Título: ALL pretende investir R$ 1 bi após sanção da lei das PPPs
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Empresas/Infra-estrutura, p. B5

A América Latina Logística (ALL) não pretende pagar todo o arrendamento devido pelos próximos 22 anos de concessão da malha ferroviária sul, onde iniciou a operação em 1997. Não que ela tenha a intenção de dar o calote no governo. O que a empresa planeja é investir em obras de infra-estrutura os cerca de R$ 1 bilhão que ainda teria de desembolsar pelo trecho que administra. Com a sanção da lei das parcerias público-privada (PPP), na virada de 2004, a direção da operadora de logística colocou seu departamento de engenharia para trabalhar na atualização e finalização de projetos que considera prioritários, principalmente no Paraná. "Estamos fazendo o dever de casa. Quando a lei for regulamentada, queremos estar preparados para apresentar nossos projetos", disse o diretor de relações corporativas da ALL, Pedro Almeida. Segundo o executivo, no Paraná há três obras em estudo que, juntas, exigiriam investimentos de cerca de R$ 900 milhões, valor superior ao R$ 650 milhões aplicados pela empresa até agora em manutenção e conservação. Dois projetos estão em estágios avançados e cada um levaria cerca de dois anos para ser executado. Um refere-se ao contorno ferroviário de Curitiba, que teria 44 quilômetros de extensão e custaria R$ 100 milhões. Outro projeto prevê a construção de um trecho de 130 quilômetros entre Guarapuava e Ipiranga, na região central do estado, orçado em R$ 330 milhões. Ele substituiria o trecho em uso, cujo traçado é considerado ruim e perigoso, com curvas e custo de manutenção elevado. O terceiro trata da duplicação da linha férrea inaugurada em 1885 para ligar Curitiba ao Porto de Paranaguá, pela Serra do Mar. O trabalho chegou a ser iniciado pela Rede Ferroviária Federal, mas não foi levado adiante. O orçamento da obra não foi finalizado, mas Almeida acredita que ela exigirá investimentos superiores a R$ 500 milhões. O atual traçado tem 105 quilômetros e, o novo, 99 quilômetros. "Hoje não há grande necessidade de duplicar o trecho, mas precisamos olhar para a frente", justificou Almeida. Com a duplicação, a capacidade aumentaria em cerca de 130% e, como um dos argumentos, a empresa lembra que reduziria a fila de caminhões que todo ano se forma nas proximidades do Porto de Paranaguá, para escoamento de soja. Além destes, outros projetos estão em estudo tanto para o Rio Grande do Sul como para Santa Catarina, que completariam os valores devidos pela concessão. "Temos condições de viabilizar os recursos e fazer as obras", afirmou o executivo. O interesse da ALL em negociar com o governo é antigo, mas agora a empresa ganhou fôlego extra. Na companhia a discussão sobre as PPPs foi dividida em três capítulos: o da expectativa (período anterior à aprovação), otimismo (o atual, após a aprovação) e acontecimento (previsto para depois da regulamentação). Almeida informou que no ano passado a empresa enviou carta ao Ministério dos Transportes candidatando-se à realização das obras necessárias nas ferrovias do sul do país. As negociações, segundo ele, serão retomadas em breve, já que o governo federal considera as PPPs instrumento fundamental para novos investimentos em ferrovias, portos e rodovias. Para atender solicitações de aproximadamente 250 mil pessoas que vivem próximas aos trilhos e reduzir os acidentes com trens no perímetro urbano, a prefeitura de Curitiba chegou a assinar convênio com o governo federal e garantir recursos para a obra do contorno ferroviário, mas enfrentou problemas para obter a licença ambiental. Agora o projeto está nas mãos do governo do estado, que reservou R$ 10 milhões do orçamento de 2005 para desapropriações na região por onde passarão os trens. "É uma obra que se encaixaria bem nas PPPs", admite o secretário estadual para assuntos da região metropolitana de Curitiba, Edson Strapasson. Ele informou que agendou para a próxima semana uma reunião com representantes da ALL e da Cimento Rio Branco, do grupo Votorantim, para discutir o interesse das empresas na obra. Além de aumentar a capacidade de transporte no ramal, principalmente de cimento e calcário, de 4,5 mil toneladas diárias para 13,5 mil toneladas, a ALL tem especial interesse no contorno para melhorar a imagem que a população tem da empresa. Fotos de acidentes envolvendo trens da companhia com ônibus ou automóveis de passeio costumam ganhar destaque nos jornais, como aconteceu no início da semana, quando um trem-vagão chocou-se com um veículo num dos bairros da capital paranaense. "Como nosso trem é de transporte de cargas, não há uma identificação clara das pessoas sobre nossa função. Por isso surgem as críticas, ao contrário do que acontece com trens que transportam passageiros", disse Almeida.