Título: Em disputa competitiva, taxa de reeleição despenca
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A9

Nas disputas municipais mais competitivas dos últimos tempos, com muitas reviravoltas e um recorde de 50 cidades que empurraram a definição para o segundo turno, a renovação deu o tom entre os maiores eleitorados do país. Nenhum dos três prefeitos que tentavam renovar o mandato na rodada de ontem foi bem-sucedido, o que fez a taxa de reeleição nas capitais despencar. Caiu de 95% - 19 prefeitos em 20 conseguiram, em 2008 - para apenas 50%: oito prefeitos se lançaram e apenas quatro se elegeram, todos no primeiro turno.

O efeito indireto do clima de mudança foi a fragmentação partidária. Onze legendas elegeram os prefeitos das 26 capitais. A dispersão supera as oito siglas vencedoras em 1996 e 2004; as nove, em 1992 e 2000; e as dez, em 2008.

Há novidade até na liderança. Pela primeira vez desde a redemocratização, um partido fora da trinca formada pelos três grandes - PT, PSDB e PMDB - obtém o maior número de capitais. É o PSB, que conquistou cinco cidades, quatro delas com disputas renhidas com o PT: Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho, ontem, e Belo Horizonte e Recife, ganhas no primeiro turno. Apenas na capital de Rondônia, o confronto direto foi com o PV.

Num dos páreos mais acirrados do segundo turno, entre dois desconhecidos no cenário nacional, o deputado estadual Roberto Cláudio (PSB) bateu o ex-secretário municipal Elmano de Freitas e pôs fim aos oito anos de administração petista em Fortaleza.

O resultado representa um fortalecimento do projeto presidencial do líder da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que fez destas eleições municipais uma plataforma para 2014. O partido venceu em seis das sete cidades que disputava no segundo turno, incluindo Campinas, também sobre o PT. O saldo fez com que a sigla saltasse de modo expressivo sua participação no grupo dos 83 municípios com mais de 200 mil eleitores, que era de 5,2% para 13,2%.

O PT caiu de 26% para 19%, assim como seu maior aliado no governo federal, o PMDB, que foi reduzido à metade: de 22% para 11%. O encolhimento dos grandes reforçou a pulverização partidária. O rol das maiores cidades, ocupado por 12 siglas nas últimas três eleições, agora terá 16. O DEM, apesar de ter definhado nos menores municípios, especialmente devido ao racha que levou à criação do PSD, ganhou sobrevida nos grandes e manteve o percentual de 6%. Quem foi varrido do grupo é o PTB, presidido pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, cassado em meio ao escândalo do mensalão.

Sobre o PT, o tão debatido efeito do julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal foi menos evidente. O partido ficou em segundo lugar no ranking das capitais, com quatro cidades, mas conquistou a mais cobiçada delas, São Paulo. Com o discurso da mudança, o ex-ministro Fernando Haddad derrotou o ex-governador José Serra (PSDB), alçou a legenda de volta ao poder da prefeitura, depois de oito anos, e quebrou um tabu. É a primeira vez desde a redemocratização que São Paulo elege um prefeito apoiado pelo presidente da República. A associação entre as máquinas federal e municipal torna-se um fator de risco para a reeleição de Geraldo Alckmin, em 2014. Além de São Paulo e Goiânia, esta conquistada no primeiro turno, o PT governará João Pessoa, onde Luciano Cartaxo derrotou com folga o senador Cícero Lucena (PSDB), e Rio Branco, numa disputa, apertadíssima, em que Marcus Alexandre bateu o também tucano Tião Bocalom por 50,8% a 49,2%.

Os sucessos dos tucanos nas capitais também foram quatro: ao lado de Maceió, vencida há três semanas, terá Teresina (Firmino Filho), Belém e Manaus, onde o ex-senador Arthur Virgílio impôs uma derrota expressiva sobre Vanessa Grazziotin. A senadora do PCdoB era apoiada por um grande bloco de caciques, entre eles o governador Omar Aziz (PSD), o senador e ex-governador Eduardo Braga (PMDB). Em Belém o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), depois de liderar praticamente todo o processo eleitoral, sucumbiu diante da força da máquina estadual que moveu o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB).

O PDT emplacou a quarta colocação, ao conquistar três capitais. Depois de levar Porto Alegre, no primeiro turno, ganhou agora Natal (Carlos Eduardo) e Curitiba. Na capital paranaense, a vitória do ex-tucano Gustavo Fruet (PDT), com a ajuda dos neoaliados petistas, inaugura um novo ciclo na prefeitura.

O DEM, o PP e o PMDB terminaram com duas capitais cada. Ao vencer o petista Nelson Pelegrino, o deputado federal ACM Neto, em Salvador, representa não só o ressurgimento do carlismo de seu avô como a sobrevida do partido, que também ganhou Aracaju no primeiro turno.

O PP, que já tinha levado Palmas, venceu com extrema facilidade o PMDB que domina Campo Grande há duas décadas: deu o radialista Alcides Bernal contra o deputado federal Edson Giroto, candidato do cacique e governador Andre Puccinelli. Com a derrota, os pemedebistas, que elegeram seis em 2008, ficaram reduzidos ao Rio de Janeiro e Boa Vista, vencidas no primeiro turno.

O PPS retornou ao clube das capitais, no duelo da oposição em Vitória, onde Luciano Rezende bateu o tucano Vellozo Lucas.

As maiores novidades foram o PSOL (em Macapá), o PTC (São Luís) e o PSD (Florianópolis), que ganharam suas primeiras capitais. Os dois primeiros contribuíram para derrubar a taxa de reeleição, ao derrotarem prefeitos. O terceiro que fracassou foi Elmano Férrer (PTB), em Teresina. O clima de mudança provocou também um recorde de viradas. O segundo colocado ultrapassou o líder do primeiro turno em 13 das 50 cidades. A taxa, que era de 12% em média, subiu para 26%.