Título: Novo PIB mostra um Brasil 10,9% maior
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, Brasil, p. A3

A economia brasileira fechou o ano de 2005 com um tamanho 10,9% maior do que se sabia até agora e, pela primeira vez, ultrapassou a barreira dos R$ 2 trilhões. Os novos números do IBGE, calculados com base em mudanças metodológicas e no acréscimo de novas fontes de informação, mostram que o PIB brasileiro de 2005 somou R$ 2,148 trilhões a preços correntes e apresentou crescimento real de 2,9% em relação a 2005, percentual superior aos 2,3% antes conhecidos.

No novo PIB, a principal nota negativa foi a taxa de investimento, que despencou de 19,9% para 16,3% em 2005. Na próxima quarta-feira serão conhecidos os números referentes a 2006 e a taxa deve superar os 2,9% divulgados anteriormente.

Os dados informados ontem pelo IBGE revelaram que o PIB do Brasil nos três primeiros anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sempre maior do que os números até agora conhecidos. Em 2003, não cresceu 0,5%, mas 1,1%. Em 2004, a taxa alcançou 5,7%, quase igualando o recorde do Plano Real de 5,85% apurado em 1994, primeiro ano do plano, calculado pela antiga fórmula.

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, disse que os números foram diferentes, mas "não modificaram a tendência" dos anteriores, ou seja, os anos de baixo crescimento continuaram com baixo crescimento e os de alto também. Em relação ao período do governo anterior, a revisão foi menos benigna. Em 2002 a revisão foi para cima, de 1,9% para 2,7%, mas daí para trás os dados novos foram sempre iguais ou piores do que os antigos, com exceção de 1997, quando a taxa nova foi 0,1 ponto melhor do que a antiga.

De acordo com o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, a diferença de números deve-se ao fato de que enquanto os dados a partir de 2000, novo ano-base da série, foram calculados com base em todo o novo arsenal de números disponível, o cálculo de 1999 a 1995 teve que ser feito aplicando a composição nova sobre os mesmos números que já eram conhecidos.

A incorporação de novas fontes de dados ao cálculo do PIB provocou significativa mudança nos pesos de cada setor. O setor de serviços cresceu 10 pontos percentuais, passando de 56,3% do total do PIB de 2000 para 66,7%. A aplicação dessas novas ponderações sobre os dados antigos teria tido a propriedade de potencializar os pontos negativos já conhecidos.

Essa maior participação dos serviços aproximou o perfil da economia brasileira do das economias mais sofisticadas. Em 2005, último ano conhecido da nova série, o peso dos serviços fechou em 64%, contra 54,1% na metodologia antiga. Por sua vez, o do agropecuário desabou de 8% para 5,6% no mesmo ano. O pico da agropecuária na nova série foi de 7,4% em 2003, ano no qual, pela fórmula antiga, o peso do agronegócio mais havia se aproximado de 10% (9,4%).

O setor industrial perdeu quase oito pontos quando se comparam as ponderações nova e antiga referentes a 2005. A participação do setor caiu de 37,9% para 30,3%. A queda atingiu tanto a indústria de transformação (de 23% para 18,3%) como a extrativa mineral (de 4,6% para 2,6%). A produção de eletricidade, água e gás, antes classificada no PIB como "serviços industriais de utilidade pública", é que teve seu peso elevado de 3,6% para 4,2%, sempre em 2005.

A explicação do IBGE para a queda da taxa de investimentos tem dois componentes, sendo o primeiro meramente matemático: como a taxa é o valor da formação bruta de capital fixo (FBCF) vezes cem dividido pelo valor do PIB, uma vez que o denominador (o PIB) cresceu, a taxa terá que ser menor. A segunda parte da explicação está ligada ao desempenho da construção civil, bem pior do que estava calculado nas medições anteriores.

O peso da construção no ano-base de 2000, pela ótica da produção, que era de 8,7%, com a nova metodologia agregou números mais precisos e caiu para 5,5%. Pela ótica da demanda, onde está incluída a FBCF, o peso da construção caiu de 12,9% para 8,6% em 2000. A taxa de investimento daquele ano foi de 16,8% e não de 19,3% como estava anteriormente calculada. Menos mal que a participação das máquinas e equipamentos, a outra perna importante da FBCF, que subiu de 5,3% para 7,2% em 2000 e de 7,1% para 7,9% em 2005. Na composição do investimento, o peso da construção despencou, sendo agora menor do que o das máquinas.

A incorporação de dados que antes não eram utilizados no cálculo do PIB mudou também substancialmente o perfil dos serviços de informação, fazendo com que passassem a ter um peso maior no conjunto do PIB. Antes eram praticamente resumidos a telecomunicações. Agora perderam os correios, que representavam uma participação residual, mas somaram os serviços de informática e afins e os serviços de cinema, vídeo, TV, rádio e agências de notícias. Com isso, passaram de um peso de 2,6% para 3,6% no ano-base de 2000 e de 2,9% para 4,2% em 2005, refletindo melhor a explosão das comunicações nos últimos anos.

Os impostos sobre produtos também tiveram papel importante no aumento do peso dos serviços dentro do PIB. Em 2000, eles passaram de 12,2% para 15,4%, enquanto em 2005 a mudança foi de 12,1% para 16%. O recálculo do PIB pela ótica da renda mostrou também que os salários ganharam peso sobre o lucro bruto. Na série antiga a remuneração representava em 2003, último ano cuja totalidade dos dados está disponível, 35,6%, contra 43% do chamado excedente operacional bruto. Na série nova a remuneração cresceu para 39,5% e o lucro bruto caiu para 35,3%.