Título: Reação do crédito e a melhora das carteiras marcaram o ano passado
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Finanças, p. C2

O ano da retomada do crédito - assim a agência internacional de avaliação de risco de crédito Fitch Ratings caracterizou 2004, em relatório sobre o sistema bancário brasileiro ontem divulgado. Nem as incertezas macroeconômicas ou o aperto de liquidez dos bancos de pequeno e médio porte provocado pela intervenção no Banco Santos frearam a tendência. Conforme dados do Banco Central (BC), as operações de crédito cresceram 16,6% em 2004 até novembro; e 18,1% sobre novembro de 2003, expansão puxada pelas operações com pessoas físicas e com empresas de pequeno e médio porte. O diretor da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, espera a continuidade da tendência neste ano, caso não haja nenhuma surpresa. "Quanto maior for a estabilidade e a garantia de emprego, mais as pessoas tendem a consumir e se animam a se endividar; levando as empresas a também tomar recursos para produzir mais", afirmou Guedes. Os empecilhos ao crescimento foram superados. Para contornar o aperto de liquidez, "os bancos terceirizaram o crédito", disse Guedes, vendendo carteiras ou fazendo parcerias. Mas, como lembrou o analista, menos de 20% do mercado foi afetado uma vez que 55% das operações de crédito estão concentradas no Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bancos públicos que nada sofreram. Já os problemas macro, como a elevação dos juros americanos e a própria alta das taxas brasileiras não chegaram a impor entraves sérios. Os juros americanos fecharam o ano em 2,25% ao ano, ainda extremamente baixos. E a taxa básica no Brasil, que saiu de 16% em abril e fechou o ano em 17,75% ao ano, ainda assim ficou abaixo dos 20% de setembro de 2003. "Um céu de brigadeiro", disse Guedes. Com as margens pressionadas, os bancos ampliaram a oferta de crédito basicamente reduzindo as posições em títulos e valores. Nos doze meses terminados em setembro, os ativos totais do sistema bancário cresceram 13,3%, de R$ 1,264 trilhão para R$ 1,432 trilhão. Enquanto os ativos de liquidez (títulos e valores mobiliários, aplicações interfinanceiras e disponibilidades) aumentaram 6,5%, de R$ 529,9 bilhões para R$ 564,5 bilhões, as operações de crédito tiveram aumento de 17,5%, de R$ 524,3 bilhões para R$ 616,3 bilhões. "Os bancos estão fazendo o que é da própria natureza deles: emprestando e prestando serviços", afirmou Guedes. O diretor da Fitch notou também que a melhora da economia tornou mais saudável a carteira dos bancos. Os créditos de AA a C, as melhores classificações da escala de nove degraus do BC, aumentaram de 87% para 89,5% da carteira total entre setembro de 2003 e igual mês de 2004.