Título: Giro na Bovespa atinge novo patamar
Autor: Zampieri , Aline Cury
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Finanças, p. C2

Apesar da maré não estar tão positiva para a bolsa brasileira, tem cada vez mais gente garimpando boas oportunidades no mercado de ações. Mesmo com o recuo inequívoco da pessoa física no pregão nos últimos anos, o volume financeiro negociado na BM&FBovespa não para de crescer. Maior volatilidade, dado o cenário de estresse internacional, e o impulso das negociações de alta frequência - envolvendo fórmulas matemáticas complexas, com ordens de compra e venda automática por computadores - estão por trás dessa trajetória recente.

Segundo números da Economatica, que considera apenas a negociação no mercado à vista, o volume médio diário transacionado vem crescendo pelo menos desde 2007, ano anterior ao estouro da bolha das hipotecas de alto risco. Com exceção de um pequeno soluço entre 2008 e 2009, de -5,6%, a evolução é clara. Em 2007, o volume negociado médio diário era de R$ 4,132 bilhões. Este ano, é de R$ 6,231 bilhões, um aumento de 50,7%.

E o crescimento continua. Segundo o último boletim da Bovespa, foi registrada média diária recorde tanto de volume financeiro como de número de negócios em setembro. O giro ficou em R$ 8,44 bilhões por dia no segmento Bovespa (ações), superando a marca histórica anterior, de R$ 8,28 bilhões, de fevereiro de 2012. Em agosto, o movimento diário foi de R$ 7,16 bilhões.

Segundo analistas, perspectivas melhores para a economia brasileira, a despeito dos efeitos da crise, negociações de alta frequência e até efeitos cambiais estão por trás da expansão dos negócios. A própria volatilidade característica de momentos turbulentos também ajuda a elevar o volume de transações. A queda de juros deve pavimentar o caminho para as futuras expansões.

Francisco Kops, especialista da J. Safra Corretora, cobre BM&FBovespa e destaca o volume financeiro em sua prévia para a empresa no terceiro trimestre. Estima que a bolsa apresente lucro líquido de R$ 286,3 milhões, uma queda de 1,9% na comparação com igual período de 2011. "Embora nossos números indiquem lucros menores, gostaríamos de destacar o terceiro trimestre consecutivo de média diária de volumes negociados acima de R$ 7 bilhões para o segmento Bovespa, o que pode sinalizar um outro patamar para a bolsa de valores brasileira", diz.

O estrategista do BB Investimentos, Hamilton Moreira Alves, lembra que a Bovespa passou por processos de consolidação importantes antes da chegada da crise, o que deixou o mercado mais confiável. "Antes da forte entrada de novas empresas em 2007 e da elevação do rating soberano do Brasil para grau de investimento em abril de 2008, a Bovespa negociava R$ 1,5 bilhão por dia", lembra. Segundo ele, o crescimento incessante mostra que os investidores, apesar de todos os problemas mundiais, continuam confiando no mercado local. "O estrangeiro, por exemplo, ocupou a fatia deixada pela pessoa física, que se retraiu."

As negociações no mercado de alta frequência também ajudaram a alavancar o volume da bolsa, na visão da estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi. De acordo com o balanço da BM&FBovespa, essas transações atingiram 9,1% do volume negociado com ações. Desde julho de 2011, essa fatia oscila entre 8,6% e 11,5%. A maior parte cabe aos investidores estrangeiros. Do R$ 1,5 bilhão negociado com alta frequência em setembro, R$ 1 bilhão ficou com o capital externo, R$ 300 milhões com as pessoas físicas e R$ 200 milhões com os institucionais.

Para Kops, da J. Safra, a tendência é de crescimento ainda maior via alta frequência. Se a Bovespa ganhar uma concorrente, a perspectiva é ainda mais positiva.

Já o professor da Brazilian Business School Ricardo Della Santina Torres lembra que nem tudo são flores. Ele diz que fatores cambiais fazem com que o volume se mantenha, mesmo sem entrada significativa de novos recursos. Segundo o professor, o dólar deixou a casa dos R$ 1,50 em meados de 2011 para atingir R$ 2,0. Com isso, o estrangeiro precisa de mais reais para comprar a mesma fatia de Ibovespa em dólares. Isso amplia naturalmente a presença do investidor externo nas negociações.

Apesar disso, ele também acredita que, depois da crise, muito dinheiro estrangeiro não tinha para onde ir, e trocou mercados maduros e ameaçados por economias emergentes e que ainda ofereciam algum tipo de retorno. É importante ressaltar que a economia brasileira cresceu 7,5% em 2011.

Os especialistas esperam que, se a economia brasileira continuar crescendo, as chances de expansão do volume da Bovespa continuam. Outro motivo importante é o efeito da queda de juros no sistema de poupança do brasileiro. "Também acredito que teremos uma migração lenta dos investidores para a renda variável, com a queda forte das taxas de juros no país", conclui Della Santina.