Título: Questões locais influenciam na vitória de ACM Neto
Autor: Totti , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A21

Nem mensalão nem Bolsa Família, o que levou à Prefeitura de Salvador o deputado federal de terceiro mandato, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), 33 anos, foram razões muito locais: desde a péssima administração da cidade pelo atual prefeito, João Henrique Barradas Carneiro, ao uso de um helicóptero pelo governador Jaques Wagner para ir da residência oficial à sede do governo, ao custo diário de R$ 5 mil.

Dirigentes das campanhas de ACM Neto e Nelson Pelegrino (PT), 59 anos, deputado federal em quarto mandato, concordavam, ontem a noite, que questões menores influenciaram mais o eleitor indeciso do que o debate dos grandes temas nacionais, políticos ou econômicos. O ex-presidente Inácio Lula da Silva, duas vezes, e a presidente Dilma Rousseff, uma vez, quando vieram a Salvador, acabaram falando para os eleitores já ganhos pelo PT. E o mensalão só entusiasmou os militantes do DEM e do fraco PSDB baiano.

ACM Neto em sua segunda tentativa de chegar à prefeitura - para Pelegrino era a terceira - explorou muito bem as fraquezas do PT no trato do dia a dia dos chamados soteropolitanos. O PT participou do governo de João Henrique, então do PDT, nos seus quatro primeiros anos de governo, rompeu, e foi para a oposição. João Henrique se reelegeu com apoio do DEM e hoje apoia Neto, mas, em toda campanha, o PT não conseguiu apagar a imagem de ser o "inventor" do prefeito.

No caso do helicóptero, Wagner disse que seu antecessor, Paulo Souto, gastava R$ 30 mil por dia com a contratação de helicópteros. Souto respondeu que os helicópteros eram usados em trabalho de todo o governo. " Eu ia trabalhar cedo, de carro, às seis horas, quando a cidade não tinha trânsito", respondeu Souto. Wagner toma seu helicóptero por volta das 9 horas.

Outros pecados do PT no governo do Estado, já vinham sendo castigados desde o primeiro turno: os 115 dias da greve dos professores estaduais, a greve dos policiais que durou três semanas e semeou o pânico num cidade já violenta.

Neto, que mantém vivo o DEM no plano nacional, se revigora com um poder municipal importante, mas não parece pretender o governo do Estado já em 2014, para, segundo um de seus assessores, não passar pela rejeição de José Serra em São Paulo por causa do abandono da prefeitura no meio do mandato. Por enquanto, seu candidato ao governo é Gedell Vieira Lima, do PMDB.

Na Prefeitura, terá, desde já o apoio de cerca de 15 vereadores, num total de 43. Os partidos aliados de Wagner já tem 20 votos assegurados. E os restantes, que se declaram independentes, ficarão com quem oferecer cargos, à exceção dois eleitos pelo PSOL. E os cargos e outras benesses estão com o governo estadual, pois a prefeitura não tem dinheiro sequer para pagar as empresas contratadas para cuidar dos sinais de trânsito. Muito menos para tocar adiante as obras do metrô, em construção há 12 anos e que precisam de R$ 3,5 bilhões para sua conclusão.

O PT ainda mantinha esperanças de ganhar a eleição, mesmo quando o "Correio", jornal dos herdeiros do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, amanheceu com a manchete "Neto chega à eleição na frente: 55% x 45%", baseado em pesquisa do Ibope, encomendada pela TV Bahia, também da família. O comando da campanha de Pelegrino dizia confiar nos dados do Instituto Bahia, Pesquisa e Estatística (Bapesb), mais conhecido como DataNilo, por pertencer ao deputado Marcelo Nilo (PSD), presidente da Assembléia Legislativa e um dos líderes da base de apoio - 11 partidos - ao governador. O DataNilo tem um retrospecto de acerto em eleições recentes e apontava para o segundo turno um empate técnico, com vantagem para Pelegrino de 1,4%.

Apesar da acirrada campanha e da mobilização de militantes para o dia da eleição (a maioria paga a R$ 40 ou R$ 50, em ambos os lados) não houve incidentes graves nem muitas prisões por boca de urna. Desse atentado à legislação eleitoral encarregaram-se os próprios candidatos em sua chegada as respectivas seções eleitorais.

Com bandeiras, camisetas, bonés, gritos e palmas, adeptos de um e outro candidato invadiram os prédios onde funcionavam as seções eleitorais e também a própria seção de cada um. O alvoroço foi agravado pelo tradicional atropelo de cinegrafistas, fotógrafos, repórteres de rádio, de jornal e da mídia eletrônica. Os candidatos não participaram da balbúrdia, mas não pareceram, contrariados. Ou seja, tinham o domínio do fato, como está na moda.

Pelegrino prometeu chegar às 10 horas ao prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, seção 98 da 1ª Zona, chegou às 10h20 e só votou às 10h55, sem fila.

Neto votou a 200 metros de distância, na Faculdade de Administração - seção 205 -, separada da Faculdade de Direito por uma das ladeiras do campus da Ufba, mas situadas ambas em bairros diferentes, a primeira no Vale do Canela e a segunda na Graça. Neto chegou por volta das 11 e só conseguiu entregar seu título à mesária às 11h50. Enquanto os partidários de Pelegrino gritavam o nome e o número de seu candidato, os de ACM eram mais originais. Cantavam "Neeeto" no mesmo tom da torcida do Fluminense no Engenhão: "Nense". Outros gritavam "macho!".

Cerca de 30 militantes do PCdoB, com faixas e bandeiras, tentaram tumultuar a chegada de Neto e travaram um duelo de impropérios com correligionários do candidato do DEM. Houve empurrões, mas meia dúzia de PMs, presentes à chegada de Neto e não na de Pelegrino, evitaram incidente mais graves, com exceção de um policial que ameaçou cortar à faca o cabelo rastafari de um jovem do PCdoB.