Título: Lula tenta apaziguar PT na sucessão da Câmara
Autor: Maria Lúcia Delgado e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Política, p. A6

A cúpula do PT deu início ontem a uma operação para arregimentar apoios e reduzir as resistências internas e externas à candidatura do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) à presidência da Câmara. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) para uma conversa na noite de ontem, no Palácio do Planalto. O petista articula uma candidatura avulsa (independente de aval partidário), e conta com o apoio de dezenas de deputados descontentes com o governo, seja na base aliada ou na oposição. Além da interferência direta de Lula para colocar ordem nas desavenças petistas, o próprio Greenhalgh pôs a campanha na rua, aconselhado por colegas. O candidato oficial da bancada do PT pediu auxílio ao vice-presidente da República, José Alencar. A missão de Alencar é convencer os rebeldes do PL a apoiar o candidato oficial do PT. "A decisão do PT está tomada e consolidada. Eu sou o candidato do PT, eu sou o candidato da bancada", disse Greenhalgh. Na segunda-feira, o PT organiza uma reunião ampliada em apoio a Greenhalgh, que contará com a presença do atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha. A idéia é acabar com as especulações de que João Paulo, nos bastidores, apóia Virgílio Guimarães. O presidente da Câmara e Greenhalgh estão em contato permanente. João Paulo nega que seja a favor da candidatura de Virgílio. Os petistas vão reanalisar a estratégia de lançar um manifesto do partido a favor de Greenhalgh. A idéia é agir agora coletivamente, com todos os partidos. A ala governista do PT já dá sinais de que o mineiro poderá ser expulso do partido, caso insista nesta estratégia de confronto. "Se houver uma candidatura avulsa do PT contra o PT, um dos candidatos é ex-petista. Não é possível uma candidatura avulsa que não produza conseqüências. E o Virgílio sabe disso, porque foi um dos construtores do PT", afirmou o deputado Paulo Delgado (PT-MG), que ontem articulava ao lado de Greenhalgh. O movimento "Câmara Forte", criado em prol do mineiro, ganha peso e preocupa o campo majoritário do PT, que iniciou um diálogo com parlamentares da base e da oposição. As lideranças mais importantes do PSDB confirmam que defenderão a candidatura de Greenhalgh. Ontem, o prefeito de São Paulo, José Serra, disse estar aberto ao diálogo com o PT. Serra almoçou com o vice-presidente do partido, senador Eduardo Azeredo (MG), no Palácio do Anhangabaú. O ex-governador de Minas declarou após o encontro que o partido vai apoiar Greenhalgh, apesar de o PT ter agido contra o PSDB na escolha da presidência da Câmara Municipal. Nas reuniões com aliados, Virgílio Guimarães prometeu ir até o fim. Ontem, ele participou de almoço em Brasília na casa do deputado João Leão (PL-BA), com a presença de 21 parlamentares. Segundo relatos dos presentes, deputados do PT ligaram para o celular de Virgílio durante o almoço. Alguns líderes estão atuando indiretamente em favor de Virgílio, para não se desgastarem politicamente com o governo. O líder do PPS, Júlio Delgado (MG), estava presente no almoço, mas evitou a imprensa. "Fui participar de uma conversa como amigo do Virgílio, que me convidou, mas não como líder do PPS nem como representante da bancada", disse. Em conversas reservadas, líderes da base revelam as resistências ao nome de Greenhalgh. "O processo está muito confuso e em aberto. Virgílio está sendo sustentado por lideranças formais e informais que não querem aparecer, e está obstinado. Mesmo se ele desistir, vai aparecer outro candidato", disse um parlamentar da base. Em outra frente, o PT dialoga com o PTB. Lula, Greenhalgh e o presidente do PT, José Genoino, tiveram longas conversas com o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). O líder do PTB, José Múcio (PE), é apontado como possível candidato à presidência. Para apaziguar o PL, José Alencar conversou ontem com quatro deputados, mas não obteve sucesso. "O Alencar nos disse que a pedido do Lula estava fazendo um apelo para votarmos no candidato oficial do PT", relatou o deputado João Caldas (PL-AL), entusiasta da candidatura de Virgílio. "Só que, desta vez, os caciques não vão mandar na tribo". Os parlamentares que integram o movimento Câmara Forte garantem que já foram contabilizados 292 votos a favor da candidatura de Virgílio Guimarães. "Quase a unanimidade do PL vai votar nele", assegurou João Caldas. Os deputados disseram estar abertos a conversar com Greenhalgh, mas avisam que não mudarão o voto. "O governo que fique no lugar dele. Se o governo tirar o Virgílio da disputa, entra qualquer outro e qualquer outro vence o Greenhalgh", acrescentou o parlamentar. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)