Título: Aliados trabalham para encerrar CPI até o fim do ano
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2012, Política, p. A8

Após uma reunião com a oposição que acabou em impasse, a base aliada desencadeou ontem uma operação para encerrar a CPI do Cachoeira até o fim deste ano e impedir que a comissão aprofunde as investigação sobre a empreiteira Delta. Já a oposição busca prorrogar os trabalhos da comissão por 180 dias. Ameaça apresentar relatórios paralelos e, embora minoria no colegiado, tentar impedir a aprovação do parecer do deputado Odair Cunha (PT-MG).

A CPI que investiga as conexões do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem como prazo final o dia 4 de novembro. Ou seja: em tese, o colegiado tem apenas esta semana para aprovar um relatório final. Como consequência, o relator prevê que ocorra uma corrida entre oposição e base para o recolhimento das assinaturas necessárias para a prorrogação da CPI.

Por enquanto, DEM e PSOL recolheram 34 assinaturas no Senado e cerca de 120 na Câmara, número ainda insuficiente para ampliar o prazo da CPI do Cachoeira por 180 dias. Já o requerimento da base aliada para prorrogar a comissão por 48 dias teria 150 apoios na Câmara, número mais próximo das 171 assinaturas necessárias. Os parlamentares governistas não revelaram se já haviam obtido as 27 assinaturas necessárias no Senado.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) sinalizou que a oposição poderia aceitar um prazo menor, desde que os sigilos de empresas ligadas a Cachoeira e à construtora Delta sejam quebrados. "A CPI está sob risco, estamos sob risco de ter um fim melancólico", destacou o senador. "Conforme for amanhã a votação, saberemos quem quer ou não aprofundar as investigações sobre a empreiteira Delta. Se a CPI não for prorrogada, é uma vergonha."

Caso não haja acordo e nenhum grupo conseguir tais assinaturas, Odair Cunha disse estar preparado para ler seu relatório final. "Está pronto o relatório, mas queremos debater com transparência todos os pontos", afirmou. "Eu não recuso e não reclamo tempo. Trabalhamos com o prazo certo."

O relator desconversou quando instado a comentar as declarações da oposição sobre a influência do governo para abafar as investigações. "Eu não respondo pelo governo e a oposição diz o que quer."

Ontem, durante a reunião que acabou em impasse, o relator da CPI disse aos presentes já ter em mãos um relatório robusto. Assim como outros integrantes do PT, mostrou-se receptivo à ideia de prorrogar os trabalhos da CPI por até 30 dias.

Outros partidos aliados, como o PMDB, porém, defenderam estender a comissão por mais 48 dias, período que coincidiria com o término dos trabalhos do Congresso Nacional em 2012 e poderia reduzir as críticas de que a CPI teia um fim melancólico. Nos últimos meses, o PT foi acusado de criar a CPI para ofuscar o julgamento do mensalão, atingir a Procuradoria-Geral da República, setores da imprensa e a oposição.

A oposição, por sua vez, não abriu mão da aprovação de requerimentos de quebra de sigilo de empresas que receberam recursos da construtora Delta. PSDB, DEM e PSOL querem saber o destino dos recursos. Para o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), há um "conluio" para impedir o aprofundamento das investigações sobre a atuação da Delta, cujo dono tem relações com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e acabou sendo declarada inidônea pelo governo federal. "É uma vergonha. É uma farsa de que nós não vamos participar", afirmou o parlamentar. (FE)