Título: Investimento em TI deve alcançar US$ 11 bilhões
Autor: João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Empresas/Tecnologia, p. B3

Depois de passar três anos com o cinto apertado - um ciclo que se estendeu de 2001 a 2003 - a indústria de tecnologia da informação (TI) parece pronta para iniciar uma fase de expansão este ano, dando continuidade ao processo de recuperação iniciado em 2004. A previsão inicial da consultoria IDC, especializada na área, era de que os negócios cresceriam 6% em 2005 no país, mas os números estão sendo revistos. "A projeção não está concluída, mas a expectativa é de que o movimento pode aumentar 10% este ano", diz Mauro Perez, diretor de pesquisas da IDC. Se o cenário se confirmar, o investimento em TI chegará a algo em torno de US$ 11,3 bilhões. No mundo, serão gastos US$ 1 trilhão. No ano passado, o movimento já aumentou no Brasil. A previsão do IDC é de que a indústria tenha encerrado 2004 com US$ 10,3 bilhões em negócios, o equivalente a um crescimento de 11% em relação ao ano anterior. A diferença é que 2003 é uma base de comparação fraca - o mercado caiu 1% no ano -, o que não ocorre agora. "Claramente, o movimento esquentou", reforça Oscar Caipo, executivo-chefe da área de consultoria da BearingPoint. A empresa não definiu um número para 2005, mas com base nas previsões do próprio mercado, a expectativa é de que os investimentos vão crescer dois dígitos, afirma o executivo. O mais provável é que o crescimento fique entre 11% e 13%, ainda distante dos 20% do ano 2000, como querem os mais otimistas, avalia Caipo. Apesar de positivas, as previsões não justificam euforia, diz Perez, da IDC. "Um crescimento de 10% não é explosivo e tem de ser considerado como uma recuperação." Dependendo do setor de atividade, porém, algumas empresas podem ultrapassar a média prevista e aumentar seus orçamentos em 30%, afirma o analista, caso do setor financeiro e de áreas do governo. Empresas de vários setores confirmam esses prognósticos e prevêem orçamentos maiores sem, no entanto, tirar os pés do chão. Em geral, elas vão manter o percentual da receita líquida destinado à área de TI. Não há alterações sensíveis neste sentido. A boa notícia é que, com o aquecimento da economia, o valor absoluto deve crescer bastante. Na Gol, os recursos vão aumentar 40% neste ano, incluindo investimentos novos e gastos de manutenção. "Temos procurado nos manter na faixa entre 1,8% e 2,5% do faturamento previsto para o ano", diz Wilson Maciel, vice-presidente de TI e gestão. Na indústria, o percentual varia entre 1,5% e 4%, compara o executivo, sem revelar valores. No Banco do Brasil, o cenário é parecido. O plano é elevar o investimento em 25% este ano, para R$ 1,7 bilhão. "Percentualmente, vamos manter o investimento dos últimos anos", diz José Luiz Cerqueira César, vice-presidente de tecnologia e logística. O BB aplicou R$ 1,4 bilhão na área em 2003 e R$ 1,55 bilhão no ano passado. Na GM e na Petrobras, o investimento em TI também será semelhante ao de 2004 em termos percentuais - o equivalente a 1,8% das vendas líquidas projetadas no caso da montadora e de 0,3% na empresa de petróleo. Embora o foco do investimento varie de acordo com a atividade da empresa, três pontos vão ocupar o centro das atenções das grandes companhias este ano: mobilidade, em especial a telefonia via internet; governança corporativa; e, curiosamente, a volta dos softwares de gestão ou ERP. "A tecnologia de voz sobre internet estará na agenda de todos os executivos de TI nos próximos meses", diz Miguel Petrilli, vice-presidente da unidade de tecnologia do grupo IT Mídia, que edita publicações e faz eventos na área. "As próprias companhias telefônicas vão liderar este movimento, que também vai gerar dinheiro para fornecedores de equipamentos como Cisco, Nortel, Avaya, Siemens e 3Com, entre outros", prevê o executivo. O benefício mais claro da tecnologia de voz sobre IP ou VoIP (voice over internet protocol) é a redução dos custos das ligações, mas as empresas acreditam que também podem acelerar os negócios com o sistema, principalmente com sua disseminação entre a equipe de vendas. A GM já iniciou o processo de implantação da tecnologia. Com ela, o usuário pode acessar seu ramal telefônico por meio de qualquer computador, bastando conectar-se à rede da empresa. O profissional pode atender às ligações, se estiver on-line, ou recuperar as mensagens deixadas. "Com o notebook, o pessoal de vendas, que vive nas concessionárias, terá um escritório portátil, com acesso ao próprio ramal", diz Mauro Pinto, diretor de tecnologia da GM. Outras empresas já enveredaram pelo mesmo caminho: a Gol já usa voz sobre IP para interligar a sede aos escritórios e o BB planeja usar a tecnologia internamente, com a implantação de sua nova rede neste ano, que vai servir para comunicação de voz, dados e imagens. Esse tipo de rede, aliás, é outra tendência para 2005. "A infra-estrutura de rede aumentou em 2004, com grande viés de convergência, e será ainda mais forte neste ano", diz Petrilli, da IT Mídia. A nova rede do BB vai unir 12 mil pontos e será montada pela Embratel e Telemar. As duas operadoras venceram o leilão público, que recebeu 845 lances e durou 24 horas. "Em três ou quatro meses, queremos interligar 20% das instalações que respondem por 80% dos nossos negócios", diz Cerqueira César. A internet continua atraindo a atenção das empresas. A Gol, que tem no sistema de reservas on-line um de seus principais diferenciais, antecipou a renegociação de seus contratos com os fornecedores desse tipo de tecnologia e renovou o acordo com a americana Navitaire. "Acertamos um contrato mais longo, agregamos valor e reduzimos os preços cobrados", diz Maciel, da Gol. Na GM, a internet é a base de um projeto de TV. "Em outubro, durante o Salão do Automóvel, em São Paulo, geramos um programa ao vivo, a partir do nosso estande", diz Pinto. Colocado na web, o programa atraiu 20 mil visitas ao site da empresa em dez dias. Agora, a GM estuda formas de usar o sistema para fortalecer a comunicação com seus 19 mil funcionários e apresentar novidades dirigidas aos consumidores, uma ação importante para a montadora, que foi pioneira na venda on-line de automóveis. O desenvolvimento de projetos também vai merecer atenção. Desde 1998, a GM investiu quase US$ 30 milhões na área, informa Pinto. O próximo passo será a abertura de uma sala de realidade virtual, no começo deste ano.