Título: Recuperação da renda agrícola acirra disputa pelo ministério
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2007, Política, p. A10

Longe dos holofotes, a luta de bastidores pelo comando do Ministério da Agricultura está cada vez mais acirrada. Quatro grupos disputam a indicação do novo ministro, que terá pela frente um cenário econômico mais favorável nos próximos anos com a recuperação da renda do setor e o "boom" dos investimentos na produção de etanol.

As principais lideranças ruralistas estão aglutinadas em torno da permanência do atual titular Luís Carlos Guedes Pinto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem emitido sinais de agrado com o trabalho do ministro, trazido ao governo por seu amigo pessoal e ex-ministro José Graziano.

Lula tem boa avaliação sobre Guedes, que até aqui tem tocado as políticas traçadas pelo ex-titular Roberto Rodrigues. Os líderes do setor avaliam que a eventual saída de Guedes pode fragilizar a Pasta e transformá-la num mero apêndice do Ministério da Fazenda. Mesmo sem peso partidário, o atual ministro teria apoio político do setor. Com apoio do setor cooperativista, Rodrigues tem trabalhado por Guedes e alguns secretários estaduais de Agricultura começam a aderir à idéia da permanência.

No Congresso, a correlação de forças favorece candidatos de PP, PDT e PTB. Mas a disputa interna nos partidos complica a situação. No PP, por exemplo, instalou-se uma divergência entre nordestinos e sulistas. O presidente do partido, Nélio Dias (RN), mede forças com Odacir Zonta (SC). Mais próximo da senadora Ideli Salvatti (PT) desde a campanha de 2006, o ex-governador Esperidião Amin também entrou na luta indicando o ex-deputado Hugo Biehl. Uma saída seria o gaúcho Luís Carlos Heinze. Mas se o PP mantiver Márcio Fortes no Ministério das Cidades, diminuem as chances na Agricultura.

Cortejado pelo presidente Lula, o PDT gostaria de emplacar O senador Osmar Dias (PR). Mas o movimento teria o veto do governador Roberto Requião, inimigo figadal de Dias. Além disso, Requião tem trabalhado pelo seu vice, Orlando Pessutti. Mas os líderes do PMDB não demonstram muito apetite para a Agricultura. Preferem Pastas mais recheadas de recursos. Ainda assim, a eleição de Waldemir Moka (MS) para a Terceira Secretaria da Câmara poderia mudar o cenário. Em nome da "união do Centro-Oeste", ele tem o apoio dos governadores André Puccinelli (MS) e Blairo Maggi (MT). A Lula, conviria trazer Puccinelli para a base aliada.

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, tenta emplacar o deputado Nelson Marquezelli (SP) para o cargo. Mas Lula não teria muita simpatia, nem por nem por outro. Além disso, o ministro Walfrido Mares Guia deve seguir no governo e José Múcio (PE) será líder do governo na Câmara.

No Ministério do Desenvolvimento Agrário, a luta se dá entre os movimentos sociais. Como objetivo comum, porém, todos querem "blindar" as direções da Conab e da Embrapa, cada vez mais importantes para a agricultura familiar. A Fetraf-Brasil prefere o ex-ministro Miguel Rossetto ou o presidente de Itaipu, Jorge Samek. A Contag veta candidatos petistas da Democracia Socialista e prefere o diretor do Banco do Nordeste, Pedro Eugênio Cabral. O MST quer ver Walter Pinheiro (PT-BA) no cargo.