Título: Produtividade cresce 2,5% na indústria em 2006
Autor: Salgado, Raquel e Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2007, Brasil, p. A3

A produtividade do trabalho na indústria brasileira cresceu 2,5% em 2006, percentual um pouco superior aos 2,3% do ano anterior. O ganho de eficiência da indústria, no ano passado, foi obtido pela combinação de estabilidade na quantidade de horas pagas e no emprego e um avanço de 2,8% na produção. Nos outros anos, emprego e atividade caminharam juntos. O desempenho da produtividade também foi bastante diferente entre os setores, o que, na avaliação de economistas, reflete a valorização do real em relação ao dólar e evidencia desequilíbrios no setor que devem perdurar em 2007.

O aumento da produção sem acompanhamento do emprego é um mecanismo de ajuste em cenários de mercado mais competitivo. Em algumas áreas, pode ser impossível ou insuficiente cortar outros gastos como matéria-prima e custos fixos. "Nem sempre ganhos de produtividade significam melhorias na indústria", afirma Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Os setores de máquinas e equipamentos, fumo e têxtil, por exemplo, optaram por essa saída no ano passado. Pressionada pela concorrência dos importados, a indústria têxtil conseguiu aumentar sua produção em 1,6%, mas, em contrapartida, reduziu em 1,5% a quantidade de horas pagas aos trabalhadores, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cruzamento entre a pesquisa de emprego - divulgada ontem - e a da produção, indica que a produtividade do setor subiu 3,1% em 2006.

Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), considera a elevação de 1,6% na produção do setor algo marginal. "O maior cliente do setor têxtil, que são as empresas de vestuário, continua sofrendo queda de produção e pessoal", argumenta. Para ele, o ganho de eficiência não é positivo, pois decorreu da "redução de empregos, fruto de uma conjuntura perversa em uma indústria altamente competitiva."

Como lembra Pimentel, em 2006, a indústria do vestuário, assim como outros setores, sofreu com o real valorizado. De um lado teve dificuldades para exportar e, de outro, bateu de frente com a concorrência dos importados, especialmente os produtos chineses. Pelos números do IBGE, a produção desse ramo foi reduzida em 5%, enquanto as horas pagas caíram 5,9%. O resultado foi a alta de 1% da produtividade. "É o ganho pelo lado negativo, que deve se repetir em 2007 caso não haja desoneração da produção, acordos internacionais com grandes blocos compradores e combate às mercadorias ilegais", avalia Pimentel.

Há, contudo, setores da indústria que têm mostrado um crescimento virtuoso, com bons resultados no emprego, nas horas trabalhadas e na produtividade. São exemplos as indústrias extrativa, metalúrgica, papel e gráfica e de máquinas e aparelhos elétricos. Essa última produziu 10,2% a mais em 2006, com um aumento de 7,7% nas horas pagas e de 2,3% na produtividade. Para Fábio Romão, da LCA Consultores, os resultados do ano passado indicam uma grande heterogeneidade no desempenho da indústria brasileira. Os ramos mais dependentes da renda, como o de alimentos, foram bem, enquanto os exportadores e intensivos em mão-de-obra caminharam a passos lentos.

O incremento de 7,3% das horas pagas no setor de alimentos foi mais do que duas vezes o mostrado pela produção (3,2%). A contratação, por sua vez, aumentou 8,2%. "O aumento do crédito disponível e da renda dos consumidores elevou a demanda de alimentos", diz Denis Ribeiro, economista da Abia, associação que representa o setor. Ele acredita que as contratações foram mais fortes nas micro e pequenas empresas. "O aumento da arrecadação dos menores vai para mão-de-obra, pois eles são mais intensivos", diz.

Com indicadores tão vigorosos de emprego, a eficiência do setor acabou cedendo 3,8%. Ainda assim, o resultado é visto com bons olhos pelo economista-chefe do Iedi. A avaliação de Pereira é que se as empresas estão contratando mais e pagando mais horas aos trabalhadores é sinal de que em breve devem realizar investimentos. Ele lembra que para aumentar a produção primeiro se aumentam as horas extras, depois o emprego e só mais tarde se pensa em expansão da capacidade. "Esse setor está produzindo em uma situação limite, de forma menos eficiente", explica.

Ao contrário da indústria de alimentos, a de móveis e madeira amargou resultados muito negativos ao longo do ano passado. A produção caiu 6,9%, as horas pagas despencaram 9,8% e o pessoal ocupado foi reduzido em 7,5%. A eficiência do setor cresceu 3,2%. Mas a expectativa é de que o jogo vire este ano. Domingos Sávio Rigoni, dono da Movelar, que produz móveis e ex-presidente da Abimóvel, espera que em 2007 a produção do setor cresça entre 10% e 12%, recuperando a queda de 11,65% vista em 2006. "Espero que o setor de construção deslanche e que o moveleiro pegue carona", diz.

Já o ramo calçadista está menos otimista. Embora sua produtividade tenha crescido 6,3%, bem acima da média da indústria, isso foi conseguido às custas de emprego e produção menores. "O ano passado foi tão ruim que é fácil 2007 ser um pouco melhor", afirma Jorge Donadelli, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca, e dono da Donadelli Calçados.

Ele não arrisca uma previsão para o ano, mas conta que as empresas estão buscando soluções para cortar gastos e serem mais competitivas. "Muitas demitiram. Agora estão tentando comprar matérias-primas importadas a preços menores e agregar valor aos produtos para evitar a concorrência chinesa", diz.

Na avaliação dos economistas, o cenário para 2007 não é muito animador. Como a conjuntura não deve se alterar significativamente, eles projetam mais um ano de desequilíbrio na indústria. "Estamos vendo uma recuperação da atividade, mas ela ocorre em um contexto em que o câmbio ou permanecerá nesse patamar ou valorizará ainda mais", diz Pereira. Isso significa que os segmentos pressionados por ele vão seguir assim e a assimetria de resultados tende a se ampliar. De qualquer forma, a indústria geral deve apresentar um comportamento melhor. A LCA projeta alta de 3,5% na produção industrial, contra 2,8% de 2006. A aposta é que os setores de máquinas e equipamentos e a construção civil sejam os carros-chefe desse movimento.