Título: Brasil e Canadá unem-se para investir em P&D
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, Empresas, p. B7

Representantes dos governos do Brasil e do Canadá assinaram ontem, em São Paulo, uma carta de intenções para criar um programa de cooperação tecnológica entre os dois países. Nos próximos três meses, o Ministério da Ciência e Tecnologia trabalhará junto com Departamento de Relações Internacionais do Canadá, para estabelecer as prioridades de um acordo bilateral, que incluirá desde intercâmbio de pesquisadores entre os países até a criação de um fundo para encubar projetos ligados à inovação tecnológica.

"O Brasil, ao lado de outros países em desenvolvimento, será um dos líderes globais no futuro, com uma economia fortemente baseada em conhecimento", disse Arthur Carty, conselheiro-chefe para Ciência e Tecnologia do governo do Canadá, em entrevista exclusiva ao Valor. "É importante que estejamos engajados com o país."

Segundo Carty, cuja função no governo do Canadá é similar à desempenhada pelo ministro de Ciência e Tecnologia no Brasil, o mercado de tecnologias da informação e comunicação (TIC) será uma das prioridades de colaboração entre os países. Outras pesquisas envolveram ainda assuntos ligados à biomassa.

País de onde saíram multinacionais como a Nortel Networks, da área de telecomunicações, a Cognos, especializada em sistemas empresariais, e a Research in Motion (RIM), que ganhou o mercado mundial com a venda de seu comunicador portátil blackberry, o Canadá emprega hoje mais de 500 mil pessoas apenas no mercado de informática e telecom, setor que conta com aproximadamente 30 mil empresas em operação. Em 2006, segundo dados do governo canadense, estas empresas movimentaram nada menos que US$ 130 bilhões, entre vendas internas e exportações.

"Assim como no Brasil, nossa economia é muito orientada pelo desempenho das pequenas e médias empresas, que um dia serão grandes", comenta Carty, que também é responsável por grupos de estudos do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá. "No entanto, sabemos que hoje nosso país gera apenas 4% de todo o conhecimento mundial. Os demais 96% estão espalhados pelo mundo. Por isso faz todo o sentido trabalharmos juntos."

Antes de apertar as mãos com o Brasil, os canadenses firmaram acordos semelhantes com países como Japão e Alemanha, além de nações em desenvolvimento, como China e Índia. Mas isso não significa que os projetos com o Brasil partirão do zero, argumenta Carty. "De maneira geral, já temos um mercado anual de US$ 4,7 bilhões entre Canadá e Brasil. Isso é muito maior do que os negócios que temos com a China ou a Índia."

Hoje o Canadá já é o destino preferido do brasileiro quando o assunto é aprimorar o idioma inglês. Há cinco anos, a quantidade de vistos emitidos para o país era mínima, diz François Lafond, conselheiro econômico da Embaixada do Canadá no Brasil. "No entanto, em 2006 foram cerca de 15 mil pessoas." O objetivo agora, acrescenta Lafond, é registrar o mesmo interesse na área de ciência e tecnologia.