Título: Em tempo de avanço e diversificação, fruticultura baiana já colhe até maçã
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, Agronegócios, p. B22

Um grupo de agricultores do município de Ibicoara concluiu em fevereiro a colheita de sua primeira safra de maçã. O fato seria corriqueiro se a produção da fruta não dependesse de 300 a 700 horas de temperaturas abaixo de 7,2 graus por ano - conforme a variedade do fruto - e se Ibicoara não ficasse em plena Chapada Diamantina, na Bahia, Estado no qual nem de longe se registra frio nessa intensidade para viabilizar a cultura.

O feito dos produtores de Ibicoara, distante 510 quilômetros de Salvador, ilustra um cenário de mudanças na fruticultura baiana, com crescimento da produção, da produtividade e da área plantada. Entre 2004 e 2006, a produção total de frutas no Estado passou de 3,7 milhões para 4,3 milhões de toneladas, um avanço superior a 16%. E o pólo de fruticultura irrigada de Juazeiro já começa a dividir os méritos com outras regiões do Estado.

A primeira experiência de maçã baiana foi desenvolvida em Cascavel, distrito de Ibicoara. Foram colhidos 3 hectares, mas, no próximo ciclo, deverão ser colhidos 24 hectares da fruta, segundo Mauro Carneiro Bannach, diretor da Bagisa, empresa que atua na região há 20 anos e que se dedica à produção de batata e tomate.

A produção tornou-se viável com a utilização da variedade de maçã batizada como Eva, desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). O resultado da experiência foi bom, mas, segundo Bannach, a ausência do frio tornou a maçã baiana um pouco ácida - o que será revertido já na próxima safra. Quando colhido, o fruto será acondicionado em câmaras frias para um período final de maturação.

Ameixa, outra fruta típica de climas frios, também teve sua primeira safra colhida na região - foram 9 hectares. "O foco de nossa maçã é o Nordeste. A ameixa, que não tem demanda tão grande na região, pretendemos comercializar em centros como Belo Horizonte, Brasília e, principalmente, São Paulo", afirma Bannach. Em três a quatro anos, a Bagisa também pretende obter os primeiros resultados de experiências com tangerina de mesa, pêssego e pêra, que ainda estão em fase inicial de estudos.

Em 2006, a Bahia superou São Paulo e passou a liderar a produção brasileira de banana, com colheita de quase 1,2 milhão de toneladas. O Estado conseguiu controlar o mal da sigatoka negra, um dos mais devastadores para a produção da fruta, e, no ano passado, recebeu do Ministério da Agricultura o certificado de área livre da doença.

No último mês, o Estado realizou o primeiro embarque de banana para o mercado europeu. Os 98 sócios da Cooperativa dos Produtores de Frutas de Bom Jesus da Lapa e Região (Coofrulapa), que plantavam 600 hectares de banana prata, ampliaram o plantio em mais 600 hectares, dedicados à variedade banana nanica, totalmente voltados à exportação.

O primeiro embarque, de apenas três contêineres, teve como destino o inusitado mercado da Albânia. A logística da exportação está sendo ajustada, com treinamento de produtores e funcionários, para que, a partir da Albânia, a banana produzida na Bahia possa abastecer os países do leste europeu, diz Clériston Duarte, diretor administrativo da Coofrulapa.

"Não podemos apenas esperar pelo governo. Precisamos correr atrás. Quem puxa o barco é a gente", afirmou ele. A expectativa é de que os novos contratos na Europa elevem o volume da carga exportada para mil contêineres. Somados, os produtores de Bom Jesus da Lapa, a 778 quilômetros de Salvador - ligados ou não à cooperativa - têm cerca de 5 mil hectares de banana plantados.

O município, localizado no Vale do São Francisco, cultiva banana irrigada. A boa experiência com o fruto levou alguns produtores a uma nova experiência: o cultivo de cacau irrigado. "O principal diferencial vai ser a produtividade. Em vez de 30 arrobas por hectare, o cacau irrigado pode render até 150 arrobas", diz.

O projeto de cacau irrigado ocupa 70 hectares, mas ainda não houve colheita, já que as plantas estão em fase de desenvolvimento. Além de apresentar potencial para uma maior produtividade, o cacau irrigado de Bom Jesus da Lapa fica distante da ação do mal da vassoura-de-bruxa do cacau cultivado na região de Ilhéus, no litoral sul baiano - a distância entre as duas cidades é de 662 quilômetros.

O trabalho de monitoramento sanitário é tido como um dos trunfos para o aumento da produção e das exportações da fruticultura baiana. Entre 2005 e o ano passado, os embarques cresceram, em volume financeiro, 11,5%, para US$ 115,4 milhões, segundo o Centro Internacional de Negócios da Bahia (Promo). "O trabalho de acompanhamento das doenças cresceu, houve aumento dos desembolso do Banco do Nordeste (BNB) para financiamento e o setor está mais profissional", avalia Cássio Peixoto, diretor de defesa sanitária da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab).