Título: Efeito Argentina pode tirar 0,5 ponto do PIB brasileiro
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Brasil, p. A3

O tombo das exportações para a Argentina pode tirar até 0,5 ponto percentual do crescimento brasileiro neste ano, contando os efeitos diretos e indiretos. De janeiro a setembro, as vendas para o país vizinho recuaram 20,2% em relação ao mesmo período de 2011, devido à combinação das barreiras comerciais implementadas pelo governo argentino e da forte desaceleração da economia. O consenso aponta hoje para uma expansão na casa de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2012.

A LCA Consultores estima que o impacto direto do mergulho das exportações para a Argentina deve "roubar" 0,2 ponto do PIB brasileiro em 2012. Os efeitos indiretos sobre investimento, emprego e renda podem tirar mais 0,3 ponto, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Para o diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, a forte queda das exportações para a Argentina fará o crescimento brasileiros ser 0,3 a 0,4 ponto menor neste ano.

Os dois ressaltam a importância da Argentina como destino de bens manufaturados brasileiros. "Em 2011, a Argentina comprou 22% dos manufaturados vendidos pelo Brasil", diz Borges, apontando o efeito multiplicador do setor manufatureiro sobre o resto da economia, dado o maior valor agregado desses produtos.

Para calcular quanto o recuo das exportações para a Argentina tende a "roubar" de crescimento do PIB brasileiro neste ano, Borges considerou que as vendas externas brasileiras vão manter em 2012 inteiro o mesmo ritmo de janeiro a setembro. Nesse período, as exportações para a Argentina, em valor, recuaram os já mencionados 20,2%, enquanto as vendas para o resto do mundo, excluindo as destinadas ao país vizinho, caíram 3,5%. "Se as exportações para a Argentina tivessem neste ano o mesmo ritmo das vendas para os outros países, as exportações totais teriam uma variação 1,5 ponto percentual maior do que de fato terão."

Para a contabilidade do PIB, o que importa são os volumes, mas por enquanto só há informações sobre quantidades exportadas no primeiro semestre deste ano. Nesse período, o volume exportado para a Argentina caiu 15,8% em relação ao primeiro semestre de 2011, sendo o grande fator que explica o tombo de pouco mais de 15% do valor das vendas - os preços tiveram alta de 0,7%, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex)

Nos seus cálculos, Borges considerou para 2012 um recuo de 20% do volume exportado para a Argentina e de 3,5% para o conjunto dos outros parceiros, por entender que quase toda a queda das vendas se deve a quantidades menores, e não ao movimento de preços. Levando em conta que as vendas externas de bens representam cerca de 90% das exportações totais de bens e serviços, que têm peso de 11,9% no PIB, ele chega a um impacto direto negativo de 0,2 ponto sobre o crescimento neste ano. "Mas esse é apenas efeito direto, que ignora os impactos sobre o resto da economia e o fato de que as exportações para a Argentina têm valor agregado elevado. O impacto indireto pode chegar a 0,3 ponto", diz Borges.

Para Giannetti, os analistas superestimam os efeitos do crescimento menor da China sobre o Brasil, deixando em segundo plano o impacto do tombo das exportações para a Argentina, um grande comprador de manufaturados.

Depois de crescer 8,9% em 2011, a economia argentina deve avançar 2,6% neste ano, segundo o FMI. Para explicar o recuo das exportações brasileiras, Giannetti ressalta o peso das restrições impostas pelo país vizinho, que enfrenta problemas no balanço de pagamentos. Segundo ele, há empresários que viram seus produtos levar até 250 dias para entrar na Argentina.