Título: Recuperação à vista na área de fertilizantes
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2007, Agronegócios, p. B11

Cresce no mercado brasileiro de adubos o temor de que a disputa de seus principais atores em torno da proposta de incorporação da Bunge Fertilizantes pela Fosfertil possa prejudicar o aumento das vendas e a recuperação de faturamento previstos para este ano.

Apesar de a aquecida demanda no quarto trimestre ter garantido um surpreendente aumento do volume de entregas das empresas às suas revendas no acumulado de 2006, o faturamento consolidado do segmento no ano foi R$ 1 bilhão menor que em 2005, de acordo com estatísticas da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

De outubro a dezembro, as entregas somaram 7,760 milhões de toneladas, 13,5% mais que em igual período de 2005 e um recorde histórico para o intervalo. Com isso, as entregas chegaram a 20,747 milhões de toneladas em 2006, alta de 2,7% sobre o ano anterior. Com a aceleração vista, a participação do último trimestre nas vendas de 2006 atingiu 37,4%; em 2005 a fatia ficou em 33,8%.

Depois de três trimestres de crise de renda sobretudo dos produtores de soja, as companhias do ramo esperavam algum aquecimento das vendas no quarto, após os agricultores terem conseguido rolar parte das dívidas e em virtude da melhor perspectiva para o mercado de grãos, sobretudo o milho. Mas o ritmo foi tão intenso que chegou a reduzir os estoques de passagem ao menor patamar em pelo menos três anos.

"Tivemos, no quarto trimestre do ano passado, antecipação de entregas de fertilizantes que seriam feitas neste primeiro semestre", afirma Eduardo Daher, diretor-executivo da Anda. Como já informou o Valor, no Mato Grosso, por exemplo, os produtores ampliaram a aposta em soja precoce para acelerar a colheita e abrir espaço para o plantio de milho safrinha. No Paraná, por sua vez, a expectativa é de uma gorda produção de inverno de milho. Ambos os casos refletem mudanças provocadas pela febre do etanol nos EUA.

Ainda assim, afirma Daher, como de janeiro a setembro a demanda foi "morna" e o real voltou a se valorizar ante o dólar no ano - quase 60% do consumo brasileiro foi atendido com importações em 2006 (12,102 milhões de toneladas, 3,2% mais que em 2005) -, os preços médios dos fertilizantes caíram e, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o faturamento com as vendas diminuiu 7,9%, para R$ 11,7 bilhões.

Daher adianta que, como as perspectivas da Anda sinalizam um crescimento físico das entregas de 4% em 2007 e a tendência já é de elevação dos preços internacionais das matérias-primas, de novo influenciada pela onda do etanol - e também dos fretes - é de se esperar crescimento do faturamento em 2007.

As entregas de adubos em janeiro ainda não foram compiladas pela Anda, mas o executivo disse que o fluxo foi aparentemente normal. "No entanto, pode ser que o 'efeito milho' leve a um resultado maior que o esperado". Além do milho, a cana, fundamental para o avanço das entregas em 2006, tende a continuar com consumo em alta neste ano, em razão do grande número de usinas em construção no país para aproveitar a boa fase do álcool. Com a cana em alta, São Paulo fechou 2006 como maior Estado consumidor de adubos do país.

Com um melhor horizonte, ratificado pelas previsões de safra divulgadas ontem pelo IBGE (ver matéria abaixo), as preocupações de analistas e das mais de 100 empresas do segmento passaram a se concentrar no "caso Fosfertil". Neste imbróglio, as multinacionais Mosaic (americana) e Yara (norueguesa) tentam barrar o avanço da proposta de unificação operacional apresentado por Fosfertil e Bunge (sediada também nos EUA), por temerem concentração na área de nutrientes fosfatados. Bunge (majoritária), Mosaic e Yara, líderes em vendas de adubos acabados no país, são sócias da Fertifos, holding que controla a Fosfertil.

Mário Barbosa, presidente da Bunge Fertilizantes e da Anda, garante que as vendas não estão sendo afetadas pela disputa. Mas, no mercado, teme-se que investimentos em expansão sejam. No ano passado, a Anda previa aportes totais de US$ 2,38 bilhões na área até 2010. Após gastos tímidos em 2006, há quem duvide da viabilidade da meta.