Neto se defrontam - quatro em TV, uma em rádio - e o espetáculo até agora foi monótono, repetitivo. Só o de quarta-feira trouxe novidade. Um bloco foi destinado às candidatas a vice-prefeito, o que permitiu que se fizessem um pouco mais conhecidas dos eleitores. A companheira de Neto é a engenheira de produção Célia Sacramento (PV). A de Pelegrino, a ex-vereadora Olívia Santana (PCdoB). Ambas são afrodescendentes.

A eleição de Salvador não é a única a ter segundo turno na Bahia. Com 215 mil eleitores, 500 quilômetros ao sul da capital, Vitória da Conquista terá um candidato do PT, Guilherme Menezes, em disputa com o candidato do PMDB, Herzem Gusmão, ligado ao presidente do partido na Bahia e vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima. Menezes é o atual prefeito e sua reeleição pode garantir mais quatro anos numa cidade que o PT já governa há 16 anos. No primeiro turno Menezes foi vitorioso, com 49,12% contra 40,14% de Herzem. Dos outros três candidatos, Menezes obteve no segundo turno o apoio de dois, do PDT e do PV. O quinto colocado, do PPS, com 0,5% dos votos, decidiu apoiar Herzem, radialista muito conhecido na terceira maior cidade da Bahia.

Se o PT ganhar em Vitória da Conquista e em Salvador, a base parlamentar do governador Jaques Wagner, formada por 11 partidos, vai comandar 327 municípios do Estado, com uma população de 11,5 milhões de pessoas, 81% do total.