Título: Violência, um tema em ascensão para 2014
Autor: Madureira , Daniele
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A14

A escalada da violência na Capital e em municípios da Grande São Paulo nos últimos meses teve reflexos marginais nos resultados definidos ontem, ainda que tenha entrado na pauta dos candidatos às prefeituras da região e ajudado a eleger vereadores. Mas, segundo especialistas e políticos consultados pelo Valor, as próximas batalhas dessa guerra, cujos sinais indicam participação ativa da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), serão vitais para medir o peso que terá a segurança pública nas eleições para o governo do Estado em 2014.

Classificado como uma "onda" por Antonio Ferreira Pinto, secretário de Segurança Pública do Estado, governado pelo PSDB, o aumento de homicídios dolosos na capital paulista já havia sido expressivo em setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições. Foram 135 casos, dezenas vitimando policiais, 27% mais que em agosto e quase o dobro do total registrado em setembro de 2011. Houve 13 latrocínios no mês passado, o triplo das ocorrências do gênero em agosto. Concentrada na periferia, a "onda" segue forte em outubro. Foram de 20 a 30 homicídios apenas entre quinta-feira e ontem, segundo cálculos preliminares.

O cientista político Guaracy Mingardi, analista criminal e assessor da Comissão Nacional da Verdade lembra que a violência está concentrada em bairros da periferia tradicionalmente contrários a candidaturas do PSDB. Um desses redutos é Guaianases. Ali foram registradas diversas ocorrências nas últimas semanas - na quinta-feira, um motoboy foi assassinado a tiros. O candidato do PT, Fernando Haddad, venceu o tucano José Serra no bairro, mas a vitória provavelmente aconteceria mesmo em tempos mais tranquilos. O raciocínio vale para Cidade Tiradentes e São Mateus, também na zona leste, e Parelheiros, na zona sul, onde dois corpos foram encontrados em um carro na sexta-feira.

Mesmo que não tenha definido eleições para prefeituras, também não se pode afirmar que a população ficou alheia à guerra não declarada. Essa influência aparece com cores mais nítidas, por exemplo, na escolha dos representantes à Câmara dos Vereadores do município de São Paulo. Eleito suplente pelo PSD em 7 de outubro, o ex-comandante da Polícia Militar Coronel Camilo lembra que saíram do pleito com lugares garantidos na Câmara a partir do ano que vem o ex-coronel Paulo Telhada (PSDB) e o capitão Conte Lopes (PTB).

"Quando você tem três oficiais da polícia na Câmara, é evidente a preocupação que a população demonstra com a segurança pública". Para Camilo, que é do mesmo partido do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a prefeitura pode ajudar muito a segurança pública. "A desordem urbana - com questões como a falta de iluminação, o trânsito, o lixo, o entulho e os ambientes degradados - cria um ambiente propício para o crime".

Para Guaracy Mingardi, caso a escalada continue e avance por 2013 sem ser contida, o tema tende a ter grande peso nas eleições para o governo de São Paulo, em 2014, opinião compartilhada pelo cientista político André Zanetic, também especializado em segurança pública. Nesse sentido, o deputado estadual Major Olimpio Gomes (PDT), afirma que o governo do Estado precisa admitir que há uma crise nesta frente. "Tenho acompanhado velórios de PMs e há um sentimento de revolta dos policiais, que se sentem abandonados pelo Estado". Gomes não vê indícios de interferência político-partidária na crise, e também acredita que sua influência será maior em 2014, já que "segurança pública é 90% responsabilidade do Estado".

Para Zanetic, é possível que a crescente onda de homicídios reflita uma política de segurança mais agressiva por parte do Estado. "Trata-se de uma estratégia arriscada, porque pode provocar uma reação exagerada de criminosos". Mas, conforme George Melão, presidente do sindicato dos delegados de polícia do Estado de São Paulo, é justamente a ausência de um projeto de segurança pública estadual bem definido que explica a escalada. "São tomadas apenas medidas paliativas, como aconteceu no caso dos crimes na Baixada Santista e em Ribeirão Preto", disse, em referência a ações para ampliar o efetivo de militares e a presença da Rota nessas regiões.