Título: As melhores da Era Lula
Autor: Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Eu&, p. D1

Aplicar em ações no governo Lula foi, em termos gerais, um ótimo negócio. Alguns papéis chegaram a bater a inflação medida pelo IGP-M no período em mais de 600%, conforme estudo da Economática. Dezoito conseguiram superar com folga os juros do CDI no período. Quanto ao dólar, então, nem se fala: o ganho de quem comprou uma ação da Usiminas, por exemplo, em relação a quem comprou a moeda americana é de 1.117%. Para esse resultado, contribuíram a excepcional melhora dos mercados internacionais, que puxou os preços das commodities e de produtos básicos, beneficiando as exportadoras. O real bastante desvalorizado no primeiro ano do governo também ajudou. Não é por menos que os setores que mais se destacam são justamente exportadores, como siderurgia, mineração e alimentos. Os juros ainda altos para conter a especulação contra o governo e domar a inflação em 2003 acabaram também ajudando o setor de bancos, outro destaque. Em 2004, as instituições financeiras foram beneficiadas ainda pela recuperação econômica, que aumentou a demanda por crédito e compensou a queda do juro. Fernando Exel, presidente da Economática, lembra que sempre é arbitrário determinar critérios para definir as melhores ações e empresas em determinado período. No estudo, foram levadas em conta três variáveis principais, a alta da ação acima do CDI nos dois anos, o pagamento de dividendo em 2003 e 2004 e o crescimento do lucro (corrigido pela inflação medida pelo IPCA) em relação ao ano anterior em cada ano. Além disso, foram selecionadas apenas ações com liquidez, na média negociando mais de R$ 1 milhão por dia. Para Exel, o estudo mostra claramente que as estrelas do período são as ações de exportadoras. Ele destaca que o cenário maravilhoso para ações no governo Lula foi motivado por um quadro externo extremamente favorável, com o juro internacional nos menores níveis da história e o aquecimento das economias da Ásia elevando os preços das commodities. "Nunca foi tão fácil governar o Brasil", diz, lembrando que todas as bolsas latino-americanas bateram recordes de alta em 2004, beneficiadas pelos preços das matérias-primas. A continuidade do ganho, afirma Exel, vai depender em grande parte da manutenção do juro internacional em níveis razoáveis e dos preços das commodities. O chefe de análise do Banif Investment Banking, Nami Neneas, afirma que a primeira metade do governo Lula "deu sorte" de pegar a economia mundial em franco crescimento. "A alta dos papéis de empresas ligadas a commodities tem muito mais a ver com esse cenário externo do que com a lição-de-casa cumprida pelo governo." Sérgio Goldman, do Unibanco, chama a atenção para o fato de quatro das seis ações com o maior ganho serem siderúrgicas, ao lado da Vale, todas beneficiadas pela alta das commodities. No caso dos bancos, além do juro e do crescimento, o Banco do Brasil teve destaque pois aumentou o lucro em 2004. Já em Telemar, houve migração de ações PN para as com voto (ON), em meio aos boatos de eventual venda de controle. Cemig foi beneficiada pela troca de governo em Minas Gerais e Celesc pela melhora dos resultados operacionais.