Título: Problemas locais determinaram voto
Autor: Viana , Diego
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A26

O impacto neutro do julgamento do mensalão sobre as eleições municipais se explica pelo descolamento entre a maneira pela qual a população toma suas decisões eleitorais e sua rejeição a más condutas no governo, segundo Renato Lessa, cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A rejeição existe, segundo Lessa, e se expressa pelo fato de que o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, o ministro Joaquim Barbosa, foi alçado à condição de herói nacional. Mas o PT demonstrou ter força política para uma vida "pós-mensalão".

Para Lessa, outro aspecto relevante destas eleições é a constatação de que o governo petista não conta com uma oposição programática, que lhe oponha teses. Falta aos partidos de oposição um discurso que não seja tomado pela coalizão governista, que incorporou teses sociais e econômicas em geral associadas à direita.

Na avaliação de Jairo Nicolau, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a vitória do PT em São Paulo deve ser celebrada pelo partido, mas é importante relativizar o seu peso político para as eleições de 2014: "O fato de ganhar em São Paulo não é extraordinário", diz Nicolau, que também é autor do livro "História do Voto no Brasil" (Zahar). Para ele, há um descolamento da política local da nacional. "A vitória de Haddad é boa para o PT se organizar internamente e mostrar sua força política. Daqui a dois anos, o eleitor já se esqueceu disso", afirma.

Esse deslocamento também justificaria o pouco impacto do mensalão na decisão dos eleitores agora. "O estrago que o mensalão fez no PT foi em 2006, quando Lula foi para o segundo turno e a bancada do partido foi afetada. Na eleição local, o que está em jogo é a melhor gestão da cidade."

Uma das forças emergentes nessas eleições é o PSB, que apresentou uma liderança nacional: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mesmo assim, parece precoce para o professor que o partido lance candidatura para presidente já em 2014, sem equacionar a questão Rio-São Paulo.