Título: Supermercado, um negócio em expansão na Argentina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Empresas & Tecnologia, p. B1

Um dos últimos setores a se levantar do baque de 2002, os supermercados na Argentina atravessam um momento de forte expansão, enquanto o consumidor aumenta as compras de marcas de primeira linha.

As vendas dos supermercados cresceram 15,1% em dezembro de 2006 em relação a igual mês de 2005. A expansão anual é de de 9%. Considerando-se só o faturamento em preços correntes, a alta foi de 17,5%. É o maior aumento nominal anual desde 1997, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos. Considerando-se a inflação, que foi de 9,8% em 2006, as vendas quase empataram com as de 2005.

O número de empresas que operam no varejo continua abaixo do registrado antes da crise, mas o número de lojas cresceu, segundo o economista Fausto Spotorno, da consultoria Orlando Ferreres & Asociados. Em 2002 havia 78 cadeias, donas de 1.350 lojas. Em cinco anos, cinco cadeias fecharam as portas. O número de lojas hoje é maior, 1.500. Das 73 cadeias em atividade, 10 são de grande porte.

O perfil do varejo também está mudando com a recuperação por três anos seguidos da economia. O PIB tem crescido entre 8% e 9% ao ano. "Com o crescimento do PIB, o consumo ganha força", diz Spotorno. Em 2006, enquanto o PIB cresceu em média 0,6% ao mês, o consumo avançou 1%. Ele aponta vários fatores para a expansão do consumo: aumento da renda, recuperação do poder de compra do salário, aumento de mais de 250% no valor mínimo das aposentadorias (de 150 pesos em 2002 para 530 em 2006), redução dos índices de pobreza e o congelamento das tarifas de serviços públicos.

"Os argentinos não só aumentaram a capacidade mas também a qualidade do consumo", disse ao Valor, Gaston Wainstein, diretor de relações institucionais da filial argentina da gigante americana Wal-Mart. "Eles voltaram às primeiras marcas e não só de alimentos, também em eletroeletrônicos", completou.

Um estudo divulgado no fim de janeiro pela consultoria CCR, corrobora esta análise. A consultoria apontou uma alta de 6,6% nas quantidades vendidas de alimentos, bebidas, artigos de cosmética e limpeza em 2006. Também mostrou que os argentinos estão, cada vez mais, voltando a comprar as marcas "premium", ao mesmo tempo em que reduzem a compra das chamadas "segundas marcas", aquelas de produtos mais massivos.

Desde 2003, quando o consumo de "segundas marcas" atingiu seu ápice, representando 23,4% do total das vendas, veio caindo e chegou a 2006 em 15,3%. As primeiras marcas ocuparam 61,8% das vendas, enquanto as marcas premium atingiram 10,2% e os produtos de marca própria 12,6%.

O desempenho das vendas e do consumo argentino em 2006 animou a Wal Mart, que há duas semanas confirmou a inauguração de cinco novas lojas no país, depois de cinco anos sem fazer grandes anúncios. O próprio vice-presidente mundial de Assuntos Corporativos da cadeia, Raymond Bracy, veio pessoalmente dar a notícia ao vice-presidente da Argentina, Daniel Scioli, em meados de janeiro.

Segundo Wainstein, a rede pretende testar, na unidade a ser inaugurada em La Rioja, um novo formato, de tamanho menor e com uma oferta reduzida de produtos. A área será de 4 mil metros quadrados, ou 2 mil a menos do o tamanho médio dos hipermercados. "É um piloto que nos permitirá fazer uma oferta mais adequada a cidades de porte médio, que não suportam um hipermercado tradicional", explicou o executivo.

Além de La Rioja, o Wal Mart vai abrir este ano lojas em San Juan, Mendoza, Bancalari (na província de Buenos Aires) e Mendoza. Wainstein não revelou qual o volume do investimento previsto para este ano, mas lembrou que o grupo tem um programa de investimentos na Argentina, anunciado no ano passado, no valor de US$ 150 milhões. Cada loja do Wal Mart, disse ele, custa em média US$ 10 milhões. O Wal Mart chegou à Argentina em 1995 e tem hoje 13 lojas espalhados na capital federal e nas províncias de Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé, Mendoza e San Luis.