Título: Gestão à brasileira
Autor: Durão, Vera Saavedra e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

Ao completar 14 anos, a Dynamo poderia estar no auge da adolescência. Mas, precoces como sempre foram, os meninos da gestora independente carioca dão passos de gente grande. Sem fazer barulho - como é do costume dos sócios Bruno Rocha, Luiz Orenstein, Pedro Damasceno e companhia -, eles se instalaram desde o ano passado na capital inglesa e solicitaram registro à Financial Services Authority (FSA), a CVM britânica, para atuar como gestores de fundos de ações tal como fazem aqui. O escritório, que já tem quatro pessoas e acaba de trazer Andrea Weinberg, analista da Merrill Lynch em Nova York, guarda outras semelhanças com o brasileiro.

Assim como desbravaram o Leblon, no Rio, onde se instalaram quando nenhum outro gestor tinha feito isso, eles escolheram um bairro praticamente residencial, o aprazível Chelsea, para começar a carreira londrina. A "sucursal" inglesa é a primeira a ser montada pela Dynamo, que nunca teve escritório em São Paulo. Com longa tradição de gestora de ações, a empresa manteve-se fiel ao projeto original e nunca lançou multimercados ou mesmo fundos de arbitragem com ações (long/short).

Personagem importante no desenvolvimento das práticas e conceitos de governança corporativa nas companhias brasileiras, a Dynamo tem outra peculiaridade: os sócios, entre seniores e juniores, estão todos juntos desde antes do início desta década. "Isso tem muito a ver com a nossa filosofia, somos pacientes, quando começamos, em 1993, falar em investimento de longo prazo no Brasil era algo muito exótico. Mas queremos fazer aquilo que sabemos e gostamos dessa idéia de ir construindo aos poucos e sempre juntos, sem muita rotatividade", diz Bruno Rocha, sócio-fundador e que desde o ano passado comanda o escritório em Londres.

O fundo estrangeiro já tem cerca de US$ 95 milhões, mas eles o consideram ainda em fase de teste. "Nem começamos a captação, estamos indo devagar, montando o escritório e nos ambientando", diz Rocha. No Brasil, a Dynamo administra R$ 2 bilhões, no total.

A idéia da incursão na capital inglesa, conta Rocha, é fazer "mais do mesmo". "Estamos fazendo lá o mesmo tipo de coisa que fazemos aqui, analisando companhias e setores de perto, buscando empresas com interesses alinhados e negócios promissores", diz. Segundo Rocha, a idéia de abrir em Londres a primeira "sucursal" da história da gestora nasceu da necessidade de abrir horizontes e fazer as análises de forma mais aprofundada. "É como acessar as informações em primeira mão e não em segunda, além disso, o mercado brasileiro tem um limite de tamanho, foi um caminho natural para ampliar o nosso leque de opções", diz Rocha.

O sócio Luiz Orenstein lembra que, apesar de a gestora ter ficado muito conhecida com o fundo ligado a questões de governança, esse aspecto é apenas um dos que devem ser considerados. "A governança não é um fim em si, o potencial do negócio é muito importante, não adianta ter a melhor governança do mundo numa empresa que não tem como crescer", diz Orenstein. Rocha lembra que o contrário também pode ser verdadeiro. "Uma péssima governança pode acabar destruindo o valor de um bom negócio, por isso, são coisas que devem ser avaliadas em conjunto".

Foi com essa filosofia que a Dynamo desenhou, geriu e encerrou com sucesso um dos fundos mais emblemáticos do mercado brasileiro, o Dynamo Puma. O fundo, segundo os sócios, captou R$ 270 milhões, em 1998, e tinha entre seus cotistas o BNDES e diversos fundos de pensão. O objetivo era criar valor e liquidez para algumas empresas nas quais esses cotistas detinham participação significativa, mas que tinham entraves de gestão ou não faziam uma comunicação efetiva com os analistas e investidores do mercado. Com isso, muitas vezes esses papéis estavam sub-avaliados.

Segundo Rocha e Orenstein, o Puma cumpriu seu ciclo com sucesso até 2005, quando foi encerrado após distribuir aos cotistas R$ 1,2 bilhão por meio de amortizações ao longo dos anos em que funcionou. "A taxa interna de retorno foi de cerca de IGP-M mais 21%", lembra Orenstein. Já o outro fundo da gestora, o pioneiro Dynamo Cougar, foi lançado em 1993 e existe até hoje, com a mesma filosofia de gestão.

O Dynamo Puma, assim como outros fundos semelhantes da Fator, Bradesco Templeton e Investidor Profissional, cumpriu papel relevante na melhoria das práticas de governança e no grau de transparência das empresas nas quais investiu e, por tabela, para outras do mercado brasileiro. As primeiras empresas a conceder "tag along" (parte do prêmio pago aos controladores em caso de venda da companhia) voluntário para as ações preferenciais - assunto que se mostra ainda atual e importante no mercado -, como a Ultrapar e a Saraiva, tiveram a participação de alguns deles no processo. Mas Orenstein e Rocha dizem que o desenvolvimento da governança foi conseqüência. "Estávamos apontados na direção certa dessa história, mas não inventamos nada, se os fundos com o nosso perfil eram novidade por aqui, em outros lugares do mundo já eram muito comuns", diz Orenstein.