Título: Universidades apostam na crescente demanda do mercado
Autor: Giardino, Andrea e Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2007, EU & Investimentos, p. D6

Na esteira da discussão sobre o superaquecimento do planeta e os impactos da sociedade moderna ao meio ambiente, as universidades brasileiras e instituições de ensino superior vêm criando cursos de graduação, especialização e pós-graduação. O mais recente é o de graduação em gestão ambiental, da Universidade de São Paulo, ministrado no novo campus USP Leste. Lançado em 2005, oferece 120 vagas e visa formar profissionais com visão crítica e multidisciplinar.

A idéia é permitir que os futuros gestores sejam capazes de equacionar as questões ambientais - fora e dentro da empresa -, e propor soluções aos problemas, por meio do conhecimento de instrumentos científicos e tecnológicos. Desenvolvendo, assim, profissionais que possam atuar junto a órgãos públicos e empresas privadas ou organizações governamentais.

Na Esalq de Piracicaba, a USP mantém desde 2002 outro curso de graduação em gestão ambiental, com duração de quatro anos e que já está em sua segunda turma. Lá são oferecidas 40 vagas e por ano tem uma relação média de 16 candidatos por vaga no vestibular, segundo Antônio Ribeiro de Almeida Jr., responsável pelo programa. "Com a abertura do curso na USP Leste, houve uma divisão de alunos nas duas unidades. Mas continuamos tendo boa procura", diz Almeida.

Dividido em três pilares - administração, ciências naturais e exatas e ciências humanas -, o curso quer preparar os alunos para a transformação da realidade ambiental e social. "Não se trata de formar meros gestores da imagem ambiental das empresas ou do governo. Eles precisam entender que esta é uma área chave na definição do futuro e investimentos relevantes devem ser feitos", explica Almeida.

De olho no potencial de mercado e nas lacunas de formação dos profissionais que atuam na área, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) lançou em 2004 a graduação em engenharia ambiental. "Por ser uma carreira nova e com a profissão reconhecida pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura só em 2000, até então, muitos tinham formação em engenharia civil ou sanitária", afirma Isaac Volschan, professor da graduação em engenharia ambiental da escola politécnica da UFRJ.

Com 25 alunos por turma, o curso vai colocar no mercado a primeira leva de engenheiros ambientais em 2008. Mas a procura tem se intensificado. No vestibular para este ano, foi o quinto curso mais disputado na universidade e, segundo o professor, deve atrair um número maior de alunos já que as questões ambientais , de saúde e segurança do trabalho crescem dentro das companhias. "As empresas buscam instrumentos que ajudem a prevenir desastres e controlar atividades industriais", diz.

Na UFRJ, a formação divide-se em duas vertentes: gestão ambiental pública ou privada - que envolve espaço físico, visão de modelos do processo produtivo e implementação de políticas públicas ambientais - e formação tecnológica ambiental. Nesse caso, o aluno aprende sobre metodologias de controle e prevenção dos agentes poluidores, além das formas de recuperação de áreas degradadas.

Já a Fundação Getulio Vargas de São Paulo foi além e criou em setembro de 2003 um centro de estudos em sustentabilidade, o GVces. "Na época, o tema não tinha tanta repercussão, era apenas uma tribo", diz Mario Monzoni, professor e coordenador do espaço.

O centro oferece um curso de especialização de 360 horas em gestão de sustentabilidade, cuja espinha dorsal se baseia no triple bottom line, o tripé da sustentabilidade - sociedade econômica, social e ambientalmente viável. "O CEO do futuro tem que ter compreensão maior do mundo", diz Monzoni, lembrando que mais de 40 profissionais de mercado e estudantes já se inscreveram para este ano. Além do centro de estudos, a FGV incluiu a sustentabilidade em sua graduação e mestrado. Segundo Monzoni, são disciplinas eletivas e têm lista de espera. (AG e BB)