Título: Preocupado com críticas à política econômica, Meirelles procura Serra
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, Política, p. A9

Sem fazer alarde, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, tomou um avião em Brasília, na tarde de terça-feira, e foi a São Paulo encontrar-se com um adversário político do governo Lula: o governador de São Paulo, José Serra. Ex-companheiro de partido de Serra - antes de assumir o comando do BC, em janeiro de 2003, Meirelles foi eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás -, o presidente do BC pediu o encontro para tratar de um tema delicado: as críticas ácidas do tucano à política monetária.

Sem a presença de testemunhas, o encontro durou pouco mais de uma hora e aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Meirelles pediu a reunião depois de ler na imprensa depoimentos de Serra sobre a atuação do BC. Chamou sua atenção uma nota escrita pelo governador paulista, a pedido da jornalista Miriam Leitão, de "O Globo". O teor da nota foi publicado em fevereiro.

Nela, o político tucano chama a diretoria do BC de "incompetente" e "pouco corajosa" e diz que ela tem cometido "erros de análise econômica incríveis, por ideologia ou falta de estudo". Na visão de Serra, o Brasil tem hoje um déficit fiscal moderado (3,3% do PIB, em termos nominais) e inflação baixa. Não faz sentido, portanto, diz ele, o país ter uma taxa de juros básica (Selic) tão elevada (12,75% ao ano). "Isto é erro de economia, de análise econômica", vaticina. Serra não aceita a explicação de que a taxa é elevada por causa de incertezas jurídicas e marcos institucionais inadequados. Se fosse assim, advoga ele, as taxas de juros reais da Rússia, da China e da Argentina seriam muito maiores.

Outro argumento rejeitado por Serra é o de que os juros são altos por causa da falta de poupança agregada no país. "Estamos exportando capitais pela primeira vez na História. O que falta são oportunidades rentáveis para investimentos produtivos", diz ele, acrescentando que contribuem para isso a carga tributária de "péssima qualidade", o enfraquecimento das agências reguladoras e a insuficiência dos investimentos públicos ("devida em parte ao aumento exagerado dos gastos correntes").

Na avaliação do governador, a Selic criou um piso elevado para o retorno exigido dos investimentos produtivos. Isso dificulta a atração de investimentos privados em infra-estrutura. O peso dos juros altos no orçamento público diminui também a capacidade de investimento do setor público.

Por fim, Serra sustenta que a contrapartida dos juros altos é a "supervalorização do câmbio", fato que distorce os preços relativos da economia em relação ao exterior, barateia excessivamente as importações e encarece as exportações. Ele compara a situação brasileira à da Argentina, lembrando que, lá, o governo pode comprar todos os dólares necessários para impedir uma valorização muito forte do peso porque os juros são moderados, o que reduz o custo fiscal dessas operações. "No Brasil, isso é inviável. Face aos juros altos, o custo fiscal seria insuportável".

A preocupação de Meirelles em conversar com Serra é explicável. Desde o primeiro mandato de Lula, a oposição tem sido importante no apoio ao BC, uma vez que o PT, o partido do presidente, e vários setores do governo são hostis à autoridade monetária. Procurados pelo Valor, Serra e Meirelles não retornaram as ligações até o fechamento desta edição. (CR)