Título: PSB é o que mais cresce nas grandes cidades
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A10

A vitória de Fernando Haddad em São Paulo desequilibrou o cenário eleitoral nos municípios a favor do PT. O partido passa a governar cerca de 27 milhões de eleitores, ou sete milhões a mais do que obteve há quatro anos. Sem os 8,6 milhões de votantes paulistanos, o PT teria diminuído nas eleições de domingo.

O PMDB recuou sua fatia de poder no eleitorado brasileiro de 28,5 milhões para 22,9 milhões de eleitores e o PSDB manteve sua participação quase inalterada: governava 17,6 milhões de votantes após as eleições de 2008 e agora administrará 16,3 milhões. O retrocesso mais relevante foi o do PMDB, cuja participação no eleitorado das cidades grandes, entre 200 mil e 1 milhão de eleitores, foi cortado de 18% para 9% do total. O partido caiu de 14 para oito prefeituras nesta faixa. Perdeu espaço de maneira difusa, em capitais como Goiânia, Campo Grande, Porto Alegre e Florianópolis e cidades como Campos (RJ), Campina Grande (PB), Montes Claros (MG), entre outros.

O PSB foi o partido que mais avançou, sobretudo pelo seu desempenho nos grandes municípios. A fatia do eleitorado administrado pelo partido passou de 7,6 milhões para 15,3 milhões de votantes nos últimos quatro anos. No conjunto das 73 cidades com eleitorado entre 200 mil e 1 milhão de habitantes, a sigla comandada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou de 3 para 8 municípios sob seu controle, governando 3 milhões de eleitores, quase o triplo do que havia obtido há quatro anos.

O partido também se expandiu na faixa das metrópoles, colégios eleitorais acima de 1 milhão de habitantes. Governará três cidades deste bloco, que somam 19% do eleitorado nesta faixa. O PT fica com 35% do total, graças à vitória de Fernando Haddad em São Paulo e o PMDB se equipara ao PSB em razão da reeleição de Eduardo Paes no Rio de Janeiro. Foram as únicas vitórias de petistas e pemedebistas neste segmento.

Petistas e tucanos tiveram um leve declínio nas grandes cidades. O PT perdeu quatro dos 18 municípios em que havia ganho em 2008, mas a fatia dos votantes que administra caiu apenas de 24% para 23% do total entre 2008 e 2012. O PSDB venceu em 12 municípios nesta faixa, um a menos que há quatro anos e reduziu a fatia do eleitorado que administra de 4,5 milhões para 4,2 milhões de eleitores.

O bom resultado do PSB nas grandes cidades e nas metrópoles se deve a dois fatores: o sucesso dos governadores da sigla, Eduardo Campos e Cid Gomes, em eleger os prefeitos do Recife e Fortaleza e a vitória de aliados dos governadores tucanos em São Paulo e Minas Gerais. O partido ganhou em Belo Horizonte e nas paulistas Campinas, Limeira e São José do Rio Preto.

O PSDB ganha um perfil mais urbano nas eleições deste ano, com uma expansão nos municípios de porte médio, entre 50 e 200 mil votantes. O partido elegeu 54 prefeitos nesta faixa, sendo 29 deles de São Paulo. O partido passa a governar 16,6% do eleitorado das cidades deste porte, o melhor resultado desde 2000. Nas cidades pequenas, os tucanos mantiveram a trajetória declinante: caíram de 452 para 396 prefeituras de até 10 mil eleitores e de 275 para 237 cidades entre 10 mil e 50 mil votantes.

Nos municípios médios, o PT manteve uma relativa estabilidade. Passou de 55 para 57 municípios controlados, entre as eleições de 2008 e 2012, mas a população governada nesta faixa recuou de 5,6 milhões para 5,3 milhões de eleitores. A maior parcela está em São Paulo, onde a sigla elegeu prefeitos em treze cidades médias. O partido, contudo, obteve menos da metade do total conseguido pelos tucanos.

Em termos regionais, entretanto, o partido conseguiu resultados mais expressivos no Rio Grande do Sul, governado pelo petista Tarso Genro, e em Minas Gerais, comandada pelo tucano Antonio Anastasia. O partido elegeu prefeitos em nove cidades médias em cada Estado. Em Minas, o PSDB elegeu oito prefeitos nesta faixa. O PMDB manteve-se como a maior legenda, com 65 municípios de porte médio.

Nas cidades pequenas, abaixo de 50 mil eleitores, o principal partido de oposição permanece em declínio, enquanto o PT se expande nos grotões.Nos municípios com até 10 mil eleitores, um universo que encolheu de 3,5 mil para 3,1 mil municípios nos últimos doze anos, o PT tornou-se o terceiro maior partido em número de prefeitos, com a eleição de 299 administradores. O PSDB segue com mais expressão, mas recuou de 452 para 396 municípios governados nesta faixa.

O resultado eleitoral mostra que nem sempre o controle dos governos estaduais garante ao partido do governador a hegemonia nas cidades de pequeno porte. Nos menores municípios do país, o PMDB conseguiu a eleição do maior número de prefeitos, com 635 cidades, graças às máquinas de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que se mostraram relativamente preservadas apesar do partido ter perdido o controle da administração estadual há mais de um mandato.

Foram 106 prefeitos gaúchos do PMDB e 90 mineiros. O partido demonstrou vitalidade ainda em Santa Catarina, estado em que perdeu o mando estadual na eleição de 2010. A legenda elegeu 74 prefeitos entre as cidades com menor eleitorado, o dobro do resultado obtido pelo recém criado PSD do governador Raimundo Colombo.

O PT teve seu crescimento mais expressivo nas cidades entre 10 mil e 50 mil eleitores, graças ao resultado obtido na Bahia. Estão nesta faixa 41 milhões de eleitores, a maior fatia do eleitorado brasileiro. No estado governado pelo petista Jaques Wagner, o partido foi derrotado na capital, mas conseguiu eleger 63 prefeitos nesta faixa de eleitorado, ou quase um quarto dos 264 vitórias da sigla neste segmento.

O PSD também teve na Bahia a sua principal coluna. O partido é uma linha auxiliar do governo estadual e é controlado pelo vice-governador Otto Alencar, egresso do PP. A nova sigla elegeu 70 prefeitos no Estado em municípios com até 50 mil eleitores.

A saída do prefeito paulistano Gilberto Kassab do DEM, há um ano, já havia reduzido drasticamente as perspectivas para a sigla, que em 2008 conquistou o direito de governar 15,8 milhões de votantes. Agora irá governar 6,4 milhões de eleitores, sendo 30% deles de Salvador, onde venceu ACM Neto.

O partido viu o seu espaço político encolher drasticamente entre os municípios abaixo de 200 mil eleitores. Na Bahia, o partido conquistou Salvador, mas elegeu apenas cinco prefeitos nos municípios entre 10 e 50 mil eleitores. Em Pernambuco, terra de Marco Maciel, o único vice-presidente eleito pela sigla no tempo em que ainda se chamava PFL, o partido não elegeu um único prefeito sequer entre as cidades pequenas e médias.

Estreante em eleições, o PSD conseguiu o direito de governar 8,6 milhões de eleitores. Por uma coincidência, exatamente o eleitorado de São Paulo, em que Kassab foi derrotado ao indicar o vice na chapa do tucano José Serra. Nenhuma de suas vitórias ocorreu em metrópoles e o partido ganhou em apenas quatro grandes cidades. A de maior porte é Ribeirão Preto (SP), onde Dárcy Vera se reelegeu.