Título: Banco do Sul divide latino-americanos
Autor: Watson, Julie
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, Internacional, p. A14

O plano do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de criar uma alternativa ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) expôs as crescentes diferenças entre os países-membros do banco regional, que encerrou anteontem seu encontro anual, na Cidade da Guatemala.

Enquanto, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, manifestava forte apoio ao BID, cuja sede fica em Washington, chamando-o de "o banco regional desta área", outros o criticavam por respaldar principalmente megaprojetos e não fazer o suficiente para ajudar os países da América Latina a distribuir as suas riquezas.

"O sistema financeiro internacional, que deveria ser um aliado dos Estados nacionais, não parece ter aprendido sua lição", disse o ministro da Economia do Equador, Ricardo Patiño, no encontro do BID. O atual sistema leva a uma concentração da riqueza da região nas mãos de poucos, às custas das legiões de pobres, segundo o ministro.

"É indispensável que um novo sistema financeiro seja estruturado e um novo código financeiro internacional seja estruturado", afirmou Ricardo Patiño.

O Equador juntou-se a outros governos latino-americanos esquerdistas e apóia os planos de Chávez de criar o banco para financiar a região e ampliar a integração econômica continental.

Argentina e Bolívia também se comprometeram a integrar a instituição, junto com a Venezuela, tão rica em petróleo. O governo brasileiro cogita juntar-se ao banco, mas as ofensivas para atrair o Brasil foram frustradas até agora.

Autoridades disseram que a meta é criar o banco com capital de US$ 7 bilhões. Inicialmente, a Venezuela já se comprometeu a aportar US$ 1 bilhão. O BID, criado em 1959, fornece mais de US$ 6 bilhões em empréstimos ao ano.

Muitos vêem o Banco do Sul como uma ferramenta para que Chávez confronte as agências multilaterais de crédito como o Banco Mundial e o FMI.

O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, disse estar satisfeito com a posição que o país tem na Comunidade Andina de Nações (CAN) e com a colaboração dada a ela tanto pela CAF (Corporação Andina de Fomento) quanto pelo BID.

Os defensores da idéia argumentam que a instituição dará maior autonomia para região, frente aos EUA, para financiar o desenvolvimento na América Latina. "Estamos em uma ofensiva", disse o ministro das Finanças da Venezuela, Rodrigo Cabeza. Ele disse ter se reunido com os pares da Argentina e Brasil durante o encontro do BID para discutir a criação do Banco do Sul.

Patiño afirmou que o Equador pretende contribuir com algo entre US$ 50 milhões e US$ 80 milhões para a instituição.

O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, disse ontem que pretende colocar suas reservas internacionais no Banco do Sul, como forma de capitalizá-lo, mas só o fará depois que estiver pronto um estudo indicando que é conveniente aderir à iniciativa.

Os sócios do novo banco de desenvolvimento planejam encontros em Buenos Aires e Caracas "nos próximos dias" para começar a traçar a estrutura do banco, segundo Patiño.