Título: Serra afirma que deixa a campanha revigorado
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A14

Derrotado pela segunda vez em dois anos por um candidato do PT que jamais havia disputado uma eleição, José Serra (PSDB) não deu mostras em seu discurso, feito após a divulgação do resultado da votação para a Prefeitura de São Paulo, de que o novo revés colocará um ponto final em sua carreira política. Pelo contrário, disse sair "revigorado" da disputa. "Termino a campanha com mais energia, mais vigor, com mais disposição e novas ideias do que quando comecei. Vamos em frente ".

Serra chegou por volta das 21h ao palco armado no comitê de campanha tucano, onde lia-se a frase "Obrigado São Paulo". Em seu curto discurso - descontados os agradecimentos protocolares, durou aproximadamente cinco minutos - o tucano garantiu ter feito uma "campanha limpa, propositiva, com ideias novas para melhorar a vida da cidade. Uma campanha que defendeu a ética na vida pública". Desejou sorte ao vencedor Fernando Haddad (PT) e defendeu a atual gestão, do aliado Gilberto Kassab (PSD). "As urnas falaram e as urnas são soberanas. Desejo aqui boa sorte ao prefeito eleito. Desejo que cumpra as promessas que fez na campanha. O protagonista de hoje foi o eleitor", observou. "Os últimos anos registraram grandes avanços, conquistas muito importantes para a cidade promovidas pela prefeitura e o governo do Estado. Esperamos que essas conquistas sejam mantidas. Que não haja retrocesso".

O tucano, que concorreu pela sétima vez a um cargo do Executivo - foi candidato a governador de São Paulo em 2006, a presidente da República em 2002 e 2010 e à prefeito da capital paulista em 1988, 1996, 2004 e 2012 - obteve no segundo turno da sucessão à capital paulista seu menor percentual de votos na cidade nos últimos dez anos.

Na comparação com 2010, quando perdeu a Presidência da República para Dilma Rousseff (PT), mas foi o mais votado em São Paulo, o eleitorado de Serra minguou de maneira notável. Naquela eleição, 3,4 milhões de paulistanos digitaram o "45" na urna. Se todos tivessem repetido o gesto, Serra estaria eleito. Mas pelo menos 700 mil eleitores que desejaram o tucano como presidente em 2010 o rejeitaram como prefeito em 2012, e Serra obteve 2,7 milhões de votos.

O vice-governador do Estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (DEM), afirmou que o resultado da eleição municipal reflete um desejo do eleitorado "pela renovação da política". Afif avaliou ainda que o cenário atual demonstra um desafio para o debate das eleições de 2014. "Houve uma preferência do eleitorado de São Paulo pela renovação da política. Sem dúvida o Serra era o candidato com mais história, mas há uma tendência de renovação e estamos vendo isso em todo o país", disse.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) discordou. Para ele, "não foi a questão da renovação [que decidiu a eleição], foi o fato de que o nosso adversário insistiu muito na tese de que o nosso candidato abandonaria a prefeitura. Isso foi muito massificado na cabeça do eleitor". Amigo de Serra, o senador defendeu que ele continue a atuar na vida pública. "Serra é um dos grandes líderes políticos do país, um quadro de primeira grandeza. Evidentemente, tem a disposição de continuar na política e na vida pública, independente de se vai concorrer a isso ou aquilo. Seria uma pena o Serra se afastar".

Outro aliado que compareceu ao evento, o prefeito Gilberto Kassab parabenizou os dois candidatos, em especial o vencedor, Fernando Haddad (PT). Kassab garantiu que "a Prefeitura de São Paulo, a partir de amanhã, está à disposição" para ajudar Haddad no período de transição de governo. "Eu, pessoalmente, estou à disposição porque São Paulo merece dar esse tratamento ao prefeito eleito", completou. Kassab reforçou sua admiração por José Serra, dizendo que o considera "uma das pessoas mais bem preparadas do país".

Pela manhã, Serra deixou sua residência para votar por volta das 10 horas. Acompanhado dos três netos, Antônio, Gabriela e Francisco, além de boa parte da cúpula de sua campanha - o governador Geraldo Alckmin (PSDB), Kassab, Aloysio Nunes e seu candidato a vice, Alexandre Schneider -, o tucano fez um rápido pronunciamento à imprensa no local de votação, sem responder a perguntas, e reconheceu que a campanha foi mais difícil neste ano, mas disse então que estava otimista e confiante. "Como dizia o velho guerreiro Chacrinha, a eleição acaba quando termina. Vamos aguardar a conclusão do dia de hoje". O tucano pediu que os eleitores fiscalizem a gestão nos próximos quatro anos.

Depois, Serra acompanhou o voto do governador Alckmin no colégio Santo Américo, no Morumbi, mesmo local de votação de Celso Russomanno, candidato do PRB derrotado no primeiro turno. Nos moldes de Serra, Alckmin falou rapidamente aos jornalistas e também se declarou confiante na vitória do partido. "Serra fez uma excelente campanha, com garra para propostas, muito perto da população. [Temos] toda nossa confiança aguardando o resultado das urnas". Perguntado sobre o impacto do resultado das eleições municipais na sua possível campanha à reeleição em 2014, Alckmin desconversou: "Tudo tem seu tempo, agora é 2012". Em seguida, Serra dispensou seus assessores e ficou com a agenda livre pela tarde, até encaminhar-se ao comitê onde se pronunciou após o resultado.