Título: O efeito econômico das catástrofes
Autor: Andy Mukherjee
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Opinião, p. A9

Com os países asiáticos, da Indonésia à Tailândia e da Índia ao Sri Lanka, ainda contando seus mortos após a passagem dos tsunamis assassinos, um economista de peso previu que a maior catástrofe mundial do último período de quase três décadas seria, de fato, boa para o crescimento econômico. "Por mais perverso que possa parecer, catástrofes desse tipo geralmente têm efeitos de longo prazo positivos", disse C. Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional, instituto de pesquisa privado e apartidário. "O processo de reconstrução exige muito investimento novo e, nesse caso, parte do investimento deve ser financiado por instituições estrangeiras", afirma Bergsten, que também dá consultoria ao G8, grupo de países industrializados, durante suas reuniões de cúpula anuais. "Mas haverá novos investimentos. Isso gerará contratos para o setor de construção. O resultado: mais empregos e um crescimento maior." Além disso", prossegue Bergsten, "quando resorts litorâneos melhores e mais novos substituírem as propriedades inundadas pelas ondas oceânicas gigantes, a província tailandesa costeira de Phuket, que registrou centenas de mortos e desaparecidos, poderá obter mais receita com o turismo do que antes da catástrofe. Após construírem novos hotéis do tipo resort, essas instalações serão mais modernas e mais atraentes", avalia o economista. Embora pareça perverso, o resultado líquido dessas catástrofes é a geração de um impulso para a atividade econômica, pelo menos no curto e no médio prazos, e a melhora da infra-estrutura básica e, portanto, das perspectivas a longo prazo." Não tenhamos pressa em acusar Bergsten de insensibilidade. Ele deixou claro, no início da entrevista para a rádio NPR, no dia 29, que sua análise só estava vinculada aos custos e aos benefícios. "Não quero que nada que eu diga diminua a tragédia humana", disse ele, "que obviamente foi enorme." Será que a tese de Bergsten é plausível? Provavelmente não, por dois motivos. Primeiro, porque é impossível separar a tragédia humana da catástrofe econômica. Será que alguém é capaz de dar baixa contábil na equação de custo-benefício das vidas das 155 mil pessoas mortas ou desaparecidas, da Tailândia à Somália, apenas porque a maioria delas era pobre, vivia em países pobres e suas vidas não estavam no seguro? Em segundo lugar, porque o argumento de Bergsten pode ser um exemplo da falácia da chamada teoria da "janela quebrada", diz Christopher Westley, professor de economia da Universidade Estadual de Jacksonville, no Alabama. Catástrofes não são boas para o crescimento econômico, diz Westley . Como demonstrou o economista francês do século 19, Frederic Bastiat, em seu famoso ensaio "O que se vê e o que não se vê", o dinheiro gasto no conserto de uma janela quebrada apenas transfere para o vidraceiro parte da renda do proprietário da casa que, não fosse pelo reparo, teria servido para comprar, digamos, um novo terno. "Não há nenhum benefício para um setor em geral ou para o nível de emprego nacional como um todo", concluiu Bastiat, "quer janelas sejam quebradas ou não".

Embora pareça perverso, o resultado líquido dessas catástrofes é gerar estímulo para a atividade econômica no curto e no médio prazos

Será que isso significa que todas as especulações a respeito da aceleração do crescimento econômico após catástrofes naturais ou geradas pelo homem - como o terremoto que destruiu a cidade japonesa de Kobe, em 1995, os atentados terroristas de Nova York e Washington, em setembro de 2001, ou os furacões da Flórida, no ano passado - são apenas erros de raciocínio? Se a resposta a essa pergunta fosse tão clara quanto Westley a faz parecer, seria difícil acreditar que economistas da estatura de Bergsten dariam a ela qualquer crédito. Fica evidente que a relação entre catástrofes e crescimento econômico é um problema sem solução, mais de 150 anos após a morte de Bastiat, devido ao fato de que pesquisadores ainda hoje se perguntarem: "será que desastres naturais promovem crescimento econômico no longo prazo"? Esse foi o título de um estudo publicado em 2002 pelos economistas Mark Skidmore, da Universidade de Wisconsin, e Hideki Toya, da Universidade de Nagoya, no Japão. Na pesquisa, eles mostraram que catástrofes como inundações e furacões, que são mais fáceis de prever e ocorrem com mais freqüência, de fato impulsionam o crescimento econômico de longo prazo. Eventos menos freqüentes, ou mais difíceis de prever, como terremotos ou tsunamis, não têm um impacto benéfico. É fácil ver o porquê disso. Sempre que as inundações ou os furacões anuais destroem uma casa, uma fábrica ou qualquer outro tipo de capital físico, a substituição do que foi destruído geralmente envolve algum tipo de melhora tecnológica, o que é bom para o crescimento econômico. Uma catástrofe extraordinária, por outro lado, só é capaz de gerar uma explosão de crescimento em um trimestre ou em um ano. Ela não levará a um aumento da atividade econômica ano após ano. Além disso, "uma catástrofe que afete tanto as vidas humanas quanto os ativos físicos não promove crescimento econômico de longo prazo", explicou Toya. Provavelmente seja tentador para os investidores acreditar que os tsunamis asiáticos estimularão o crescimento. Mas nesse caso, como a tragédia humana superou de longe os danos econômicos, eles provavelmente se dariam melhor se adotassem a máxima de Bastiat: "a destruição não é lucrativa."