Título: Telefônica tem R$ 1,3 bi para novos negócios
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Empresas, p. B3

A operadora de origem espanhola Telefônica pretende destinar a novos negócios - especialmente TV por assinatura - R$ 1,3 bilhão do plano de investimentos de R$ 15 bilhões desenhado para os próximos quatro anos.

O valor é significativo, mas ainda bem inferior aos R$ 5,5 bilhões que serão aplicados no negócio tradicional de telefonia fixa. Embora essa atividade enfrente em boa parte do mundo uma tendência de estagnação, o grupo aposta que o crescimento da economia brasileira e a criação de novos produtos poderão aquecer a demanda, afirmou ontem o novo presidente da Telefônica no país, Antonio Carlos Valente.

"Estamos prevendo um crescimento do mercado acompanhando a economia", disse o executivo, em sua primeira entrevista à imprensa desde que assumiu o cargo, no mês passado. A avaliação dele é de que o setor de telecomunicações poderá crescer entre 4% e 5% nos próximos anos se o PIB avançar 3,5%.

Valente detalhou o programa de investimentos anunciado em janeiro pelo presidente mundial da Telefónica, César Alierta, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De 2007 a 2010, R$ 8,5 bilhões serão destinados à telefonia fixa (20% em banda larga, 15% em novos negócios e 65% na atividade básica). Os outros R$ 6,5 bilhões irão para a telefonia móvel, onde a companhia espanhola divide o controle da Vivo com a Portugal Telecom. Os valores incluem os negócios atuais e possíveis aquisições de ativos.

"A proposta é diversificar e ter uma atuação que seja a mais ampla possível", disse Valente. "Cada vez mais os clientes querem uma oferta combinada de serviços."

Segundo o executivo, a entrada da Telefônica no mercado de TV por assinatura ajudará disseminar o serviço no país. Valente, que foi conselheiro da Anatel ao longo de sete anos, observou que por existem hoje 40 milhões de linhas de telefonia fixa no país, resultado de vários fatores, entre eles as metas de universalização impostas às concessionárias. "Enquanto isso, a TV paga se desenvolveu muito pouco. Atende só a classe A ou, no máximo, parte da B."

O presidente da Telefônica observou que a Você TV, parceria comercial da operadora com a DTHi , tem ofertas mais acessíveis, de R$ 40, porque dá maior flexibilidade aos clientes para escolher seus planos.

A Telefônica solicitou à Anatel uma licença para atuar no segmento de DTH (satélite), mas aguarda há meses uma resposta do órgão regulador.

Em outubro, a operadora também anunciou que fechou acordo para comprar parte dos ativos da TVA.

Indagado se a análise desses dois movimentos pela agência estaria demorando mais do que o habitual, Valente evitou entrar em polêmica. "Temos apresentado todas as informações solicitadas. A agência tem um corpo técnico qualificado e, uma vez que esteja convencida, deverá conceder a licença [de DTH]", afirmou Valente. "A preocupação deles é com as ofertas que vamos fazer e os mercados onde vamos atuar. Nossa proposta é de popularizar o serviço, é extremamente simples."

O executivo destacou que a convergência de tecnologias está acontecendo no mundo todo e, conseqüentemente, é necessário repensar o modelo regulatório brasileiro. "Esse processo pode ou não levar à necessidade de revisão do marco legal, mas o processo de convergência é uma oportunidade para países como o Brasil."

A avaliação de Valente é de que a Lei Geral de Telecomunicações, de 1997, é mais moderna e já contempla alguns aspectos do cenário atual. Porém, a lei de radiodifusão (anos 60) e a chamada Lei do Cabo (meados dos anos 90) carregam fortemente influências do ambiente estatal que vigorava na época em que foram aprovadas.

Atualmente, existem restrições para a atuação das operadoras de telefonia no segmento de televisão por assinatura. Além disso, a Lei do Cabo restringe a 49% a participação de investidores estrangeiros no capital de empresas de cabo.

Segundo Valente, a discussão das regras do setor pode ter várias frentes - como sociedade civil e Congresso -, "mas a experiência [de outros países] mostra que a participação do Executivo é necessária".

O executivo, que antes de assumir o comando da empresa no Brasil presidiu a Telefónica no Peru e participou do processo de integração das operadoras de celular que o grupo adquiriu da BellSouth na América Latina, não quis falar sobre o interesse da companhia espanhola em comprar a participação da Portugal Telecom na Vivo. "Temos que aguardar o desfecho da oferta da Sonaecom [pelo controle da operadora portuguesa]. Não há nenhum comentário a fazer sobre isso por enquanto."