Título: Mulheres em risco
Autor: Khodr, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2010, Brasil, p. 12

Dados divulgados no dia mundial de combate à doença mostram que cresce o número de casos entre representantes do sexo feminino

O aumento da incidência de Aids entre adolescentes, principalmente meninas, preocupa as autoridades do Ministério da Saúde. Dados divulgados ontem, durante a cerimônia de celebração do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, mostram que os casos notificados da doença aumentaram nos últimos anos e que as mulheres ocupam cada vez mais espaço entre os infectados. A análise apresentada pelo ministério ressalta que não há mais grupos definidos com maior probabilidade de transmissão, mas sim situações de risco de contágio. A boa notícia é que o número de bebês que contraem a enfermidade durante a gestação foi reduzido.

Diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco afirma que o país é líder em compra e distribuição de preservativos. Ele apoia a distribuição de camisinhas aos alunos nas escolas públicas, mas defende também que os estudantes sejam informados sobre sexualidade. ¿Os jovens sabem como se prevenir, mas têm a certeza de que nada vai acontecer com eles. Tem que se falar de HIV o ano todo, e não só hoje ou no carnaval¿, diz.

A taxa de incidência da doença ¿ número de casos a cada 100.000 habitantes ¿ entre os homens diminuiu nos últimos dez anos na maioria dos grupos etários. O número cresceu apenas naqueles com mais de 50 anos e entre os que têm 5 e 19 anos. Mas, entre as mulheres, a incidência apenas diminuiu no grupo de 20 a 29 anos. Segundo Mário Ângelo, coordenador do polo de preservação de DST/Aids do Hospital Universitário de Brasília, os adolescentes são mais vulneráveis, mas não por falta de informação. Para Ângelo, o exercício da sexualidade deve ser feito de forma saudável e com responsabilidade. ¿É preciso que família e escola incentivem mais discussões sobre sexualidade, tragam o problema para perto. O jovem pensa a Aids como um problema do outro¿, afirma.

O especialista se preocupa também com o fato de que a evolução da medicina na fabricação de medicamentos que proporcionam melhores condições de vida aos portadores da doença causem uma falsa sensação de cura. ¿Porque os medicamentos trazerem bons resultados, pensam que não precisam mais temer a doença. Mas o tratamento é difícil, traz efeitos colaterais e uma mudança de rotinas e comportamentos para toda a vida¿, alerta.

Fabrício Stocker, 20 anos, descobriu que estava com Aids há seis meses, quando foi fazer uma doação de sangue voluntária. ¿Na hora, fiquei sem reação, nunca pensei que poderia acontecer isso comigo¿. O estudante participou do Dia de Luta Contra Aids e quis mostrar o rosto para dizer que qualquer um está sujeito ao contágio, defender a prevenção e lutar contra o preconceito. ¿Sexo é bom, mas com camisinha e com responsabilidade¿, aconselha.

A taxa de incidência da doença em pessoas com mais de 60 anos passou de 6,7 em 1999 para 10,8 em 2009, entre os homens. Já entre as mulheres, o número subiu de 2,7 para 6,4. Ângelo explica que o aumento do tempo de vida dessas pessoas, aliado à melhora da qualidade de vida e de medicamentos que propiciam a atividade sexual, influencia o crescimento dos casos da doença.