Título: Área internacional e custos afetam lucro da Petrobras
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2007, Empresas, p. B6

As mudanças de rumo nas políticas de hidrocarbonetos de países vizinhos decorrentes de mudanças de governos, somadas a insucessos exploratórios, especialmente nos Estados Unidos, fizeram de 2006 um ano pouco favorável para a Petrobras na área internacional, apesar de, no geral, a companhia ter registrado o maior lucro da história de uma empresa latino-americana: R$ 25,9 bilhões, equivalentes a US$ 12,1 bilhões, com aumento de 9% sobre o ano anterior. Mais de R$ 1 bilhão foram gastos ou deixaram de ser incorporados ao lucro da estatal brasileira por conta desses revezes na área internacional.

A redução compulsória de 100% para 40% da participação da Petrobras em campos exploratórios ou de produção na Venezuela resultou numa redução de R$ 380 milhões no lucro bruto da empresa naquele país. O resultado líquido da estatal brasileira naquele país caiu de R$ 164 milhões para R$ 164 milhões de 2005 para 2006. O novo limite de participação decorreu da nova política para o setor do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez.

Na Bolívia, o aumento de 32% para até 82% da tributação sobre a produção de hidrocarbonetos (basicamente em gás) fez com que a Petrobras pagasse uma soma de R$ 210 milhões a mais de impostos sobre suas operações naquele país. O aumento da tributação foi determinado pela nova Lei de Hidrocarbonetos proposta pelo presidente Evo Morales e aprovada pelo Congresso boliviano no primeiro semestre do ano passado.

Em decorrência da mudança, o lucro da estatal brasileira na Bolívia caiu de R$ 250 milhões para R$ 57 milhões, segundo dados fornecidos ontem pela empresa.

O terceiro revés internacional foi uma circunstância natural da operação de uma petroleira e não tem viés político. Um grande número de perfurações feitas, especialmente nos Estados Unidos, mas também em países como o Irá e Bolívia, resultou em poços secos. Isto, somado a despesas com a atividade sísmica, geraram gastos de R$ 570 milhões.

Já a produção de óleo da Petrobras fora do Brasil caiu 20%, de 163 mil para 130 mil barris por dia, ainda sob impacto das mudanças na Venezuela. Houve ainda a valorização do real em relação ao dólar norte-americano que reduziu o faturamento nas exportações da estatal e aumentaram os gastos nas importações.

Os números do quarto trimestre do ano passado também ficaram muito abaixo das expectativas do mercado, que variavam de R$ 5,5 bilhões a até R$ 6 bilhões.

O lucro líquido da companhia atingiu R$ 5,2 bilhões entre outubro e dezembro, quando os preços do petróleo caíram do pico de quase US$ 80 o barril. O valor foi quase R$ 3 bilhões menor do que o do quarto trimestre de 2005 (R$ 8,1 bilhões) e 27% inferior ao do trimestre imediatamente anterior (R$ 7,08 bilhões).

A direção da Petrobras destacou três aspectos como determinantes do lucro inferior ao esperado. Um deles é o fato de a empresa ter refinado de outubro a setembro os estoques de óleo comprados no trimestre anterior, quando o produto estava mais caro. Outro foi a redução do valor das exportações com a queda da cotação do óleo. E ainda o aumento dos gastos com pessoal resultante do acordo coletivo dos petroleiros ocorrido em setembro (12% para o pessoal da ativa).

"O mercado vai querer entender o quanto do aumento de custos está relacionado com eventos não recorrentes como o dos estoques", disse Felipe Cunha, analista da Brascan Corretora. Ele considerou surpreendente o aumento de despesas e destacou, além do acordo coletivo, aumento do número de colaboradores e gastos com patrocínios culturais incentivados pela Lei Rouanet.

As despesas gerais e administrativas cresceram R$ 269 milhões, segundo o relatório da Brascan, incluindo R$ 92 milhões com "serviços relativos a assessoria/consultoria técnica e apoio administrativo". Para a equipe de analistas do Credit Suisse, "o resultado da Petrobras desapontou novamente".

Outra analista, Mônica Araújo, da corretora Ativa, disse que os números do quarto trimestre "mais uma vez decepcionaram, principalmente nas margens operacionais que vieram pressionadas por aumento de custos".

Apesar dos aspectos negativos, o resultado de 2006 foi intensamente comemorado pelo diretor Financeiro e de Relações com os Investidores da estatal, Almir Barbassa, encarregado da divulgação dos números: "É um prazer estar aqui para anunciar o maior lucro da história da Petrobras", disse Barbassa.

A receita operacional líquida da estatal alcançou R$ 158,24 bilhões (mais 16% sobre 2005) e o lajida, que é o lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações, chegou à marca de R$ 52,06 bilhões (mais 8,9%), o que, segundo Barbassa, dá conforto para o plano de investimentos de R$ 55 bilhões neste ano. A produção interna de petróleo alcançou 1,778 milhão de barris por dia, com aumento de 6% sobre 2006.