Título: Consultas ao BNDES aumentam 120%
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Primeiro Caderno, p. A2

O BNDES encerrou o ano com um salto extraordinário no número de consultas, de R$ 44,6 bilhões em 2003 para R$ 98,4 bilhões em 2004, um aumento de 120,6%. Para Antonio Barros de Castro, diretor de planejamento da instituição, isto sinaliza "o vigor da economia". No período, o banco desembolsou R$ 40 bilhões, ante R$ 35 bilhões em 2003. Para Castro, foi um desempenho significativo, apesar de abaixo da meta de R$ 48 bilhões. O diretor considera que realmente "espetacular" será pular desses R$ 40 bilhões para um desembolso de R$ 60 bilhões, a meta deste ano. É "um desafio enorme" e, a seu ver, "exequível", no momento em que o Brasil ingressa num novo ciclo de crescimento. "Já estamos num início de crescimento. Se é sustentado ou não, veremos. Mas os sinais são, fortemente, de ruptura com o passado dos últimos 23 anos. O salto de demanda sinalizado pelas consultas é um salto fantástico. O banco já conta com uma carteira de demanda potencial de R$ 60 bilhões, dos quais apenas R$ 3 bilhões são ainda operações em perspectiva", relatou o diretor do BNDES. Para Castro, esses números ainda não estão garantidos, mas são um objetivo a ser trabalhado pelo banco. "Sabemos que esta demanda não é firme, mas é demanda no sentido de que há intenção de investimento. É só uma questão de encaixar esses projetos", afirmou. Os novos pedidos de financiamento que aterrissaram no banco indicam, segundo o diretor de planejamento, uma mudança na estrutura da demanda por crédito na instituição, pois já começam a aparecer os grandes projetos. "Ontem ( 3ª feira), na reunião de diretoria, foram enquadrados três projetos grandes. Um deles de R$ 2,59 bilhões da área de telecomunicações, outro de R$ 1,17 bilhão da área de eletricidade e outro de R$ 750 milhões, da área industrial, localizado na Bahia", informou. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Castro: "Salto de demanda sinalizado pelas consultas é fantástico"

Castro, que é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e já foi presidente do BNDES, defende que a retomada da atividade, que até agora se deu de forma espontânea, com contribuições importantes do governo, como a aprovação da Lei de Falências, a política industrial e o projeto das Parcerias Público-Privadas, deve partir para o que ele define como um "crescimento desbravador". "Coloca-se no caso o problema da qualidade do crescimento, o que não havia até agora". O BNDES , adiantou Castro, será o primeiro a dar sua contribuição para esse salto necessário de qualidade. O banco não vai mais trabalhar com a idéia de que "qualquer projeto é bom", avisou. "Vamos procurar aumentar a qualidade da estratégia do investimento". Como exemplos, ele lembrou que chegam ao banco projetos na área de açúcar e álcool. Mas apenas um ou outro desses projetos inclui a queima do bagaço da cana, que significa co-geração de energia. "Quem não queima o bagaço joga dois terços da energia fora". O banco começa a discutir como trabalhar para redefinir o projeto de maneira a fomentar a queima do bagaço. "Reforça o projeto micro e do ponto de vista macro do estrangulamento energético é uma beleza", observou. O BNDES, portanto, quer agora ter uma participação mais ativa, promovendo a sintonia entre o crédito e a política industrial e tecnológica. Para ajustar o processo de financiamento a essa nova estratégia com base na inovação - que será transmitida a todo tipo de projeto, desde os estruturantes, até os das pequenas e médias empresas - o banco criou dois grupos de trabalho que vão estudar novos produtos financeiros para ajustar a necessidade das empresas com a inovação. "Vamos sair do empréstimo padrão e partir para a diversificação, que inclui até uma diversificação da carteira em termos regionais", revelou Castro. "Esse esforço vai mobilizar toda a casa. Se o banco fizer isto voltará a ser uma espécie de farol da economia", completou o diretor de planejamento.