Título: Varig quer acelerar acerto de contas com governo
Autor: Carolina Mandl e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Empresas & Tecnologia, p. B2

O presidente da Varig, Carlos Luiz Martins, saiu ontem do Palácio do Planalto defendendo o acerto de contas entre a dívida da companhia aérea e a indenização bilionária que conquistou na Justiça. "Eu gostaria que essa possibilidade fosse analisada com bastante boa vontade pelo governo." O executivo havia se reunido com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. "Foi uma visita de cortesia, não discutimos assuntos técnicos", disse, acrescentando que as discussões para o saneamento do setor aéreo estão sendo conduzidas pelo Ministério da Defesa. Sabe-se que durante a reunião, Martins mostrou ao ministro a real situação financeira da Varig que, segundo ele teria dito, não tem sido divulgada corretamente pela imprensa. Martins teria dito também que as contas estão abertas para uma auditoria. No mês passado, a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu a favor do pagamento de indenização de R$ 2,23 bilhões à Varig por supostos prejuízos decorrentes do congelamento de tarifas durante o Plano Cruzado, entre 1985 e 1992. A dívida da empresa com órgãos do governo federal - como Receita e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está em US$ 1 bilhão e foi repactuada para ser paga em 18 anos. No acerto de contas sugerido, a Varig compensaria suas dívidas e, dessa forma, não teria desembolso. Restaria apenas o ônus de o governo se eximir de cobrar a dívida. Mas a Advocacia-Geral da União tem a intenção de recorrer da decisão judicial que beneficiou a Varig. O presidente do STJ, Edson Vidigal, já anunciou que vai intermediar um acordo com o governo. Martins ressaltou que, se uma solução não vier, a Varig terá de cortar rotas menos viáveis financeiramente. "Se as dificuldades continuarem, a Varig vai ter que se adaptar, emagrecer, e vai deixar de atender comunidades que precisam de aviões", afirmou. "A empresa não deixou as rotas menos rentáveis até hoje simplesmente por patriotismo." Questionado sobre até quando a companhia aérea suportaria essa situação de dificuldade financeira, o executivo respondeu: "Se Deus quiser, para sempre". Ele reiterou que a empresa precisa se capitalizar para resolver os problemas financeiros, mas não citou valores. E observou também que é necessário utilizar os instrumentos disponíveis no governo e no mercado para essa implementar essa capitalização. "O BNDES tem todo o fundamento para resolver problemas dessa natureza", salientou Martins. "Acredito que, no médio prazo, encontraremos uma solução."