Título: Aumento robusto das importações ajuda a manter inflação sob controle
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2007, Brasil, p. A3

O crescimento robusto das importações ganha importância para explicar a dinâmica favorável da inflação na economia. A expectativa de expansão firme das compras externas é um dos principais fatores por trás das previsões otimistas de alguns analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano. O Credit Suisse estima um indicador de apenas 3,2% para 2007, bem abaixo do centro da meta, de 4,5%. O mercado, por ora, aposta num IPCA de 3,97%.

Os economistas do Credit Suisse ressaltam que importações em alta ajudam a manter a inflação sob controle por aumentar a concorrência no mercado interno, dificultando reajustes de preços. Além disso, as compras externas são importantes também para compensar eventuais desequilíbrios entre o crescimento da oferta e da demanda doméstica, dizem eles. Foi o que ocorreu no ano passado, quando o consumo cresceu bem acima da produção da indústria, sem que isso se traduzisse em pressões inflacionárias, tanto que o IPCA ficou em 3,1%. Por fim, importações elevadas "aceleram os ganhos de produtividade em alguns setores, com a absorção de tecnologia", escreveram os analistas do Credit Suisse, em relatório divulgado ontem.

O economista Paulo Miguel, da Quest Investimentos, também considera que o cenário benigno para a inflação é bastante influenciado pelo comportamento das compras externas. "A dinâmica das importações tem um papel fundamental nessa história", diz Miguel, que projeta um IPCA de 3,7% neste ano.

Para ele, está em curso uma mudança estrutural na economia. Com o ajuste das contas externas, diz, há uma percepção cada vez mais disseminada de que o câmbio deve ficar nos atuais níveis por bastante tempo. "Isso dá mais segurança para as empresas substituírem em sua matriz de fornecimento produtos nacionais por importados", afirma Miguel, que vê um dólar estável até o fim do ano.

Os economistas do Credit Suisse apontam o aumento da participação das importações na economia nos últimos anos. As compras externas, que equivaliam a apenas 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1996, devem terminar o ano correspondendo a 15,6% do PIB. Em 2008, essa proporção deve atingir 17%.

Essa expansão é importante, segundo o banco, por aumentar a concorrência com os produtores locais, pressionando para baixo os preços dos produtos comercializáveis internacionalmente (os tradables, diretamente influenciados pela taxa de câmbio). No ano passado, o destaque foi o crescimento de 24% das quantidades importadas de bens de capital e de 81% da de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos).

O aumento das importações é favorecido em grande parte pela perspectiva de um câmbio relativamente estável. Os economistas do Credit Suisse projetam um dólar de R$ 2,15 no fim de 2007 e também de 2008, o que também é fundamental para embasar as previsões de um IPCA de 3,2% neste ano e de 3,5% no ano que vem.

A aposta num crescimento bastante moderado da atividade econômica também ajuda a explicar as estimativas otimistas do banco para a inflação. O Credit Suisse acredita numa expansão do PIB de 3% neste ano, uma leve aceleração em relação aos 2,7% esperados para 2006. Essa previsão deixa claro por que o banco não teme eventuais pressões de demanda sobre a inflação, considerando possível que a taxa Selic, hoje em 13% ao ano, atinja 11,25% em dezembro - o mercado estima 11,5%.

O economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, é um pouco mais cauteloso quanto às perspectivas para a inflação em 2007. Ele aposta num IPCA de 4% neste ano, mas diz que a inflação pode ser menor do que essa, dependendo do nível do câmbio. A sua projeção leva em conta um dólar de R$ 2,15 a R$ 2,20 no fim do ano. Se a moeda americana ficar nos atuais R$ 2,10 ou abaixo disso, o IPCA pode muito bem cair abaixo de 4%, avalia. "A âncora da inflação continua sendo o câmbio."

O economista Adriano Lopes, do Unibanco, também projeta uma inflação de 4%. Ele não pensa, pelo menos por enquanto, em revisar sua estimativa para baixo, embora veja alguns fatores que podem surpreender positivamente daqui para a frente.

O nível do câmbio - que ele estima em R$ 2,20 em dezembro - é um deles. Lopes diz que os preços administrados (como tarifas públicas) podem subir menos do que se espera ao longo do ano. Ele lembra, por exemplo, que as cotações da gasolina e do óleo diesel estão 20% mais caras no Brasil do que no mercado internacional. Se as cotações do petróleo persistirem onde estão, pode haver uma redução dos preços dos combustíveis por aqui, o que ainda não está nas contas dos analistas.

Ainda que não tenha um cenário tão benigno para a inflação quanto o Credit Suisse, Lopes diz que as perspectivas para os índices de preços são muito favoráveis. A sua projeção de 4% está confortavelmente abaixo do centro da meta deste ano, estabelecido em 4,5%.