Título: Calçadista teme valorização prolongada do real
Autor: Sérgio Bueno e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas/Indústria, p. B7

Depois de encerrar 2004 com US$ 1,806 bilhão em exportações, 17% acima do ano anterior e o melhor resultado desde os embarques de US$ 1,846 bilhão registrados em 1993, a indústria calçadista está cautelosa em relação às vendas externas em 2005. Conforme a Abicalçados, associação que reúne as empresas do setor no país, o desempenho pode variar de uma queda de 10% até um crescimento de 15% dependendo da cotação do dólar ante o real. Segundo o diretor-executivo da entidade, Heitor Klein, o pior cenário é aquele em que o dólar permaneça cotado na faixa de R$ 2,70 e o melhor, se a moeda americana retomar o patamar de R$ 3 a R$ 3,10. O teste de fogo será em fevereiro, durante a feira de Las Vegas, principal evento do setor nos Estados Unidos, que absorve quase 60% das exportações brasileiras. Para o vice-presidente da Abicalçados, Ricardo Wirth, o problema é que as indústrias precisam fazer reajustes, em dólar, de no mínimo 10% nos preços para compensar a defasagem entre a desvalorização da moeda americana, de um lado, e o aumento dos insumos em reais, de outro, durante os últimos meses. "Isso pode criar resistências do mercado ao calçado brasileiro", explica. Nas previsões da fabricante Azaléia as exportações da empresa, que em 2004 cresceram 5%, irão cair neste ano. "O ano passado já foi o pior em termos de rentabilidade dos últimos cinco anos por causa do câmbio", diz Paulo Santana, diretor de marketing da Azaléia. A Sândalo, de Franca (SP), também já trabalha com um dólar mais fraco em relação ao real. "Estamos buscando ativar o mercado interno porque acreditamos que as exportações não vão crescer neste ano", afirma Carlos Brigagão, presidente da Sândalo, que exportou 10,2 milhões de pares em 2004. O executivo prevê que o consumo brasileiro de calçados crescerá 10% neste ano. A Abicalçados não tem estatísticas sobre o desempenho do mercado interno, mas, segundo Klein, a "sensação" é de que assim como em 2004 também haverá algum crescimento de vendas neste ano. "Isso em função da estabilização da economia e do aumento da renda da população", comenta. Para tentar manter as exportações no mesmo nível do ano passado, Brigagão explica que procurará mais os clientes europeus, que geram receita em euro. Hoje, 70% das exportações da empresa são para os Estados Unidos. O objetivo é reduzir para 50%. Esse também será o esforço da Democrata. A empresa montará neste ano uma mini fábrica na Itália para produzir calçados mais artesanais destinados ao consumidor europeu. Serão feitos cerca de 100 pares por dia com 25 funcionários. "Isso pode amenizar a diferença cambial", diz David Gonçalves, diretor de marketing da Democrata. Independente do câmbio, a Calçados Bibi, de Parobé (RS), prevê aumentar em mais de 20% as exportações em 2005, para mais de 1 milhão de pares e US$ 7 milhões, explica a gerente de exportações, Andrea Kohlrausch. Em 2004, os embarques para mais de 55 países avançaram 24% em volume, para 900 mil pares, e 45% em receita, para US$ 5,7 milhões. Segundo a executiva, a estratégia da empresa é estabelecer "parcerias de longo prazo" com os clientes internacionais, exportando apenas com marca, tecnologia e design próprios. A estimativa da Abicalçados é que a produção brasileira do setor tenha atingido 700 milhões de pares em 2004, ante 665 milhões em 2003. Até novembro, as exportações haviam evoluído de 170 milhões para 192,1 milhões de pares.