Título: Bancos e montadoras resistem à mudança na tributação de pessoal, diz Marinho
Autor: Salgado, Raquel e Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2007, Empresas, p. A3

Bancos e montadoras de veículos foram os dois setores citados pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que mais resistem à mudança da tributação para aliviar a folha de pagamento das empresas. A alteração levaria essa carga para o valor agregado aos produtos ou ao faturamento das empresas. A idéia defendida ontem por Marinho é enfrentar o assunto para que o debate não seja "hipócrita".

Marinho afirmou que o país precisa discutir essa polêmica e que, sem um acordo em bases mínimas, o governo não pode mandar um projeto ao Congresso. "Temos provocado o debate. Sem acordo na sociedade nada vai andar no Congresso", admitiu Marinho.

"Se não enfrentarmos essa questão vamos ficar com um debate um pouco hipócrita. Todos falando favoravelmente, mas nunca acontecendo. Não será possível cortar os impostos no patamar que os empresários desejam. Eles querem investimentos em infra-estrutura, saúde, educação etc. Nós estamos fazendo, retomamos o investimento no ensino técnico, mas o Estado precisa de orçamento e precisa de impostos", argumentou o ministro.

A proposta defendida por Luiz Marinho beneficiaria os setores que usam mão-de-obra intensiva como, por exemplo, construção civil, têxtil e de vestuário. Por outro lado, a mudança é combatida por quem mais investiu em tecnologia e reduziu custos com pessoal.

"Temos muitos empresários que reclamam dos encargos da folha, mas, dependendo do setor, são favoráveis. Muitos dos que reclamam não aceitam a tributação sobre o faturamento. Bancos e, provavelmente, as montadoras são setores que investiram em tecnologia e são contra. Desempregaram, mas não querem a mudança", afirmou Marinho.

Toda essa polêmica é tida como inevitável pelo ministro do Trabalho porque dela depende o processo de formalização da mão-de-obra. Na avaliação do ministro, seria mais justo transferir para o faturamento a tributação que atualmente pesa sobre a folha de pagamento. Isso também traria, na opinião de Luiz Marinho, um melhor ambiente de competição entre as empresas.

A assessoria da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que seus dirigentes não comentariam as declarações do ministro do Trabalho. Mas informaram que 60% dos custos dos bancos são com mão-de-obra. O Brasil tem aproximadamente 400 mil bancários e esse nível de emprego vem sendo mantido, segundo a entidade, há cerca de dez anos.

Não foi possível um contato com a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). (AG)