Título: Lula garante Ministério das Cidades ao PP e Marta deve ir para a Educação
Autor: Costa, Raymundo e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2007, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem que o PP manterá o Ministério das Cidades, cargo que era cobiçado pela ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Ela deve ficar mesmo com o Ministério da Educação, como deu a entender o próprio Lula na conversa mantida com o PMDB. Além do PP, o presidente também recebeu ontem os dirigentes do PDT. O partido será representado no governo, mas o presidente ainda não definiu qual será o ministério.

"O ministério é de vocês e o ministro é de vocês", teria dito Lula ao PP. O presidente ainda elogiou a atuação do atual ocupante do cargo, Márcio Fortes, elogiando-o por ser "competente" e "sério". O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), disse que gostou muito da conversa. O presidente teria dado demonstrado que o partido tem grande prestígio junto ao Palácio do Planalto. "O presidente nos tranqüilizou. Falou que não haverá tratamento diferenciado entre os partidos da base", disse o deputado. Já na véspera, em conversa com interlocutores, Lula havia demonstrado pouca disposição para declarar uma guerra ao PP por causa da reivindicação do PT, que preferia ter Marta em Cidades.

Na conversa com o PMDB, Lula assegurou que os deputados teriam o mesmo número de ministros que os senadores. Dois. Mas ressaltou que dois ministérios cogitados pelo partido já estariam ocupados: Transportes, para o qual o presidente pretende reconduzir o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), e o da Educação, que teria uma "ministra". O presidente não mencionou o nome de Marta Suplicy, mas ficou claro para os presentes que ele se referia à ex-prefeita.

Lula pediu para a bancada do PMDB na Câmara assumir a indicação do médico José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde, a exemplo do que fez o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O problema é que o PMDB da Câmara considera Temporão, que já ocupa uma das secretarias do ministério, uma indicação pessoal de Lula, que não representaria a bancada. Lula não falou, mas os pemedebistas saíram com a impressão de que a outra Pasta reservada para o partido será a da Integração Nacional. Para o cargo, pretende indicar o deputado Geddel Vieira Lima (BA).

Em conversa com outros interlocutores, o presidente traçou o mesmo quadro, mas sempre com a ressalva de que era o que estava pensando, não havia decidido nada. Mesmo porque tem problemas ainda não resolvidos. O ex-ministro e deputado Ciro Gomes (PSB-CE) gostaria de manter o atual ministro Pedro Brito na Integração Nacional. Uma das saídas analisadas no PT é a nomeação de Ciro para a Saúde. Os partidos aliados também manifestaram ao presidente uma avaliação "positiva" sobre o possível remanejamento de Walfrido Mares Guia do Turismo para o Ministério das Relações Institucionais.

Segundo Lula disse a um interlocutor, Walfrido pode passar para a coordenação política tanto no PTB, se resolver permanecer no partido e enfrentar o grupo do ex-deputado Roberto Jefferson, como no PSB, se resolver trocar de sigla. Seria uma operação casada com a indicação do novo líder do governo na Câmara, José Múcio, atual líder da bancada do PTB, e permitiria também ao presidente dizer que o PSB continua com dois ministérios - o da Ciência e Tecnologia e o da Integração Nacional. Os socialistas não reconhecem Pedro Brito como uma indicação sua - assim como Ciro, ele era do PPS quando foi nomeado - e reivindicam a cessão de dois ministérios.

Na conversa de ontem com Lula, o PP ainda insinuou que gostaria de contar com uma segunda pasta, que poderia ser a da Agricultura. Negromonte e Nélio Dias, presidente nacional do PP, disseram ao presidente que o partido tem o perfil para ocupar esse ministério. Lula não respondeu, mas Negromonte considerou a reação do presidente positiva. Os pepistas também reivindicaram alguns cargos em estatais perdidos no fim do segundo mandato de Lula. Gostaria de recuperá-los.

Além do PP, Lula também recebeu o PDT. Aos dirigentes dos dois partidos, disse que anunciará toda a reforma de uma vez. "O presidente nos disse que vai fazer toda a reforma de uma vez só. Não haverá conta gotas agora", disse ontem o presidente do PDT, Carlos Lupi. Lula voltou a dizer que terá toda a reforma pronta em 20 dias, como já havia adiantado ao PMDB na segunda-feira.

No encontro com os pedetistas, Lula ouviu que a legenda "não será problema" para o governo. "Disse que nosso apoio é em torno de propostas para o país. O PDT não reivindica e não vai reivindicar cargos. Se a pressão estiver muito grande por parte de outras forças, o presidente está à vontade para dar cargos ao partido", disse o dirigente.

Segundo Lupi, o presidente lhes disse que o PDT "é fundamental". Quando ouviu do partido que não precisava de cargos, Lula teria respondido, segundo Lupi: "Mas eu quero. Faço questão. Vocês são de fundamental importância".

O PDT, que já esteve na oposição, promete agora apoiar o governo. Até mesmo o senador Jefferson Peres (PDT-AM) anunciou que agora terá um comportamento de "apoio crítico" ao governo. "Mudei porque agora o partido não está mais na oposição", disse. "Quando todo mundo gritava pela aceleração da queda de juros, eu dizia que ele estava certo. Lula teve a lucidez de entregar a política econômica ao Banco Central e hoje ele sinalizou que isso não vai mudar. O Bolsa Família é um bom programa, embora ache que deveria ter uma porta de saída", afirmou.