Título: Aos infiéis, as sobras
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2010, Política, p. 2

Partidos que deram apoio informal ou duvidoso a Dilma herdarão pastas menos "glamorosas"

Os dois partidos que apoiaram a presidente eleita, Dilma Rousseff, apenas informalmente durante a campanha, vão ficar com as ¿sobras¿ do que for negociado com as grandes legendas. ¿Nós pedimos o ministério do Turismo, mas corremos o risco de sermos prejudicados porque o PTB esteve na aliança de José Serra¿, comentava ontem o líder petebista, deputado Jovair Arantes (GO), com ares de derrota.

O PP está no mesmo problema. O partido deseja manter o Ministério das Cidades, cargo que já foi oferecido ao PMDB. A bancada, de 41 deputados, mesmo número do PR, não tem como brigar porque não fechou oficialmente com Dilma e esse tem sido um critério na hora de definir os espaços de cada um no governo. Informalmente, os deputados têm dito que vão aguardar, mas sabem que dificilmente ficarão com a pasta. Afinal, os pepistas acreditam que o PMDB, embora diga não ter interesse em ficar com a vaga do seu colega de bloco parlamentar, não terá como recusar um posto tão vistoso se for esse o que couber mesmo aos peemedebistas.

Nem o PR, que esteve com Dilma durante toda a campanha à Presidência, conseguiu garantir seu espaço de poder intacto. Em conversas reservadas, há quem diga que a ideia da presidente eleita é tirar o Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), onde está hoje Luiz Antonio Pagot, da negociação política. A intenção é trocar as indicações ali ¿ assim como nos Correios ¿ por nomes técnicos. No caso do Dnit, o PR vai estrilar. Exageros à parte, os deputados do PR comparam o recebimento do Ministério dos Transportes sem o Dnit como viver num corpo sem alma.

Fila Em relação ao Dnit, entretanto, o PR não terá uma resposta imediata. A equipe de transição colocou como prioridade fechar o espaço de cada partido nos ministérios para depois cuidar das autarquias, das estatais e das agências reguladoras. Nem mesmo os cargos vagos ¿ como, por exemplo, uma diretoria da Agência Nacional do Petróleo (ANP) ¿ serão preenchidos agora. Ficará tudo para 2011.

Antes da posse, Dilma terá que resolver o espaço dos pequenos partidos. E, pelo visto, nem mesmo o Ministério da Pesca vai sobrar. Ele foi oferecido à senadora Ideli Salvatti, do PT, candidata derrotada ao governo de Santa Catarina. Hoje, a pasta é ocupada pelos adversários de Ideli no estado. Mas esse, dizem os integrantes da equipe de transição, é um problema que o PT catarinense terá que resolver sozinho. Afinal, se Ideli recusar, pode perfeitamente sair do PT para entrar na ¿repescagem¿ para abrigar aqueles que apoiaram Dilma, mas não lhe deram o tempo de TV, caso do PP e do PTB.