Título: "Quem decide sou eu", diz Lula sobre pretensões do PT
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2007, Política, p. A10

De bom humor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem uma breve conversa com jornalistas, após o almoço com Evo Morales no Itamaraty, para enviar um duro recado ao PT: "Querer eles podem até querer (ampliar espaços na reforma ministerial), mas quem decide sou eu", disse Lula, sorrindo.

Lula e o presidente boliviano chegaram com ligeiro atraso - não mais de 20 minutos - para o almoço no Itamaraty. A programação estava comprometida desde a manhã. Devido à chuva, Morales não subiu a rampa do Palácio do Planalto, como estava previsto. Entrou pela garagem.

A chuva também reteve na Bolívia o avião reserva de "Evo", como Lula se referia ao presidente vizinho. "Por aqui, Evo", guiava o presidente pelos corredores do Itamaraty. À expressão sempre séria de Morales, se contrapunha um Lula sorridente e bem-humorado, inclusive ao ser abordado pelos jornalistas, no fim do almoço, quando foi questionado sobre a reforma ministerial.

"Estou fazendo reflexões", esquivou-se o presidente. Lula disse que vai passar o Carnaval "refletindo, refletindo". Brincou, dizendo que no Carnaval queria estar em Pernambuco, mas em seguida pediu para os jornalistas não apostarem numa data para o anúncio dos novos ministros. Será depois do feriado, mas ele ainda não decidiu o dia. A aposta no Congresso é a primeira semana do mês de março.

Lula foi então questionado sobre o PT. No primeiro desenho da reforma, a aposta era que o partido do presidente perderia espaço, no máximo manteria as atuais posições. No entanto, sobretudo depois da vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara, o PT demonstrava querer não só manter o espaço de que já dispõe, mas também ampliá-lo, recuperando espaço perdido na área de infra-estrutura, por exemplo.

"Não quer não", foi a reação inicial de Lula. Lembrado da pressão do PT para colocar Marta Suplicy no ministério, entre outras gestões do partido, o presidente disse, enquanto caminhava em direção a sala onde em seguida se reuniria com o presidente boliviano: "Eles não querem nada". Sempre sorrindo, completou: "Quem decide sou eu. Querer eles podem querer, mas quem decide sou eu".

Lula afirmou que ainda não decidiu nem quem fica nem quem sai do governo. E que vai refletir sobre isso durante o Carnaval. Segundo o presidente "só quem tem cargo garantido sou eu e o José de Alencar", disse, referindo-se ao vice-presidente, seu companheiro de chapa nas duas últimas eleições presidenciais. Voltou a dizer que ainda não tem uma data para anunciar a reforma do ministério, inicialmente prevista para logo após as eleições e que foi sendo adiada sucessivamente por Lula.

Apesar de ter aparentado bom humor enquanto falava sobre o PT, o Valor apurou que Lula está efetivamente incomodado com a pressão exercida pelo partido por mais espaço na Esplanada dos Ministérios. A um interlocutor o presidente disse que voltara a considerar a permanência de Fernando Haddad no Ministério da Educação, quando na reunião com o PMDB, no início da semana, chegara a dizer que a Educação teria uma "ministra" - o que logo foi entendido como uma referência a Marta Suplicy.

Além do PT, há problemas também com a bancada do PMDB na Câmara. O presidente sugeriu que os deputados assumissem o nome do médico José Gomes Temporão, a exemplo do que fizera o governador do Rio, Sérgio Cabral. O líder Henrique Alves informou que havia problemas com a bancada - que quer indicar um deputado -, mas que ele poderia tentar compor para que Temporão ficasse na secretaria-executiva.

Lula já recebeu os dirigentes do PMDB, PP e PDT. Falta ainda conversar com o PSB e o PT, entre os partidos da coalizão que terão representantes no primeiro escalão do governo, antes de se retirar para as "reflexões" de Carnaval. As gestões com o PTB são feitas por meio do ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), que está cotado para assumir o Ministério das Relações Institucionais. (Colaborou Thiago Vitale Jayme)